Foto: Matheus José Maria
por Denisson Monks*
Ainda não havia visto no Brasil uma reunião semelhante. Aqui, dançaram-se valsas, contradanças e bailados espanhóis, algumas senhoras tocaram piano, outras cantaram com muita arte acompanhadas ao bandolim, e a festa terminou com pequenos jogos de salão. (Auguste de Saint-Hilaire. Viagem ao Rio Grande do Sul).
Assim foram as primeiras impressões acerca das belezas e aspectos culturais das nossas danças tradicionais do Rio Grande do Sul.
Vacaria (RS) é a capital dos rodeios crioulos no país, terra conhecida como a porteira do Rio Grande, habitada por pouco mais de 60 mil habitantes. Nesta localidade, muitas danças foram pesquisadas e reconstituídas, a fim de que, hoje em dia, nosso movimento tradicionalista gaúcho se desenvolvesse e se transformasse em um dos fenômenos culturais mais fortes do nosso estado – e, por que não dizer, do nosso país.
Localizada na Serra Gaúcha, Vacaria tem como um dos seus maiores atrativos a cultura e o cultivo da maçã, produto que é exportado para diversos países da Europa e da Ásia. Além disso, a cidade se destaca pela produção de grãos e por sediar o maior rodeio crioulo da América Latina.
É neste contexto que surge o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Porteira do Rio Grande, entidade tradicionalista que promove o referido rodeio, que, em 2020, terá a sua 33ª Edição. Esse CTG nasceu durante o Congresso Tradicionalista de Santa Maria, no qual Getúlio Marcantônio, um de seus fundadores, firmou o propósito de fundar um Centro de Tradições Gaúchas em sua terra. Assim, em julho de 1955 nasceu o CTG Porteira do Rio Grande.
O CTG fomenta entre as famílias os aspectos culturais e tradicionais que envolvem o nosso estado, constituindo um espaço no qual, desde muito cedo, as crianças aprendem o sentido mais belo do culto às tradições gaúchas – e uma delas, com certeza, são as nossas danças tradicionais. Famílias são envolvidas, crianças aprendem a beleza e arte das danças tradicionais através de pequenos passos e, assim, iniciam uma jornada que passa com muita força e notoriedade por cada fase da vida – ou seja, desde a infância até a fase adulta, tocando, inclusive, a velhice. Isso é muito comum em nosso meio: há poucas pessoas que não tenham tido ao menos um momento, uma história ou uma iniciação dentro de um Centro de Tradições Gaúchas, por nós popularmente conhecido como CTG.
Dos primeiros passos de danças até as mais diversas manifestações culturais (como declamação, canto, chula), o CTG participa da vida dos nossos jovens e crianças como um processo de educação continuada, por meio do qual vários conceitos educacionais são trabalhados desde muito cedo, tais como o respeito entre as pessoas, aos mais velhos, à diversidade, à disciplina. Ao participar de um CTG, a pessoa aprende a importância do trabalho em grupo e tantos outros aspectos que certamente poderíamos citar aqui, os quais contribuem significativamente para a formação de melhores cidadãos para a nossa sociedade.
Essas questões regionais e educativas fazem com que cada vez mais famílias estejam presentes em nosso movimento, o qual é parte fundamental dos aspectos que envolvem a identidade cultural do povo gaúcho Rio Grandense. Hoje, dentro do nosso universo das danças tradicionais, existem mais de 100 danças pesquisadas e reconstituídas, dançadas dentro dos nossos galpões, em ritmos de Vaneira, Chotes, Rancheiras, Mazurcas e Valsas.
As danças tradicionais gaúchas não são chamadas assim por terem se originado no ambiente campeiro, mas sim por que o gaúcho recebeu essas danças, sejam quais forem suas origens, e lhes deu características próprias. Por meio dessas danças é revelada a singeleza do bailar gaúcho na sua forma mais autêntica: as danças de projeção folclórica nos remetem aos bailes de antigamente, não deixando que nossa cultura e história acabem por cair no esquecimento.
Por meio das danças, a identidade do povo gaúcho é retratada: seus bailes, seus trajes e seus usos e costumes. A cada tema desenvolvido no palco, são enaltecidas as bases que norteiam os princípios da nossa sociedade – como o respeito à mulher, à nossa história, à nossa terra e à família. A diversidade das danças circula por vários momentos e gerações, contemplando danças de expressão, sapateio e vivacidade, as quais vão desde a alegria dos chotes dançados de forma espontânea até as danças mais cerimoniosas, que passam de pai para filho, dançadas entre famílias, e que podem ser demonstradas por avós e netos em um mesmo tema representado.
Por isso, entendemos que um povo que canta e dança a sua terra e suas origens é um povo que respeita seu passado e pensa no futuro. Desta feita, temos sempre a lembrança de um povo feliz que, em cada bailar, se expande. Somos PORTEIRA DO RIO GRANDE e isso nos basta para ser feliz.
* Denisson Monks é especialista em Gestão de Pessoas, atua como gestor de Recursos Humanos e é instrutor de danças tradicionais do CTG Porteira do Rio Grande há sete anos, além de participar do Movimento Tradicionalista Gaúcho há mais de 24 anos.
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