Centro de treinamento da Seleção Granja Comary no RJ_Foto_Divulgação
“Bola na rede não altera o placar, bola na área sem
ninguém pra cabecear, bola na rede pra fazer o gol,
quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”
Quase todo brasileiro conhece essa música, né? Se você ainda não conhece, a gente te conta um pouquinho: este é o primeiro verso da canção “É uma Partida de Futebol”, da banda de rock brasileira, Skank. A música foi composta pelos músicos Nando Reis e Samuel Rosa, e foi lançada em 1996. Para quem gosta de futebol, essa música é um dos grandes clássicos do mundo futebolísticos. É com ela que vamos narrar a “jogada” da atleta Lucilene Rodrigues e sua trajetória desde sua passagem pelo Curumim do Sesc Interlagos, até chegar à Seleção Brasileira de Futebol Feminino.
Nascida e criada na região do Grajaú, precisamente no bairro do Orion, do ladinho do Sesc Interlagos, Lucilene, a Lu, como é conhecida por aqui – sempre foi apaixonada por futebol. “Eu queria muito entrar numa escolinha de futebol, mas só tinha meninos nas escolinhas perto de casa. Minha mãe não deixava”. Desde muito pequena ela ficava de casa observando os garotos jogarem futebol na rua – com uma vontade imensa de estar junto. Com isso, vinham os receios dos julgamentos sociais que há muito tempo tentam limitar as mulheres de expandir em diversos âmbitos profissionais e pessoais. Além disso, o medo de que a filha pequena se machucasse fisicamente jogando com os meninos fizeram com que sua mãe, naquela época, não permitisse que ela entrasse na brincadeira. Mas a Lu não desistiu no final da primeira partida. Afinal, já dizia o ditado: “um jogo só acaba quando o juiz apita”. Incansável e certa do que queria pra vida desde muito cedo, continuou insistindo para colocar seu amor pelo esporte em campo. Foi quando em um dos passeios dominicais com a família ao Sesc Interlagos, ela conheceu o programa Curumim. O ano era 2010, quando tinha apenas sete anos de idade, exatamente a faixa etária mínima para participar do programa: “Eu entrei no Curumim com sete anos e saí com a idade máxima, doze anos. No Curumim eu aprendi muitas coisas. Me motivou mais a praticar o esporte porque lá não tinha só eu de menina que jogava bola”.
O Curumim é um programa desenvolvido pelo Sesc SP como uma ação socioeducativa voltada para crianças de 7 a 12 anos. São realizadas atividades culturais, esportivas, socioambientais, passeios e brincadeiras. Tudo com o objetivo de desenvolver a autonomia, cidadania e o senso crítico da criança.
O Sesc Interlagos possui um Complexo Esportivo com quadras de futebol Soçaite, Vôlei, Ginásio poliesportivo, Pista de Atletismo e Campo de futebol. Além do projeto Curumim, realiza programas voltados para crianças e adolescentes com foco específico na pratica esportiva: Esporte Criança e Esporte Jovem.
Educador Everton Miranda e Lucilene em atividade no Curumim do Sesc Interlagos
Foto: Acervo pessoal da atleta.
Quando começou a participar do Curumim, Lucilene estudava no período da manhã e ia ao Sesc no período da tarde, de quarta a sexta-feira. Foi no Sesc Interlagos que ela teve o seu primeiro contato com o futebol soçaite. “Eu me apaixonei pelo futsal”. Aos nove anos, surgiu a oportunidade de entrar numa escolinha de futsal, na região de Santo Amaro, onde passou a treinar todos os sábados. Não demorou muito pra ela começar a se destacar na escolinha. Consequentemente ao bom desempenho, a nossa craque mirim recebeu três convites de times diferentes para seguir na modalidade. “Se eu aceitasse eu teria que sair do Curumim, e eu não queria sair. Então, eu não aceitei”. Todo bom jogador sabe avaliar o momento certo de passar a bola ou chutar para o gol. E com Lucilene não foi diferente. Ela sabia exatamente a tática que estava aplicando e decidiu arriscar.
Lucilene continuou com a gente, mas sem perder o foco nos seus objetivos. Perto de completar 12 anos, idade que teria que deixar o Curumim, ela foi convidada para fazer um teste para futebol de campo no time Audax em Osasco. Passou no teste como atacante e ficou no Clube. Ao longo dos treinos, os técnicos perceberam um potencial diferente nela e pediram para testa-la como goleira. “Eu passei como goleira e fiz quatro jogos como titular no Campeonato Paulista de 2017”.
Segundo a Lu, foram os quatros jogos mais desafiadores de sua vida: “nesses quatro jogos eu não sabia catar nada. Mas, eu dei o máximo de minha vida, e, consegui ser convocada para a Seleção Brasileira”.
Hoje com17 anos de idade, Lucilene coleciona as experiências e viagens com a Seleção Feminina sub 17, na qual permaneceu por dois anos como goleira titular. Viajou o Brasil e o mundo. “Eu tive a alegria de ser campeã na Argentina, no Campeonato Sul-Americano. Foi uma alegria imensa. Mas um lugar que eu nunca esperava conhecer, e que eu tive uma alegria enorme quando eu soube que iria, foi a África”.
Final do Campeonato Sul-Americano
Foto: Acervo pessoal da atleta
Sabe a música É uma Partida de Futebol, de que falamos lá no comecinho deste artigo? Então, a música termina com essa frase: “Que emocionante é uma partida de futebol”. Pois é! Toda partida de futebol é composta por dois tempos, muita garra e muita emoção. Garra é uma das características mais cobradas do jogador de futebol – e não sentimos falta dela na trajetória da nossa jogadora, não é mesmo? No entanto, é importante ressaltar que todo jogo é feito em equipe e com um bom treinador. Estruturas como a família, a escola e o Curumim exercem papel fundamental para o aprendizado e a autoestima das crianças e foram, no caso da Lu, essenciais para ela chegar aonde desejava. Juntos, nos tornamos hora treinador, hora torcedor, às vezes juiz – mas empre, sempre, um time! Com todo esse apoio, a nossa atleta entrou em campo, driblou as adversidades e tocou a bola. Recuou quando deveria, mudou a tática de jogo, buscou jogada nova e partiu pro ataque. Arriscou, ousou e marcou o seu belíssimo gol de placa!
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