A DONA DA VOZ | Depoimento de Zezé Motta

31/05/2022

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 Leia a edição de junho/22 da Revista E na íntegra 

CANTORA E ATRIZ, ZEZÉ MOTTA DESAFIOU PRECONCEITOS, RECEBEU PRÊMIOS E HOJE CELEBRA MAIS DE 50 ANOS DEDICADOS À ARTE

Neste mês, a Rainha Negra – alcunha que recebeu pelo pioneirismo na luta antirracista no país – completa 77 anos, esbanjando a mesma vitalidade e bom humor que a acompanharam ao longo de mais de meio século de carreira. Batizada Maria José Motta de Oliveira, Zezé Motta nasceu em Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro), em 1948, e começou a carreira de atriz em 1967, estrelando a peça Roda viva, de Chico Buarque, sob direção de José Celso Martinez.

Dez anos depois, ficaria para sempre reconhecida pela personagem-título em Xica da Silva (1976), premiado longa-metragem de Cacá Diegues. Poucos sabem, mas desde a década de 1970 a artista já se dedicava à música, linguagem na qual também mostra seu talento e versatilidade com o show Coração Vagabundo – Zezé canta Caetano. Realizado pela primeira vez em 1990, o espetáculo ganhou nova roupagem e foi apresentado em maio passado, no Sesc Pompeia, com participação da cantora Daúde.

No palco, a artista volta a interpretar um de seus cantores e compositores do coração. O mesmo que, aliás, tomou-a de inspiração para compor a canção “Tigresa”, do álbum Bicho, de 1977. “Eu tenho uma coisa pelo Caetano e, apesar de sermos amigos, eu ainda tenho essa coisa de idolatria com ele. E quando eu soube que ele poderia ter feito ‘Tigresa’ para mim, eu não acreditei. Eu morro de vergonha, mas é real”, conta ela. Além da verve musical, Zezé Motta se mantém ativa em programas na televisão, séries em plataformas de streaming sob demanda ou escrevendo colunas em revistas. Neste Depoimento, a atriz e cantora fala à Revista E, do seu camarim, sobre longevidade, racismo e sonhos. 

SOBRENOME VERSATILIDADE 

As pessoas me perguntam muito como é que eu dou conta de tantos projetos. Não tem muito mistério, mas claro que tem um segredo: disciplina e uma boa equipe. Esse show, em que eu interpreto canções de Caetano Veloso, veio de uma ideia que surgiu há muito tempo. Acho que há três anos, eu tinha feito só um show e fiquei apaixonada pelo projeto, mas, por algum motivo, ele não aconteceu. Aí, depois, programamos e chegou a pandemia. Agora que as coisas estão se acalmando, estou retomando esse sonho antigo. 

MUSA DO MUSO

Eu tenho uma coisa pelo Caetano e, apesar de sermos amigos, eu ainda tenho essa coisa de idolatria com ele. E quando eu soube que ele poderia ter feito “Tigresa” para mim, eu não acreditei. Eu morro de vergonha, mas é real. Até que três anos atrás, ele deu uma entrevista para O Globo confirmando que a “Tigresa” sou eu. Mas eu me lembro que assim que ele fez, ele dizia que era Sônia Braga, Dedé… Até se confirmar. 

TEMPO, TEMPO, TEMPO

Eu acho que o segredo para essa coisa do tempo e do envelhecimento é não se permitir envelhecer. Se você está sempre na atividade, e tem uma vida dinâmica, não dá tempo para ficar velho. Eu aprendi isso com minha mãe. Ela morreu aos 95 anos, mas muito bem, graças a Deus, e só nos dois últimos anos de vida, ela deu uma caidinha. Me lembro das pessoas perguntando para ela: “Dona Maria, a senhora não vai ficar velha, não?”. E ela respondia: “Não tenho tempo, minha filha”. Eu estou seguindo essa linha que é produzir muito, sonhar muito, me apaixonar sempre pela vida, pelas pessoas e pela arte. Estou sempre em movimento. 

Em depoimento para a Revista E, Zezé Motta fala sobre os mais de 50 anos dedicados à arte. Foto: Bruna Quevedo.

“TODA VEZ QUE VEJO JOVENS NEGRAS CRESCENDO, SONHANDO, LUTANDO, DANDO COTOVELADA, INDO EM FRENTE, ENFRENTANDO DESAFIOS, EU FICO MUITO ANIMADA E MUITO ORGULHOSA POR TER FEITO PARTE DESSE MOVIMENTO

Zezé Motta

LUTA ANTIRRACISTA 

Eu acho que a gente avançou a partir do momento em que esse assunto deixou de ser tabu. Porque antes essa era uma questão discutida apenas dentro do movimento negro, e só entre os negros. Então, deixar de ser tabu já foi um avanço. E toda vez que vejo jovens negras crescendo, sonhando, lutando, dando cotovelada, indo em frente, enfrentando desafios, eu fico muito animada e muito orgulhosa por ter feito parte desse movimento. Fico na torcida, sabendo que ainda temos um longo tempo pela frente, mas ver as coisas caminhando é animador. E é animador pensar que algum dia meus bisnetos possam viver outra realidade.

ELIXIR DA VIDA 

A arte é fundamental na nossa vida. Ela faz bem para a saúde mental, para a saúde física, para a alma. Arte é salvação. 

DIÁLOGOS COM O TEMPO
Zezé Motta
é apresentadora do curso Como estamos envelhecendo, disponível na plataforma do Sesc Digital, lançado em abril de 2020. No curso composto por seis aulas, a atriz e cantora levanta temas importantes como a inversão da pirâmide etária no Brasil e no mundo; a desconstrução das visões estereotipadas sobre a velhice; acessibilidade e inclusão; novos papéis sociais da pessoa idosa; diversidade e sexualidade depois dos 60 anos; entre outros assuntos. O curso é gratuito e voltado para todos os públicos. Acesse!

A EDIÇÃO DE JUNHO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Nesta edição, celebramos os 30 anos da ECO-92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento que, no começo da década de 1990, propôs uma série de debates e compromissos dos quase 180 países participantes com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Nesta reportagem, propomos um resgate histórico sobre os marcos e conquistas ambientais no Brasil e no mundo e revelamos quais os ecos da ECO-92 três décadas depois de sua realização.

Além disso, a Revista E de junho traz outros destaques: uma reportagem que destaca a diversidade de estilos, formações e técnicas na produção contemporânea de música de câmara; uma entrevista sobre parentalidade com a psicanalista Vera Iaconelli; um depoimento de Zezé Motta sobre os mais de 50 anos de carreira; um passeio visual pelas obras da exposição Xilograffiti, em cartaz no Sesc Consolação; um perfil de Lygia Fagundes Telles, um dos maiores nomes da literatura brasileira; um encontro com Marcio Atalla, que defende a adoção de uma vida mais ativa para o bem-estar a e saúde a longo prazo; um roteiro por 5 espaços que celebram a cultura japonesa em SP; o conto inédito “Careiro”, assinado pela escritora Paulliny Tort; e dois artigos que celebram o legado do sociólogo e crítico literário Antonio Candido.

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