As chaves e camadas do Túnel do Tempo do Design Gráfico no Brasil

26/08/2014

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Os aspectos táteis e verbais por trás da exposição que fica em cartaz até 30 de novembro no Sesc Pompeia

Plástico bolha, pedaços de madeira, poeira, vitrines sendo posicionadas e imagens sendo fixadas: em meio a todo esse cenário que ocupa parte da Área de Convivência do Sesc Pompeia, está o curador Chico Homem de Melo direcionando e participando da montagem da exposição Túnel do Tempo do Design Gráfico no Brasil. Quem assiste a essa cena não imagina, talvez, a atenção que o designer e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP dedicou também aos textos apresentados na mostra que, por meio de 141 peças gráficas, propõe uma viagem por dois séculos de design gráfico no Brasil.


Revistas, discos, livros e reproduções de cartazes de filmes, peças teatrais e exposições de arte são acompanhadas de legendas que parecem conversar com o público, como se o próprio Chico nos contasse com suas palavras a história do design gráfico brasileiro. Sempre contendo entre 380 e 420 caracteres, elas expressam uma das principais preocupações do curador: a questão da comunicação. “Os textos, razoavelmente curtos, fluentes e com um mesmo ritmo, foram produzidos para se adequar ao contexto de leitura que o visitante terá. Essa oralidade com que escrevo é uma tentativa de comunicação com o público, que está em uma exposição em que a informação é fundamentalmente visual, mas onde o verbo pode desempenhar um certo papel”, comenta em entrevista ao Portal Sesc SP.


“O início do século 19 foi um dos poucos períodos nos quais o Brasil produziu suas cédulas — somente a partir de 1970 isso se tornaria rotina. A circulação costumava ser restrita, como é o caso destes Trocos do Cobre, usados apenas no Ceará. A impressão ocupa uma única face, e o grafismo principal é o numeral bem grande. Um detalhe saboroso: os exemplares eram assinados um a um pela autoridade monetária do local”.


Partindo de um olhar diferente daquele de crítico ou historiador de artes visuais, e sim do viés de quem opera, pesquisa e fala sobre design, ele pensou tanto na forma de passagem que o espectador pode ter pela mostra como também no tipo visitante que adentra o túnel. “Considerei que esses são textos lidos de perto e por uma pessoa andando. Um dos problemas da tipografia é que os textos são redigidos como se fossem destinados a pessoas que estão lendo sentadas com um folheto em mãos e não é bem assim que funciona na prática”, conta o curador, que também acredita que, mesmo em uma rápida visita de cinco minutos, há uma quantidade de informação que será captada pelo público: “sempre insisto que a exposição é para várias camadas: a pessoa pode topar, ou não, entrar e ir até onde desejar. Mas algo sempre irá tirar dali”.


E não é preciso ser designer para compreender como as caricaturas de Ângelo Agostini durante o período imperial brasileiro foram também uma expressão do design gráfico ou de que modo o cartaz da 1ª Bienal do MAM (1951) marcou o design modernista brasileiro. Jargões, termos específicos e a formalidade acadêmica passam longe dessas legendas. “A minha questão mesmo são os não designers e a tentativa de dar a eles chaves de leitura e escrever com algum sabor. Nunca digo: ‘olha, isso aqui significa isto’ ou ‘quando você vê essa figura, quer dizer isso’. Meu texto é sempre no sentido de ‘olha que interessante esse detalhe’, ‘olha como isso é saboroso’, ou seja, tento dar uma chave de leitura para o visitante”, ressalta Chico.


Para sentir de perto


Se Chico faz com que as peças da exposição nos falem aos ouvidos, ele não deixa também de nos convidar a quase senti-las nas próprias mãos: na primeira das duas paredes, cem delas – como discos, livros e revistas do século 19 e 20 – são expostas cronologicamente lado a lado, em uma vitrine contínua e rasa que posiciona o material exposto em uma inclinação que o coloca à altura da mão do visitante. Ainda que as peças não possam ser manipuladas, essa disposição é uma tentativa de recuperar a sensação tátil e direta de objetos que, muitas vezes, o público só conhece pelos livros.


“Na outra parede, temos os cartazes, também em uma sequência contínua, mas em um arco temporal menor, a partir da década de 1950 até 1990. São facsímiles, ou seja, a peça em sua escala original. O cartaz, exposto sem o vidro, é um tipo de peça gráfica em que a informação tátil é menos relevante; o que importa nele é a escala, algo que só se consegue com a sua materialidade, e a sensação de estar diante de uma peça com que você tem uma relação corporal. Isso vai ser recuperado na exposição”, diz Chico.

Introspectiva


Ele ainda chama atenção para um traço que permeia o Túnel do Tempo do Design Gráfico: “é uma exposição fundamentalmente introspectiva. Não é uma mostra espetacular, em que você entra e ouve mil coisas e vê um show de luzes e cores. É apreensiva em um único olhar: você entrou no ambiente e a exposição inteira está ali. Ela é média, mas até que grande para esse tipo de visita instantânea que ela permite ao público”.


A mostra, baseada no livro Linha do Tempo do design gráfico no Brasil (2012), tem como curadora assistente Elaine Ramos, designer e diretora de arte da editora Cosac Naify que, junto a Chico, participou da organização e design desta publicação que demandou três anos de pesquisa. “O livro tem 1600 imagens e 10% do total está na exposição. A questão é que uma peça gráfica reproduzida em um livro capta só uma parte da informação. Ao vivo, tem outra dimensão e uma verdade que é do próprio objeto. Em geral, todo nosso conhecimento sobre linguagem visual é de uma abstração terrível. De certo modo, o que essa exposição está tentando oferecer ao público é a oportunidade de se defrontar com as peças e as eventuais surpresas que a materialidade delas carrega”.


o que: exposição – Túnel do Tempo do Design Gráfico Brasileiro
quando:  de 21 de agosto a 30 de novembro
onde: Área de Convivência do Sesc Pompeia

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