Inspirados pela cultura ancestral, originária do povo tupi-guarani no Sesc Verão de 2022, o Sesc Ipiranga, tem na programação “Arapyaú” a importante reflexão crítica sobre a vida em sociedade, a partir de um lugar comum a todes, o tempo. O tempo que traz possibilidades de suspensão, de encontros, de afetamentos e de mudança social. E é no tempo do lazer que encontraremos as experiências necessárias para resistir as imposições dos sistemas hegemônicos de poder. Perceber as potências culturais e populares das diferentes manifestações, na apropriação e uso da cidade como lugar de pertencimento.
Convidamos o escritor, ambientalista e tradutor Kaka Werá para nos trazer essa reflexão, confira no texto abaixo:
Quando estudamos o tempo e as estações com o apoio da ciência, reconhecemos o verão como o momento em que a Terra se inclina perante o sol, causando na passagem do calendário dias mais longos e noites mais curtas, aumento de temperatura, provocando toda a natureza a expressar a luz da sua diversidade.
Na visão de mundo tupi-guarani o tempo e os grandes ciclos de sua passagem interferem além dos fenômenos materiais em pelo menos em três aspectos da vida:
Para esta cultura milenar, vale muito a percepção subjetiva das estações. O Tempo, com “t” maiúsculo, é um espírito vivo, que sopra sua presença em cada um de nós. As estações marcam ritmos externos e internos, integrando com fazes biológicas como: nascimento, crescimento, amadurecimento e encerramento.
O verão por exemplo, que a língua tupi se diz “arapyau”, é o “tempo novo”, de iniciar novas utopias, novas possibilidades, novos rumos. Momento de celebração das principais colheitas como o milho, a mandioca e a erva mate em algumas regiões. Momento da nomeação das crianças, de se abrir e expandir para novos sonhos.
Arapyau se caracteriza pela qualidade da expansão da luz solar, ao mesmo tempo em que a temperatura se eleva. Essa expansão nos impulsiona ao movimento, a alegria, a expressão e extroversão.
Este tempo do verão se reflete também no corpo, que transita entre a atividade física e a preguiça necessária para restaurar as energias. Na disposição para as noites claras e na indisposição que a luz provoca no meio do dia. No tempo do verão as celebrações sociais e comunitárias se destacam, nos impulsionando para o viver em grupo, em turmas, em tribos.
Nos tempos modernos, plena era tecnológica, onde consultamos o tempo pelo smartphone, onde os movimentos que ocorrem na atmosfera são detectados por satélites e visualizados nas TVs e onde nos períodos de verão milhões de pessoas correm para as praias; fica a reflexão: será que conectamos com o tempo de modo saudável? Será que consideramos os limites e as variantes da natureza naquilo que ela nos oferece? Será que lidamos com o verão além do bronzeamento, conectando com os aspectos subjetivos que ele pode nos proporcionar?
Texto de Kaka Werá para a programação do Sesc Verão
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