Amamentar: nutrir, proteger, amar

28/07/2017

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Mais do que simplesmente alimentar, amamentar traz benefícios para o bebê a curto, médio e longo prazo: nutre, evita infecções, reduz a mortalidade infantil, contribui para prevenir doenças crônicas e pode ter impacto positivo na inteligência, escolaridade e, até mesmo, renda futura! Pesquisas em diferentes países mostram as vantagens associadas ao aleitamento materno e são cada vez mais difundidas.

Apesar disso, muitas dúvidas persistem: “E se o leite não descer?”; “e quando ‘empedra’?”. Para ajudar presentes e futuras mamães, conversamos com as profissionais Débora Delage e Denise Niy, que coordenam o grupo Maternamente ABC, durante atividade no Sesc Santo André:

Buscando aprofundar as discussões, conversamos sobre a amamentação com três profissionais – a nutricionista Adriana Passanha, doutoranda em Nutrição em Saúde Pública pela USP e facilitadora nacional da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil pelo Ministério da Saúde; a médica Sônia Venâncio, pesquisadora do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo e membro do Comitê Nacional de Aleitamento Materno, e a dentista Maria Salete Nahás Corrêa, doutora em odontopediatria e professora da Faculdade de Odontologia da USP.

Quais são os impactos do aleitamento materno na saúde imediata e futura do bebê?
Sônia Venâncio: Nos anos 70, as pesquisas começaram a mostrar o grande impacto da amamentação sobre a redução das mortes infantis por diarreia e pneumonia. Também mostraram que as crianças amamentadas, quando adoecem, tem menor chance de hospitalizações, ou seja, as doenças se manifestam de forma mais branda. Publicação recente no periódico The Lancet reafirmou que a amamentação também protege os bebês de outros agravos, como otite, eczema, alergia alimentar, rinite alérgica, asma/chiado, desnutrição e sobrepeso, cárie e maloclusão [alteração no posicionamento dos dentes]. Mas as pesquisas recentes mostram também o impacto positivo da amamentação ao longo prazo, em adolescentes e adultos, prevenindo doenças crônicas como hipertensão, sobrepeso e obesidade, colesterol total e diabetes tipo 2. Um estudo realizado no sul do país, acompanhando crianças até completarem 30 anos de idade, mostrou também evidência do impacto da amamentação na inteligência, maior escolaridade e renda na vida adulta.

Como ela contribui para desenvolvimento dos laços afetivos?
Sônia Venâncio: O momento da amamentação é uma oportunidade de contato físico, contato visual, olho no olho, toque e conversa entre mãe e bebê. Essa interação é um aspecto fundamental para o desenvolvimento psicoafetivo das crianças.

E para a saúde bucal?
Maria Salete Nahás Corrêa: Os dentes já começam a se formar na vida intrauterina, a partir da sexta semana de gestação.  A sucção durante o aleitamento é muito importante para o desenvolvimento da mandíbula e maxilar do bebê. Além disso, é claro que a criança bem nutrida irá desenvolver melhor o organismo como um todo, inclusive em relação aos dentes.

A saúde da mãe também é afetada?
Sônia Venâncio: As pesquisas mostram evidências científicas do impacto da amamentação no espaçamento das gestações, diminuição das chances de desenvolver câncer de mama e ovário, diabetes tipo 2, osteoporose e menor retenção de peso pós-parto.

Do ponto de vista nutricional, quais as vantagens do leite materno sobre as fórmulas?
Adriana Passanha: Enquanto as fórmulas possuem composição fixa, a composição do leite materno muda com o passar do tempo: nos primeiros dias, ele é chamado de colostro, e é rico em proteínas e anticorpos que protegerão o lactente contra doenças; após esse período, passa por uma fase de transição, até ser denominado leite maduro, rico em calorias e gorduras que contribuirão para o crescimento e desenvolvimento do bebê. A proteína presente nas fórmulas tem digestão difícil para os humanos, principalmente recém-nascidos, que ainda apresentam intestino imaturo. Além disso, diferente das fórmulas, o leite materno apresenta componentes imunológicos e fatores de proteção essenciais para o lactente. Destaca-se, ainda, que o leite de mães de recém-nascidos prematuros é diferente do leite de mães de recém-nascidos a termo, ajustando-se às necessidades do lactente.

Recomenda-se que o aleitamento materno seja exclusivo nos seis primeiros meses de vida. A introdução de outros alimentos durante esse período pode ter consequências para a saúde do bebê?
Sônia Venâncio: Sim! Muitas vezes as mães consideram que oferecer água, chá, sucos e outros leites não vai prejudicar a criança. Mas qualquer coisa oferecida vai interferir no processo da amamentação e reduzir seus efeitos benéficos. Por exemplo, crianças que recebem água podem diminuir as mamadas e consequentemente, diminuir a produção do leite. A oferta de líquidos em mamadeiras ou chuquinhas pode levar à confusão de bicos e dificuldades no processo da “pega” [modo como o bebê suga o peito], além de aumentar o risco de infecções. A absorção de nutrientes, como o ferro, que evita anemia, também é diminuída com a introdução de outros líquidos ou alimentos.

