Foto: Acervo Sesc Santana
Quando criança, não via a hora de as férias chegarem.
Era tempo de ir para a rodoviária, pegar o ônibus de viagem e encarar 7 horas de estrada rumo à casa da minha avó. Devido à distância em relação da capital, a viagem ocorria no período noturno.
Durante o caminho o motorista entrava em diversas cidades para deixar passageiros em seus destinos. Lembro-me de admirar as luzes dessas cidadezinhas, suas construções, sua rodoviária, de sentir o cheiro de mato e da chuva que às vezes caia durante a madrugada. A cada cidade vencida, o meu destino estava mais próximo.
Ao chegar à cidade da minha família, última parada dessa jornada pelas estradas paulistas, sentia-me diferente. Sabia que o melhor da vida de uma criança estava a poucos passos: gerações de uma família, primos, brincadeiras de rua e uma mescla da culinária paulista, mineira e goiana.
Chegando à casa da minha avó, cozinheira nata que usava o dom das panelas para sustentar uma pequena grande família, sentia o cheiro de lenha queimada, do café sendo torrado e o calor do fogão a lenha. Melhor que isso, apenas o amor que sentia ao participar desta cena…
Na cozinha quentinha via minha avó fazer pães e roscas com uma maestria cirúrgica: a massa não desandava, o melado estava sempre no ponto e nada melhor do que assar essas gostosuras no fogão a lenha. A melhor parte? Provar tudo, claro!
A cozinha sempre foi território comum na minha infância. Lá via gerações passarem conhecimento prático para os mais novos, aprendia a fazer coisas diferentes e – o melhor de tudo – compartilhávamos tudo o que tínhamos: o pão, o amor, as dúvidas, os anseios, as risadas… E isso tem um nome: família!
Hoje, aprendi que não preciso me deslocar tanto para ter a mesma sensação.
Com o desenvolvimento da tecnologia e da sociedade, podemos fazer tudo isso em qualquer lugar, em qualquer momento.
Infelizmente não temos mais o fogão a lenha, o café torrado na hora e o cheiro de mato. Mas continuamos com a essência que propiciou toda essa experiência: compartilhar um pouco de nós mesmos com os outros. O pão deve ser compartilhado com todos: esposo, esposa, filhos, pais, mães, primos, amigos, colegas, vizinhos, amores e até um novo amigo que há poucos minutos era um ilustre desconhecido…
Tudo pode ser compartilhado. Onde está a sua cozinha?
Viva e compartilhe o dom da sua panela!
Por Geraldo Cruz, Editor Web do Sesc Santana.
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