O Simpósio de Atividades Físicas Adaptadas é uma iniciativa pioneira do Sesc São Paulo e acontece desde 1997, com destaque no campo acadêmico e também no social. Desde 2002 tornou-se internacional e desde 2003 tem o apoio da Sobama – Associação Brasileira de Atividade Motora Adaptada. Ao longo de vinte edições, o evento contou com a participação de cerca de 6.000 profissionais da área, de mais de 13 países, representando 19 diferentes Universidades/Instituições.
Promover o contato com metodologias e técnicas de trabalho voltadas às atividades físicas e esportivas adaptadas às pessoas com deficiências e/ou necessidades especiais, difundir o conhecimento produzido por pesquisadores e profissionais da Educação Física Adaptada e áreas correlatas e, ao informar e inserir a comunidade nos debates sobre a temática, conscientizar sobre a necessidade de se evitar preconceitos e discriminação em relação às diferenças, são os principais objetivos do Simpósio, que aconteceu de 28 a 31 de agosto de 2019 no Sesc São Carlos.
Comemorando a 20ª edição, o evento pretendeu reforçar seu papel de promotor e difusor de conhecimento para a área no Brasil, com uma programação diversificada, capaz de acolher profissionais de diferentes países e frentes de atuação no campo das atividades físicas adaptadas para pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais. A programação foi composta por conferências, cursos e palestras, apresentações de trabalhos acadêmicos e relatos de experiência, grupos de trabalho, oficinas, vivências, apresentações esportivas e culturais. Neste ano teve como tema A Pessoa com Deficiência e as Atividades Físico-Esportivas e de Lazer: Direito, Empoderamento e Participação Plena.
Em entrevista para a EOnline, Profa. Dra. Aija Klavina (Professora e Pesquisadora-Chefe do Departamento de Fisioterapia, Medicina do Esporte e Atividade Física Adaptada da Academia Letoniana de Esporte e Educação, em Riga – Letônia), que ministrou um curso e participou de uma mesa redonda no Simpósio, falou sobre o desenvoldimento da área de Atividade Física Adaptada, aprendizagem colaborativa e tutoria entre pares.
EOnline: Como você vê os avanços no campo da Atividade Física Adaptada atualmente?
Profa. Dra. Aija Klavina: Durante a última década, mais países europeus desenvolveram programas nacionais de estudo sobre Atividade Física Adaptada nos níveis de bacharelado e mestrado. Isso oferece oportunidade para o aumento do intercâmbio internacional entre membros do corpo docente em programas de pesquisa e programas acadêmicos. Além disso, os estudantes têm mais possibilidades de estudar no exterior por meio de programas de intercâmbio bilateral, por exemplo, o Programa Erasmus (European Region Action Scheme for the Mobility of University Students). Eu acredito que durante a última década os profissionais da área de Atividade Física Adaptada estão mais interessados em projetos de pesquisa internacionais do que apenas em nível nacional. A Educação Física Inclusiva está enfrentando desafios semelhantes em diferentes países. As crianças com deficiência, por exemplo, autismo, paralisia cerebral ou outro problema de saúde, têm padrões de movimento e desafios de comportamento semelhantes, apesar de diferentes nacionalidades e contextos culturais. Desta forma, estamos colaborando internacionalmente para explorar o efeito de diferentes intervenções, desenvolvendo instrumentos de avaliação internacionalmente aplicáveis, organizando reuniões e trabalhando em projetos colaborativos. As forças conjuntas ajudam a tornar o nosso conhecimento mais forte e a beneficiar o campo da Atividade Física Adaptada a níveis nacional e internacional.
EOnline: O que significa entender a Atividade Física Adaptada como uma rede multidisciplinar construída por diversas áreas do conhecimento?
