Diversidade, respeito e luta! Quem são os imorais?

04/05/2021

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Por Denise Mariano*

“Os imorais
se chocam
por nós
Por nosso brilho
Nosso estilo
Nossos lençóis”

Maio de 2021. Ainda hoje querem calar nossa voz, nossos afetos, nossos amores, nossa individualidade, nossa cidadania, nosso querer…

Pessoas e instituições preconceituosas sempre quiseram nos calar e se chocam com nossa existência. E nós? Lutamos, resistimos, militamos e sorrimos. Sim, sorrir é lutar, alegria é resistência e, em tempos sombrios, com tanta negação dos direitos básicos individuais, ter espaço para expressar nossas diferenças é reafirmar convicções de diálogo, de debate, de intercambiar ideias e saberes. E neste momento quero falar sobre isso, dos saberes que cada pessoa LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Queer, Intersexuais, Assexuais e Pansexuais) constrói, nutre e partilha ao longo de suas relações.

Para isso, permitam que eu me apresente. Meu nome é Denise, para alguns, sou a Denise Mariano, para outres sou a Dê, a Pro, a Basqueteira, enfim, são muitos “eu’s” e papeis sociais que, consciente, ou inconscientemente, desempenho, como qualquer um de nós. Trago aqui alguns deles: sou uma mulher cis, negra, lésbica, filha, casada, educadora, gestora, esportista e que hoje atua e compartilha a gestão de um grande e maravilhoso centro cultural, esportivo, ambiental e social que é o Sesc Itaquera. Sim, trabalho no Sesc SP e isso me deixa muito à vontade para trazer minha experiência sobre poder ser quem você realmente é no seu ambiente de trabalho, sem temer sofrer discriminação por minha orientação sexual. Isso é algo importante, fundamental e libertador.
 

Denise Mariano | Foto: Thais Ferreira

Escolhi a educação como campo de atuação profissional para que, por meio da reflexão, seja possível promover a tão desejada transformação social, e meu trabalho diz muito sobre mim, sobre esta luta e esta realização.

Fazer parte de uma instituição que escolhe debater e rever suas fragilidades e encara pensamentos, discordâncias, críticas e manifestações como oportunidade de crescimento e constante evolução, é ter certeza de que a educação é um forte pilar de sustentação de todos os valores relativos à diversidade, e isso é sempre uma forte razão para acolher as mudanças sociais.

Quando uma mulher negra e lésbica ocupa uma posição de destaque, todas as outras estarão lá com ela. Isso é extremamente simbólico e cada vez mais se apresenta como uma necessidade para que seja garantida nossa representatividade. Nesse sentido, temos muitas conquistas a serem feitas, ainda existem muitos “vazios” para serem ocupados por nós.

E essas lacunas de presença trazem dor, angústias e incertezas, pois os processos de mudança acontecem lentamente. Faz apenas 31 anos que no dia 17 de maio de 1990 a homossexualidade foi retirada da Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, em 2004, a data tornou-se o Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, marco da luta pela diversidade sexual e pelos Direitos Humanos. De modo também lento, somente em 2019, a OMS oficializou a retirada da transexualidade como transtorno mental da CID.

Nunca será demais dizer que direcionar luz sobre a relevância e necessidade da representatividade nas organizações é simplesmente constatar que pautas afirmativas devem ser efetivamente empregadas nas empresas, com criação de indicadores para monitoramento e contínua avaliação desses índices. Principalmente no Brasil que, segundo estudo da ONG Americana Out Now, ocupa a vergonhosa posição de primeiro lugar em comportamento/ações homofóbicas no ambiente de trabalho. Infelizmente, não é raro encontrar relatos de trabalhadores LGBTQIAP+ que já ouviram algum tipo de “piadinha sem maldade” de algum colega – inclusive esta que vos escreve.

Outra questão muito presente em nossas vidas é o convívio com as mais variadas modalidades de violência, seja no núcleo familiar, social ou corporativo, que, em grande número chegam à letalidade. O Grupo Gay da Bahia (GGB) apresenta um relatório que nos diz que em 2018 a cada 23 horas uma pessoa LGBTQIAP+ foi assassinada.

São dados estarrecedores que expõem exatamente o tamanho do preconceito, intolerância, risco e falta de empatia que lidamos cotidianamente, sem mencionar as agressões que sequer são notificadas e não são contabilizadas nas estatísticas.

Portanto, essa luta não é só minha, não é só do Sesc, não é só da minha família ou amigues, ela é de toda a sociedade, ela é de toda humanidade, porque somos todes ricamente diversos em nossa essência e plenitude.

Obviamente sei que minha fala está concentrada dentro de uma situação privilegiada, pois minha família, amigues e colegas de trabalho me respeitam e acolhem, o que infelizmente não representa a realidade da maioria das pessoas LGBTQIAP+. No entanto, como educadora, acredito e trabalho incansavelmente para que, de alguma maneira, minhas atitudes possam inspirar e despertar empatia e, intimamente, torço para que esse movimento reverbere em todos os segmentos da sociedade.

O Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia é sempre uma grande oportunidade de reflexão e mudança de comportamento. Permita-se deixar contagiar e transforme o mundo à sua volta num lugar de esperança, convivência e afeto para todes.

Tomo carinhosamente emprestadas as palavras de Zélia Duncan e Christiaan Oyens, na canção “Os Imorais”, do álbum “Acesso” para abertura e encerramento deste texto, porque a expressão por meio das artes significa e transforma desejo em potência.

Sejamos potentes!

“Mas um dia, eu sei
A casa cai
E então
A moral da história
Vai estar sempre na glória
De fazermos o que nos satisfaz”

*Denise Mariano é mulher cis, negra e lésbica, gerente adjunta do Sesc Itaquera, graduada em Educação Física, pós-graduada em Educação Motora e MBA em Bens Culturais, Economia e Gestão.

Durante o mês de maio, buscando evidenciar realidades, desconstruir preconceitos, e estereótipos vinculados às pessoas LGBTQIA+, além de fomentar a livre expressão das diferenças, o espaço de diálogo e convivência, o respeito e a transformação social, o Sesc São Paulo, por meio de suas redes digitais, realiza a ação Legítima Diferença. Acompanhe aqui a programação.

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