Arte: Pedro Vinicio
Por Gabriel Gonçalves* e Geovana Nogueira**
Quando te perguntam sobre arte, talvez a primeira coisa que vem à sua cabeça são os grandes museus e galerias com obras de grande valor histórico – a famosa Gioconda, de Leonardo Da Vinci ou a Noite Estrelada de Vincent Van Gogh. Essas são, sim, grandes representações da arte, mas não podemos categorizar apenas essas grandes obras (que são conhecidas mundialmente) como a ‘única’ arte ou como a arte ‘certa’.
O mundo tem estado em constante evolução e a arte tem acompanhado toda essa mudança muito rapidamente – não só têm sido criadas novas maneiras de se expressar artisticamente, como também os lugares onde essas obras circulam têm se modificado.
Mesmo que novas formas de arte e de distribuição estejam surgindo a cada dia, a falta de acesso a meios e equipamentos artísticos para as pessoas mais vulneráveis ainda têm tido um grande aumento nos últimos anos. Em uma pesquisa feita pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2010, a respeito do acesso à cultura, 56% das pessoas entrevistadas apontaram que existe uma barreira social imposta ao público que frequenta espaços culturais, citando também o alto preço de ingressos e a localização dos equipamentos culturais; 62,6% percebem equipamentos culturais distantes dos territórios onde moram.
Todos esses dados, mesmo que relativamente antigos, não estão tão distantes dos dias atuais e nos mostram como ainda são grandes e estruturais as desigualdades em relação ao direito à cultura e ao lazer no Brasil. Talvez, uma possível solução para esse dado estaria em pensar uma inclusão maior e reinventar as maneiras de produzir arte no nosso país.
A pandemia causada pelo novo coronavírus, ressignificou os sentidos, o papel e as possibilidades da internet, mostrando que não precisamos estar em Paris para visitar o Museu do Louvre e nos possibilitando, também, conhecer diferentes artistas e tipos de arte através das redes sociais. O Instagram, por exemplo, tem se tornado uma das principais plataformas para divulgação de trabalhos nos últimos anos. Quando falamos de espaços artísticos, não imaginamos que uma simples rede social pode ser palco para arte, mas jovens como Pedro Vinicio, de 15 anos, nos mostram que podemos sim reinventar as formas de fazer e distribuir arte.
Com um perfil criado no início da pandemia, o jovem que já chegou a produzir dez desenhos digitais por dia tem crescido no Instagram, contabilizando mais de 250 mil seguidores nesta rede social. Com seus desenhos e pensamentos que refletem o cotidiano, o jovem artista ficou conhecido como o “guru do Brasil na pandemia”. Hoje ele prefere produzir menos desenhos e focar nos estudos, enquanto a família administra sua carreira de artista digital.
Ele esteve em um encontro com jovens participantes da ação Juventudes: arte e território, do Sesc São Paulo, e falou sobre seu crescimento nas redes:
“Não imaginava que poderia crescer tanto, fico feliz que meus sentimentos são compartilhados com outras pessoas. (…) Me surpreende muito o meu perfil no instagram ter mais seguidores do que habitantes na cidade que eu moro.”
Embora trabalhe com a imagem, Pedro escolheu não ter seu rosto conhecido nas redes sociais. Mesmo tendo milhares de seguidores, o jovem tem poucas fotos de seu rosto no perfil e diz “não se ver como artista”. O que não muda o fato de que,a partir de seu território – Garanhuns, cidade de 145 mil habitantes em Pernambuco – ele vem alcançando o mundo ocupando um espaço na internet – que também é em si um território -, ainda que não tenha traçado uma estratégia específica para crescer virtualmente.
Apesar das redes terem se tornado um lugar hostil para muitas atividades, afetar a saúde mental de adolescentes e jovens, e, ainda termos de enfrentar inúmeros problemas em relação à segurança dos dados na internet, sabemos o importante papel que a tecnologia tem para as artes e a cultura em geral. A internet e as redes sociais, mesmo que ainda existam desigualdades de acesso e conexão, têm nos possibilitado estar mais perto dos artistas, seus processos de criação e sua arte.
Assim como Pedro Vinício, muitos artistas vêm desbravando esse território virtual e fincando bandeiras que representam o desejo de democratizar o acesso à arte, junto com o intenso trabalho de provar que arte não é apenas o que está dentro de museus e galerias, restrita aos olhos de quem tem mobilidade, dinheiro e tempo para lazer e cultura.
*Gabriel Gonçalves é formado em Produção Audiovisual e Multimídia pela Escola Técnica Estadual Jornalista Roberto Marinho (ETEC). Tem 19 anos, é morador do Jardim Ângela, extremo sul de São Paulo, e co-fundador do Coletivo FilmaQuebrada.
**Geovana Nogueira tem 18 anos, mora na zona sul de São Paulo e é estudante em busca do sonho de cursar Direito para representar as lutas nas quais acredita e contribuir com a sua quebrada.
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Esse texto faz parte da cobertura educomunicativa da edição 2021 da ação Juventudes – Arte e Território do Programa Juventudes do Sesc São Paulo. Um grupo de jovens da Viração Educomunicação acompanhou a série de encontros virtuais com artistas e coletivos proposta e compartilhou algumas das reflexões e atravessamentos provocados a partir destes encontros em textos e peças gráficas.
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