Por Rosa Wanda Diez-Garcia*
Atualmente, todos buscam se alimentar de forma correta.
Quem não quer obter um benefício para a saúde apenas incluindo algum alimento na dieta ou emagrecer usando um novo produto alimentar?
Nossa relação com a alimentação passou a ser tratada não mais como uma prática inerente à vida, mas como portadora tanto de riscos como de benefícios à saúde. Passamos de uma relação baseada na necessidade de nos alimentar para uma relação que ameaça ou promete um futuro melhor de saúde e mesmo de beleza. Ao mesmo tempo, nos dedicamos menos a cuidar da nossa alimentação, preferimos comprar coisa prontas, de consumo rápido, fazendo com que uma boa parcela da população coma mal, com mais frequência e em maior quantidade do que necessita.
Se de um lado temos a alimentação como prática social, em torno da qual organizamos nossa vida, desfrutamos nos momentos de lazer, comemoramos, socializamos, reafirmamos elos familiares e afetivos, entre inúmeras outras expressões; de outro, o que comemos passou a ser objeto da ciência, e nossas práticas alimentares começaram a ser questionadas.
Como a nossa comida, que historicamente faz parte de nossas tradições familiares, passou a nos causar danos? Este é o campo de intersecção entre a ciência e a cultura. É nesse terreno de conflitos conceituais que recomendações alimentares passam a conviver e se introduzir na nossa rotina alimentar.
O indivíduo é desafiado o tempo todo a resolver o que ele deve comer. Apresenta-se o impasse de lidar com suas preferências e suas condições concretas – como recursos financeiros, disponibilidade e acesso – e o que será bom para ele. Esse é o dilema contemporâneo. Essa seara de conflitos se amplia quando temos a indústria de alimentos que, capitalizando novidades científicas em seus apelos publicitários, incrementa promessas relacionadas ao bem-estar, à estética e à saúde, usando termos científicos para “enriquecer” e valorizar suas mercadorias.
As pessoas se angustiam por terem perdido sua autonomia para decidir sobre suas demandas alimentares. E mais, convivem com a dúvida dos resultados de suas práticas alimentares em relação aos seus filhos, as quais se colocam como ameaças que podem comprometer a saúde no futuro.
Representantes legítimos do conhecimento científico, nutricionistas e outros profissionais de saúde são pressionados a dar respostas e também compartilham esse terreno de conflitos conceituais, necessitando gerenciar informações que se introduzem no nosso cotidiano por diferentes fontes, tendo que responder e atestar qual a melhor forma de se alimentar. Esses desafios merecem reflexão sobre os papéis e responsabilidades de profissionais que direta ou indiretamente lidam com tais questões.
*Rosa Wanda Diez-Garcia é nutricionista, mestre e doutora em Psicologia Social (USP), realizou pós-doutorado em Antropologia da Alimentação (Universitat de Barcelona – Espanha) e é professora do Curso de Nutrição e Metabolismo da USP – Ribeirão Preto.
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