Acervo em foco: Carlos Matuck

01/06/2020

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Detalhe de “Anhangabaú, Casarões” (2004) | Foto: Everton Ballardin

Realizado no período de 2011 a 2013, na unidade do Sesc Pinheiros, o projeto “Acervo em foco” – cujos conteúdos passam a ficar disponíveis on-line em uma série de artigos no portal do Sesc São Paulo – apresentava, de forma aprofundada e particularizada, recortes da produção de artistas brasileiros cujas obras compõem o Acervo Sesc de Arte, a coleção permanente da instituição.

Entre os artistas contemplados pelo projeto, estão Carlos Matuck, Luiz Paulo Baravelli, Nelson Leirner e Valdir Sarubbi. Neste artigo, destaca-se um recorte da obra de Carlos Matuck.

Um dos precursores do grafite em São Paulo, Matuck (São Paulo, 1958) iniciou seu trabalho ainda na década de 1970. Sua primeira exposição aconteceu em 1981, no Instituto dos Arquitetos do Brasil, em São Paulo. Publicou inúmeros desenhos, ilustrações e histórias em quadrinhos e participou da 18ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1985. Atualmente, dedica-se à pintura, produzindo sobretudo murais e objetos recortados em madeira.

Foi importante a influência dos irmãos Artur e Rubens, também artistas, no desenvolvimento das habilidades de Carlos Matuck para o desenho. Mas apenas quando conheceu Alex Vallauri, no final dos anos 1970, é que passou a ter uma ação continuada, utilizando pesquisas com carimbos, recortes e colagens na confecção de estênceis para a produção dos grafites que a dupla, com a participação de Waldemar Zaidler, espalhou pelas ruas de São Paulo até meados da década de 80.

O reconhecimento conquistado com esse trabalho resultou em convites para a pintura da marquise do Museu de Arte Moderna, no parque do Ibirapuera, em 1982, e para a produção de um grande painel na XVIII Bienal de São Paulo, três anos depois.

A área de convivência do Sesc Santos, unidade inaugurada em 1986 no litoral do estado, recebeu, à época de sua abertura, uma intervenção do artista. A obra (abaixo) segue em uma coluna da unidade até hoje. As múltiplas linhas, de tonalidades diferentes, sobre vários elementos do desenho, conferem movimento à cena, bem como os corpos contorcidos. 


“Desembarque” (1986) | Esmalte acrílico sobre concreto, 8 x 4 m | Foto: Everton Ballardin

Esse mesmo padrão é identificado também no trabalho (abaixo) que o artista fez para o Sesc Taubaté, unidade inaugurada em 1988.

 


“Os velhos marceneiros” (1988) | Esmalte acrílico sobre concreto | Foto: Everton Ballardin

A unidade do interior paulista conta também, desde sua abertura no final dos anos 80, com uma ampla tela de Carlos Matuck, Trem fantasma (1988), que além das linhas dinâmicas, traz também figuras que remetem diretamente à linguagem das histórias em quadrinhos. 


“Trem fantasma” (1988) | Acrílico sobre tela, 300 x 160 cm | Foto: Everton Ballardin

Em sua produção posterior, a investigação sobre o uso dos recortes e máscaras, estabeleceu-se como prática corrente. Seu trabalho deslocou-se das ruas para o ateliê, passou a se concentrar em telas e painéis. Neles, o artista utiliza referências que vão das HQs às fotos antigas de São Paulo, passando por pinturas de paisagem chinesas, selos e carimbos de correio.
 


“Estudo para 30 retratos I” (1993) | Acrílica sobre tela, 70 x 100 cm | Foto: Everton Ballardin


“Estudo para 30 retratos II” (1993) | Acrílica sobre tela, 70 x 100 cm | Foto: Everton Ballardin

Os carimbos são tomados como forma, em Estudo para 30 retratos I e II (1993). As duas obras foram produzidas com a utilização de recortes em madeira sobrepostos a painéis de tela que receberam, posteriormente, intervenções em tinta acrílica. O relevo obtido pela sobreposição, nos sugere grandes matrizes cujas imagens – como na utilização dos estênceis – poderiam ser reproduzidas inúmeras vezes. 


“Anhangabaú, Casarões” (2004) | Grafite sobre madeira recortada | Foto: Everton Ballardin

Ainda que o grafite tenha deixado de ser sua forma de produção, Matuck retoma constantemente elementos característicos dessa estética. Isso é evidenciado em Anhangabaú, Casarões (2004), onde o artista apropria-se de fragmentos de imagens, combinando-os à utilização de máscaras, confeccionadas a partir de fotografias antigas do centro de São Paulo.

Além desses trabalhos, Carlos Matuck elaborou, no início dos anos 2000, para o ginásio do Sesc Pinheiros, um longo painel que combina fragmentos de imagens antigas para criar uma obra sobre a evolução dos esportes no mundo. E para os espaços dedicados a práticas esportivas no Sesc Santana, inaugurado em 2005, o artista criou os painéis 5 EsportesJogos Olímpicos e Água.

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O Acervo Sesc de Arte, com obras visitáveis em todas as unidades do Sesc São Paulo, se constitui como um conjunto cuja complexidade e riqueza nos oferecem a oportunidade de contato direto com um panorama da produção popular, moderna e contemporânea no Brasil.

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