Foto: Cadu Castro
A capacidade de se reinventar tem sido uma exigência para toda a sociedade, em função da pandemia da Covid-19.
E, mais do que nos adaptar às novas formas de trabalhar, estudar, fazer exercícios e até de nos relacionarmos, hoje é necessário dedicar um tempo importante à reinvenção de nossas rotinas fora do isolamento social.
Para o Sesc Carmo e o Sesc Parque Dom Pedro II, a tônica é exatamente a mesma.
Pensando em formas para encarar o futuro breve, ambas as unidades solicitaram ao Espaço LarAyo a produção de 700 máscaras de tecido, para distribuir a funcionários, bem como para doar a entidades que atuam no entorno, auxiliando pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Como um braço do espaço, que há seis anos desenvolve projetos de educação e saúde, ligados ao autocuidado e à autoestima de pessoas em suas diversidades (em especial, mulheres), o ateliê do LarAyo tem apostado no fortalecimento do trabalho em rede para realizar a produção das máscaras, mas também para fazer com que esta ação de fomento alcance outras entidades assistenciais e profissionais.
“O corte dos tecidos foi realizado pela equipe do ateliê, seguindo todos os padrões de modelagem, tipos de tecidos e cores acertados com o Sesc. Depois, o material seguiu para oficinas de costuras parceiras, localizadas na periferia da capital e também geridas por mulheres, o que acaba fortalecendo nosso propósito de trabalhar com mulheres que, também nesse momento, são impactadas de maneira muito importante pela escassez de trabalho“, explica a designer de moda Thais Prado, coordenadora de projetos do ateliê LarAyo.
Terminada a fase de costura, as máscaras são higienizadas, embaladas e destinadas ao Sesc para a doação.
Formado na união da palavra Lar com o termo Ayo que, em iorubá, significa felicidade, o nome LarAyo já revela a sua vocação: ser uma casa feliz.
E, como nada faz uma casa mais feliz do que uma grande família, para o corte dos tecidos e o posterior manuseio das máscaras, Thais conta com a atuação de outras três mulheres, todas mães-solo, como ela mesma.
“Somos um coletivo composto de maioria feminina, mãe e residente na periferia da zona leste da capital. Então, nosso primeiro desafio, diante da atual situação de pandemia e de isolamento social, foi criar um espaço para que pudéssemos realizar a produção sem realizar o deslocamento até a região central. Assim, adaptamos um espaço na Associação Beneficente Educacional e Cultural Ille Asé Iyalode Oyó, que é quem abraça os projetos do LarAyo, para iniciar o corte das máscaras. Aqui, trabalhamos usando máscaras, toucas e luvas, e ainda criamos um espaço para que nossos filhos possam ficar brincando em segurança, mas bem pertinho da gente“, explica.
E assim como se adaptou para a produção das máscaras, o LarAyo tem feito o possível para continuar acolhendo seus públicos, mesmo a distância.
“Essa atuação tem sido outro desafio“, revela Thais.
A coordenadora de projetos conta que, antes da quarentena, o Ayo recebia de 50 a 80 mulheres por mês, em atendimentos individuais e coletivos (na maior parte gratuitos), realizados por uma equipe formada por seis terapêutas — psicologos, fisioterapeutas, massoterapeuta e arteterapeutas — , em consultas, cursos de autocuidado e educação popular, e no ateliê, que atua com vestuário, figurino, adereços, decoração e artes visuais.
“Além deste atendimento direto, realizado em nosso espaço, que fica ali na Rua do Carmo, bem próximo ao Sesc, conseguimos levar este acolhimento, mesmo indiretamente, a cerca de 200 mulheres, graças à atuação realizada em parceria com coletivos, localizados principalmente na periferia” explica.
Mesmo sem poder abrir a casa, Thais explica que a equipe tem feito o possível para ficar perto das pessoas que mais precisam do espaço.
“Muitas mulheres que atualmente frequentam e até trabalham no LarAyo, chegaram até nós porque sofriam com algum tipo de violência, sobretudo a doméstica. Graças ao acolhimento que encontraram aqui, grande parte conseguiu sair deste espectro da violência e, algumas, passaram até a se dedicar à tarefa de auxiliar outras mulheres. Infelizmente, vimos os números da violência doméstica subirem muito durante a quarentena e, como não podemos atender presencialmente, temos tentado permanecer em contato com essas pessoas, seja por meio do atendimento remoto, realizado por nossas terapeutas, seja por meio de materiais informativos“, explica.
De acordo com relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), no contexto da pandemia, os atendimentos da Polícia Militar do estado de São Paulo a mulheres vítimas de violência aumentaram quase 45% em março deste ano, na comparação com o mesmo período de 2019.
Para Thais, hoje, além deste trabalho a distância realizado pelo espaço, a produção de máscaras para o Sesc foi carregada de significado dentro do ateliê.
“Mais do que uma fonte de renda para essas mães, a produção das máscaras foi muito importante para nós. Hoje, cuidar de nós mesmos, lavando as mãos, evitando o contato e usando as máscaras, por exemplo, significa cuidar também das outras pessoas. E, como ‘cuidar de quem cuida’ é um dos discursos que permeiam nossas ações aqui, ficaremos muito felizes com cada máscara que sair de nosso ateliê e cumprir o seu propósito.“, conclui.
A iniciativa do Sesc Carmo e do Sesc Parque Dom Pedro II ocorre junto a uma série de medidas e programas desenvolvidos pelo Sesc em todo o estado de São Paulo, no contexto do enfrentamento à pandemia, e faz parte da ação Tecido Solidário.
Por meio desse projeto, as unidades do Sesc São Paulo têm mobilizado cooperativas, coletivos, associações, iniciativas populares e até os próprios funcionários para a produção de máscaras de tecido destinadas a quem trabalha no Sesc e também a instituições sociais como as atendidas pelo Mesa Brasil — programa do Serviço Social do Comércio que atua na perspectiva da segurança alimentar e nutricional, sustentabilidade e inclusão social.
Até o fim do mês de junho, um grupo de funcionários voluntários das unidades Parque Dom Pedro II e Carmo já havia produzido 570 máscaras e se preparava para cortar, costurar e embalar outras 1.000 unidades. Além deste esforço solidário e interno, essas as unidades estão articulando a contratação de oficinas de costura, localizadas na região central, para a produção de outras 4.200 máscaras.
A ideia é oferecer este recurso de segurança indispensável principalmente para os grupos em situação de maior vulnerabilidade social e econômica, visando a prevenção e a contenção do contágio. A iniciativa traz, também, um olhar voltado à promoção do trabalho comunitário e de geração de renda, reforçando o compromisso social e educativo da instituição.
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