Após os seis meses de idade, quais as vantagens de continuar a amamentação junto com outros alimentos?
Adriana Passanha: Após os seis meses, o leite materno continua nutrindo a criança e protegendo-a contra diversas doenças. Recomenda-se que a única fonte láctea da alimentação de crianças até os dois anos de idade ou mais seja o leite materno.

Que cuidados são importantes em relação à saúde bucal?
Maria Salete Nahás Corrêa: Enquanto os dentes não são visíveis, a partir dos quatro meses, deve-se limpar a boca do bebê com fraldas de tecido ou gazes com soro fisiológico ou água filtrada, eliminando possíveis resíduos. Depois que os dentes erupcionam, é importante fazer a escovação desde o primeiro dentinho. Após os seis meses, com a introdução de alimentos, as mamadas podem ficar mais espaçadas. Com o tempo, é recomendado controlar as mamadas durante a madrugada, pois é o período de menor fluxo salivar, e a falta de higienização favorece o aparecimento da cárie. Nesse horário, antes de oferecer o peito ou a mamadeira, os pais podem dar carinho, oferecer água ou verificar se é preciso trocar a fralda do bebê, por exemplo.


De que forma  aamamentação contribui para a sustentabilidade?
Adriana Passanha: O leite materno é um recurso natural e renovável, evita o desperdício e a poluição: é um alimento que não precisa de nenhum tipo de preparo e que tem sua produção aumentada quanto mais a criança mama; diferente das fórmulas, que requerem a criação de vacas leiteiras para produção de leite, toda a estrutura industrial para sua formulação, a existência de latas de alumínio para armazenamento e de mamadeiras para sua oferta à criança, a grande quantidade de água necessária para seu preparo e para higienização dos utensílios e a quantidade de gás gasto no seu preparo. 

Em alguns momentos, o aleitamento materno foi desestimulado, pois havia a crença de que o leite materno pudesse ser “fraco” e muitas mães foram orientadas a oferecer fórmulas aos bebês. Você pode comentar esse histórico?
Adriana Passanha: A afirmação de que o leite de algumas mulheres é fraco ainda persiste nos dias atuais. O leite pode ter aparência transparente em algumas ocasiões. Apesar disso, ele não é fraco e contém inúmeros nutrientes e fatores imunológicos importantes para a saúde da criança. Para a indústria, tal afirmação sempre foi vantajosa, pois mulheres que acreditam que seu leite é fraco ficam inseguras em relação à sua capacidade de nutrir seus filhos e acabam oferecendo fórmulas a eles. Na maioria das vezes as fórmulas são ofertadas às crianças em mamadeiras. O leite na mamadeira flui de forma mais abundante, enquanto no peito, o maior fluxo de leite demora cerca de um minuto; com isso, algumas crianças começam a apresentar dificuldades para mamar no peito, e em diversos casos, a prática do aleitamento materno é abandonada. Dessa forma, a criança passa a ser alimentada com fórmulas infantis mais vezes ao dia. É preciso reforçar que a afirmação em relação ao leite fraco é um mito, que somente mulheres em situação muito severa de desnutrição podem ter a composição de seu leite comprometida, e que o acompanhamento por profissionais de saúde irá auxiliar as mães a iniciarem e manterem a amamentação de seus filhos.

De que forma é possível incentivar e prolongar a amamentação?
Sônia Venâncio: O Brasil é reconhecido pelos avanços nas taxas de amamentação. Porém, ainda menos da metade das crianças brasileiras menores de 6 meses são amamentadas de forma exclusiva. Por isso é preciso intensificar as políticas de proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno.
A proteção legal é fundamental para a garantia dos direitos da mãe e do bebê, como a licença maternidade, licença paternidade, direito à creche no local de trabalho [ou auxílio creche] e pausas para amamentar durante a jornada de trabalho. Estamos lutando para ampliar a licença maternidade de 4 para 6 meses. 
Em relação a leis, temos também a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, bicos, chupetas e mamadeiras, que controla a propaganda que tenta induzir o consumo desses produtos e estabelece normas para a relação das indústrias com o mercado e os profissionais de saúde.
Também há muitas iniciativas de apoio à amamentação no âmbito dos serviços de saúde, como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, que através dos Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno estimulam o início precoce da amamentação, logo após o nascimento, e durante o período de internação na maternidade. Temos também os Bancos de Leite Humano, que além do apoio à amamentação, propiciam a alimentação de recém-nascidos prematuros com leite materno. Nas Unidades Básicas de Saúde temos a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, que prepara as equipes da Atenção Básica para promover a amamentação e a alimentação complementar saudável a partir do sexto mês de vida.
Todas essas políticas e ações pró-aleitamento materno precisam ser ampliadas e intensificadas para que todas as mulheres recebam o apoio necessário para a amamentação, pois ela propicia às crianças um presente e um futuro mais saudáveis.

Adriana Passanha: Todos precisam entender a importância do aleitamento materno não só do ponto de vista da saúde da criança, mas compreendendo também que este é um ato natural e de amor entre mãe e filho.

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