Artista, pesquisadora, arte-educadora, curadora, mulher cisgênero, lésbica, racializada, mãe solo. É assim que se apresenta Maíra de Freitas*, segunda convidada do projeto “Pelas Beiradas”***, do Sesc São Caetano. Com curadoria de Luciara Ribeiro**, o trabalho de Maíra dá corpo e alma à exposição “Lilás”, que tem sua abertura neste dia 10 de agosto às 19h no Sesc São Caetano, propondo reflexões acerca da maternidade, das questões de gênero e da violência obstétrica em um tom autobiográfico.
“Lilás” traz em seu título a inspiração do nome da filha de Maíra, assim como a cor que ressignifica os dilemas do existir de uma mulher negra na personagem de Alice Walker, no romance “A cor púrpura”. A cor rara entre o vermelho e o rosa e que possui a mesma grafia tanto no masculino quanto no feminino da palavra faz parte da vida da artista. Os temas abordados na exposição também colocam em primeiro plano os traços que a singularizam, tendo na maternagem um elo de intersecções. A priorização deste termo no lugar de maternidade advém do parto e da violência obstétrica sofrida por Maíra, fato que exerceu papel decisivo em sua narrativa. Enquanto a maternidade é tradicionalmente permeada pela relação consanguínea entre a mãe e a criança , já a maternagem é estabelecida no vínculo afetivo do cuidado e acolhimento.
Maíra, através de suas obras, vai além de recusar a romantização da maternidade e se volta para a intersecção entre o trabalho reprodutivo, o de cuidado e a dissidência sexual. “Ser mãe não é sinônimo de ser mulher cisgênera e heterossexual. Gestar não é sinônimo de ser mulher. Cuidar do futuro de uma comunidade não pode ser sinônimo de abnegação ou desamparo social e governamental”, explica ela.
O trato de seus traumas passa pelo cultivo da maternagem como estado de conexão ativa entre mãe e filha. É no exercício do vínculo dedicado às necessidades físicas e psíquicas da criança que o desenvolvimento emocional se processa reciprocamente, entre quem é cuidado e quem cuida.
Para Maíra, o tornar-se mãe não é apenas dar à luz, mas se entender em um jogo labiríntico do que se é, do que se tornou, do que se deseja ser, do que se projeta para si e do que os demais esperam. Nesse processo de desvendar veredas, Maíra Freitas construiu parte do conjunto de obras aqui apresentadas. São produções que, assim como Walker, utilizam-se de perguntas e inquietações para compartilhar o pensar, que criam visualidades para a formação de uma sociedade menos abnegada da vida. – destaca Luciara Ribeiro, curadora da exposição.
Autorretrato, Mãedusa, Emersão e fuga do nascimento, Isso não é uma mulher, Cabaça-útero, O vôo do pássaro que é sempre retorno. Estes são alguns dos nomes das 12 obras que compõem a exposição “Lilás”. Nelas, Maíra de Freitas mescla técnicas de pintura, bordado, escultura, ilustração, instalação audiovisual, arte têxtil e fotografia, em um conjunto que se integra ao espaço expositivo do Sesc São Caetano e convida o público para um profundo mergulho em seu universo artístico logo ao adentrar na unidade do Sesc São Caetano.
A exposição Lilás fica em cartaz no Sesc São Caetano até o dia 10 de dezembro, de segunda a sexta das 9h às 21h e aos sábados e feriados das 9h30 às 17h30, com visitação gratuita. No dia 10 de agosto, às 19h, será realizado o evento de abertura, com entrada livre e a apresentação da performance FAGIA, da artista, cantora, pesquisadora e educadora Paola Ribeiro, que busca investigar a potência da relação corpo/voz com o espaço por meio da tecnologia.
Exposição “LILÁS” de Maíra de Freitas
Curadoria de Luciara Ribeiro
Abertura: Dia 10/8, quarta, das 19h às 21h (com a performance “FAGIA” de Paola Ribeiro)
Visitação livre: Dia 11/8 a 10/12, segunda a sexta, das 9h às 21h, e sábados, das 9h às 17h30.
Saiba mais em www.sescsp.org.br/exposicaolilas
Acesse aqui a publicação digital sobre a exposição Lilás:
*Sobre a artista Maíra Freitas
Maíra é natural de Campinas (SP) e atua como artista, pesquisadora, arte-educadora e curadora. É cisgênero, lésbica, racializada, mãe solo. Doutoranda em artes visuais pela Unicamp. Expôs na individual “Solo da Maternagem Solo” e em diversas exposições coletivas nacionais e internacionais. Foi curadora da exposição individual “Desvio-Devir” de Thiago Goya (2020 – Sesc Sorocaba), do Festival Lacração (2021) e do EAV Unicamp (2021). Sua produção em arte contemporânea é multilinguagem, passando pela arte do vídeo, performance, fotografia, pintura expandida e objetos. Relaciona arte e vida, a partir de marcadores sociais da diferença, com interesse em questões de gênero, maternagem e racialidade.
**Sobre a curadora Luciara Ribeiro
Luciara Ribeiro é educadora, pesquisadora e curadora. Mestra em História da Arte pela Universidade de Salamanca e pelo PPG em História da Arte da Unifesp (2019). Graduada em História da Arte (Unifesp) com intercâmbio na Universidade de Salamanca. Integrou diversas equipes de educação, curadoria e pesquisa em instituições artísticas, como a Bienal de São Paulo, o Museu Afro Brasil, o Instituto Tomie Ohtake entre outros. Atualmente é docente no Bacharelado em Artes Visuais da Faculdade Santa Marcelina, na área de Saberes Estéticos e Culturais.
*** Sobre o projeto “Pelas Beiradas”
“Lilás” é a segunda mostra do projeto “Pelas Beiradas”, que se propõe a abrir espaço ao redor do grande circuito de artes visuais para a rede de artistas e curadores que estejam em início ou meio de carreira, com projetos artísticos que dialoguem com o contexto programático no Sesc São Caetano. Para o Sesc, o valor da diversidade se atualiza e adquire corpo a cada oportunidade em que o invisível, a despeito de sua vigência velada, se presentifica e se expõe à apreciação pública.
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