Profa. Dra. Aija Klavina: Conforme novas profissões e abordagens sociais voltadas para as pessoas com deficiências em diferentes países vão emergindo, os formandos habilitados para atividades físicas adaptadas estão atualmente infiltrando a área da Atividade Física Adaptada em domínios como esportes, recreação, reabilitação e Educação Física, além de outros campos profissionais. Esta prática vem sensibilizando estes domínios sobre os benefícios da Atividade Física Adaptada, investindo no conhecimento, habilidades e competências destes profissionais que podem contribuir para a construção de habilidades multidisciplinares. Por exemplo, a Federação Europeia de Atividade Física Adaptada visa construir uma rede entre organizações nacionais e profissionais da Atividade Física Adaptada, geralmente associados à Atividade Física Adaptada como disciplina acadêmica e profissão. Com a crescente inclusão social das pessoas com deficiências, cresce também o interesse pela participação em atividades físicas, esportes e recreação e Educação Física. Os profissionais da área da Atividade Física Adaptada devem colaborar com colegas de diferentes áreas profissionais para garantir uma vida de atividades físicas significativas e seguras para pessoas com deficiência.
EOnline: Qual a importância da aplicação de métodos colaborativos sobre o processo de ensino-aprendizagem?
Profa. Dra. Aija Klavina: O ambiente da educação inclusiva é considerado um solo fértil para o desenvolvimento de interações entre colegas. A Educação Física, particularmente, proporciona a todos os alunos a oportunidade de cooperar, revelar entendimento dos diferentes modos de aprender e demonstrar respeito mútuo. Contudo, a inclusão na Educação Física é muito desafiadora devido à natureza ativa do ambiente de aprendizagem. A abordagem de aprendizagem colaborativa pode ser usada como adaptação didática efetiva para melhorar o resultado acadêmico de alunos com deficiências. “Aprendizagem colaborativa” é um termo abrangente para a abordagem educacional do esforço de aprendizagem interativa entre os alunos ou entre alunos e professores, juntos. Os alunos podem trabalhar em pequenos grupos para maximizar o seu próprio aprendizado e apoiar uns aos outros de maneira natural. Contextos inter-relacionados, como comportamentos físicos, interações sociais verbais e não verbais, são componentes importantes da aprendizagem colaborativa. A participação é um conceito central na aprendizagem orientada para a colaboração, de modo que todos os alunos participem das atividades o máximo possível.
EOnline: Quais as principais motivações para o desenvolvimento do estudo sobre Tutoria de Colegas/Pares?
Profa. Dra. Aija Klavina: O processo de estudantes que ensinam seus colegas é uma das formas mais antigas de aprendizado colaborativo. Nas últimas décadas, abordagens de tutoria de pares proliferaram na educação inclusiva em muitas estruturas (por exemplo, durante uma classe, idade cruzada e idade apropriada) e para diferentes propósitos acadêmicos. Existem múltiplos benefícios de tutoria de pares indicados nas pesquisas:
– Benefício das relações sociais e de ajuda entre os alunos;
– Custo eficaz – não é necessário recursos externos;
– Aumenta as oportunidades de instrução individualizada na sala de aula;
– Aumenta a quantidade de instruções para indivíduos, por exemplo, alunos com deficiências.
A tutoria por pares é eficaz para uma ampla gama de alunos com várias necessidades.
EOnline: Qual o impacto visto sobre a aprendizagem e a sociabilidade das crianças com e sem deficiência física após a implementação da Tutoria de Pares em sala de aula?
Profa. Dra. Aija Klavina: De acordo com minha pesquisa, alunos com deficiências moderadas e graves aumentaram o tempo de engajamento em atividades de educação física de 46,2 – 62,3% durante o período de referência para 61,7 – 85,0% durante a intervenção de tutoria de pares. Os colegas indicaram que as suas atitudes em relação aos colegas com deficiência melhoraram, sentiram-se bem em ajudar os outros, conheceram melhor os seus amigos, aprenderam novos conhecimentos e adquiriram experiência sobre questões de segurança na aula de Educação Física. Além disso, um resultado importante em estudos anteriores foi a mudança nos comportamentos de interação entre alunos com deficiência e outros colegas, revelando que os alunos não designados como tutores, ocasionalmente aderiram à dupla de alunos, mostrando desejo de ajudar nas atividades. A colaboração entre alunos aleatórios (não “pareados”) e alunos com deficiência aumentou gradualmente durante o estágio de intervenção. De modo geral, os procedimentos de tutoria entre pares podem beneficiar a inclusão e, particularmente, ajudar no gerenciamento de problemas de acolhimento na Educação Física em relação a crianças com deficiência.
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