Detalhe de obra sem título (1980) | Foto: Everton Ballardin
Realizado no período de 2011 a 2013, na unidade do Sesc Pinheiros, o projeto “Acervo em foco” – cujos conteúdos passam a ficar disponíveis on-line em uma série de artigos no portal do Sesc São Paulo – apresentava, de forma aprofundada e particularizada, recortes da produção de artistas brasileiros cujas obras compõem o Acervo Sesc de Arte, a coleção permanente da instituição.
Entre os artistas contemplados pelo projeto, estão Carlos Matuck, Luiz Paulo Baravelli, Nelson Leirner e Valdir Sarubbi. Neste artigo, destaca-se um recorte da obra de Valdir Sarubbi.
Valdir Evandro Sarubbi de Medeiros nasceu em Bragança, Pará, no ano de 1939. Foi pintor, desenhista, gravador e professor.
Em 1962, graduou-se em direito em Belém e, entre 1969 e 1970, frequentou a faculdade de arquitetura, na mesma cidade. Em 1971, mudou-se para São Paulo, onde viveu até sua morte, no ano 2000.
Sarubbi desenvolveu projetos significativos na área de arte-educação, além de produzir obras presentes hoje em importantes coleções do país. Participou da Pré-Bienal de São Paulo de 1970 com a instalação “Xumucuís” – posteriormente exposta também, no Deutsche Welle, em Colônia, Alemanha – e da Bienal de 1973. Recebeu, em 1992, o Prêmio APCA de Melhor Pintor e em 2000 foi agraciado com uma Bolsa da Pollock-Krasner Foundation, de Nova York.
As obras de Sarubbi que pertencem ao Acervo Sesc de Arte fazem parte de elaborações visuais provenientes da memória afetiva e sensorial do artista.
Sem título (1980) | Técnica mista (colagem, desenho, aerofotogrametria, nanquim e lápis de cor sobre papel), 72 x 51 cm | Foto: Everton Ballardin
Sem título (1980) | Técnica mista (colagem, desenho, aerofotogrametria, nanquim e lápis de cor sobre papel), 72 x 51 cm | Foto: Everton Ballardin
Sem título (1980) | Técnica mista (colagem, desenho, aerofotogrametria, nanquim e lápis de cor sobre papel), 52 x 71 cm | Foto: Everton Ballardin
Os três trabalhos reproduzidos acima pertencem a uma fase chamada por Sarubbi de Geofagia – o termo quer dizer exatamente “alimentar-se da terra” – e são fragmentos de sua articulação criativa e junção de elementos usados pelo artista anteriormente.
Formando painéis compostos por elementos nativos, combinando pedaços de mapas com secções de troncos e matérias orgânicas, abstraindo a forma dos rios através de rasgaduras, numa verdadeira arqueologia da memória, Sarubbi traça, através de uma geofagia sensual, os rumos de sua obra.
É possível atribuir ao contraste entre seu local de origem (Bragança, PA) e a cidade onde se estabeleceu posteriormente (São Paulo, SP) grande influência sobre as abordagens estéticas do artista.
Encontramos um reflexo disso na recorrente junção de técnicas e materiais apresentados em suas obras, bem como na fragmentação das linhas que as compõem. É evidente a preocupação por parte do artista, na busca de aspectos nacionais, destacando, nesse contexto, paisagens brasileiras – sobretudo a amazônica – e seus hibridismos.
Segundo o curador e crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, a obra de Sarubbi “se fundava efetivamente em sua experiência de homem amazônico” incluindo, por exemplo, relações de espaço e tempo mais densas e reflexivas.
Também se destaca o uso da abstração a partir de elementos correntemente relacionados em sua obra: a imensidão da floresta amazônica e a complexidade de canais e vertentes de seus rios. A incorporação de fotos aéreas da região em seus trabalhos e a utilização da aquarela, com sua liquidez rapidamente absorvida pelo papel podem ser entendidas, nesse sentido, como referências diretas a esse universo.
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O Acervo Sesc de Arte, com obras visitáveis em todas as unidades do Sesc São Paulo, se constitui como um conjunto cuja complexidade e riqueza nos oferecem a oportunidade de contato direto com um panorama da produção popular, moderna e contemporânea no Brasil.
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