A abertura da ação em rede Nós: criação, trabalho e cidadania, realizada nos dias 8 e 9 de novembro, no Sesc Campo Limpo, teve como objetivo destacar e discutir o trabalho como ferramenta de inclusão e transformação social.
A seguir, você acompanha um pouco do que aconteceu.
Feira de Iniciativas sociais
O protagonismo na ponta do negócio
Durante os dois dias do evento, a Tenda do Sesc Campo Limpo se transformou num espaço de compartilhamento de experiências em economia solidária e trocas de saberes (tradicional, popular e/ou acadêmico), por meio de uma feira. A presença de 20 iniciativas locais (Bioafetiva, Criativitude, Boutique de Krioula, Aldeia do Tecer, Coletivo Dedo Verde, Studio LilianSeraos, Em.feito, Loyal, Papel de Mulher, Enjoy Orgânicos, Carol Itzá, Mulheres do Bororé, E-Bairro, Selo Sarau do Binho, Além da Lenha, Rede Balsear, Akotii, Editora Filo Czar, YaraObá, Loja Evelyn Daisy) mostrou a importância de incentivar o comércio local e o impacto positivo que tais ações proporcionam para a comunidade.
“Eu acho que é muito subjetivo falar sobre apropriação cultural, as pessoas vão ter visões diversas, então eu vou falar sobre o que eu acredito enquanto negra, mulher e empreendedora. Para mim, a ideia de apropriação cultural é vestir algo ou defender uma identidade que não é sua sem o mínimo de consciência. Por exemplo, vou colocar essa camiseta e defender ela como minha? Não. Eu vou comprar, vou usar essa camiseta entendendo a história dela, entendendo e respeitando de onde ela veio, o por que dela estar aqui, qual a importância dela e qual a importância de eu vesti-la e comprá-la“, Marina Barbosa – YaraObá.
Os sentidos do trabalho
Do indivíduo para o coletivo
Presente na abertura do evento, o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, ressaltou a importância da compreensão do trabalho num sentido amplo, como fazeres capazes de gerar sentidos e a importância deste para o ser humano e seus diferentes aspectos, em que a geração de renda deve considerar a coletividade, a produção criativa e a identidade.
“Nós estamos nesse mundo para realizar ações que engrandecem a nossa pessoa, as pessoas a nossa volta, a sociedade que colabora no sentido de proporcionar aquilo que é necessário para nós, para a população a nossa volta, para as pessoas amigas, as nossas famílias. E isso significa lidar com as mãos, com a inteligência, com a nossa capacidade de realizar e fazer. E nós chamamos tudo isso de trabalho”, Danilo Santos de Miranda – diretor do Sesc São Paulo.
O conhecimento
Dividindo se multiplica
Cláudia Leitão, diretora do Observatório de Fortaleza, por sua vez, fez uma reflexão sobre a importância da contribuição dos setores culturais (aspectos econômicos, sociais, ambientais e simbólicos – cultura, arte, ancestralidades) e destacou que estes, quando vinculados, auxiliam na inovação e no desenvolvimento da região.
“O que a gente quer é uma economia criativa que desconcentra, que permita a todos entrarem dentro das redes e arranjos produtivos locais”, Cláudia Leitão – diretora do Observatório de Fortaleza.
Muitos coletivos pensam melhor que um
Economia da cultura criativa, trabalho e coletividade
Durante um bate-papo com a participação de Marta Bergamin (FESPSP), Andreza Jorge (Redes da Maré – RJ), Thiago Vinícius (Agência Popular Solano Trindade) e mediação de Virgínia Chiaravalloti (Sesc SP) foram realizadas trocas a respeito das experiências culturais periféricas e suas contribuições na criação de oportunidades de acesso ao mundo do trabalho e de construção da trajetória profissional e coletiva.
Por meio da dança contemporânea e das danças populares (jongo, ciranda, maculelê e samba), o grupo Mulheres da Maré (RJ) apresentou o espetáculo Obinrin – Ventos na Maré, abordando reivindicações de todas as mulheres e a luta pelos desejos de igualdade, além de questões sobre artes e africanidade.
A arte que é empoderada
Apresentação do espetáculo Obinrin – Ventos na Maré
Por meio da dança contemporânea e das danças populares (jongo, ciranda, maculelê e samba), o grupo Mulheres da Maré (RJ) apresentou o espetáculo Obinrin – Ventos na Maré, abordando reivindicações de todas as mulheres e a luta pelos desejos de igualdade, além de questões sobre artes e africanidade.
Não é competindo, mas compartilhando
Economia solidária, comercialização e grupos de consumo
Em uma mesa com Eliane Navarro Rosandiski (PUC Campinas), Joyce Izauri (Enjoy Orgânicos), Thais Mascarenhas (Instituto Kairós), com mediação de Lilian Ronchi Oliveira (Sesc Santos), foi discutida a importância do fortalecimento de empreendimentos e de grupos de trabalhadores que praticam sistemas cooperativos de gestão de seus negócios.
“O nascimento do Enjoy foi logo depois do nascimento do Valentin, meu filho. Eu e o meu companheiro queríamos oferecer orgânico para ele e eu fui demitida depois da licença maternidade. Então a gente pensou: e agora?! A gente não vai poder acessar mais os orgânicos. Ao mesmo tempo, a gente viu a demanda que tinha dos nosso vizinhos, então foi uma conexão, foi dizer assim: eu quero para mim e quero oferecer para eles. Faz sentido para mim, faz sentido para eles e, assim, nasceu o Enjoy“, Joyce Izauri – Enjoy Orgânicos.
O gosto da periferia
Empreendedorismo social na gastronomia
Bel Coelho (Chef do Clandestino), Chef Rafita Soldan (Dulocal), Sara Barbosa (Gastronomia Periférica), com mediação de Fábio Vasconcelos (Sesc SP), falaram sobre o alimento como um dos aspectos da cultura, a gastronomia como ferramenta de inclusão e transformação social, criadora de oportunidades de trabalho e a democratização do acesso à alimentação saudável e justa.
“Fazer com que a vida na periferia seja baseada nas pautas da periferia de fato, e não nas pautas que vêm de cima para baixo. Daí , a gente tem a intenção de acrescentar a gastronomia em algumas pautas culturais que já são mais estabelecidas na periferia, como música e literatura, entre outras. E a gente pensa na gastronomia fazendo parte desse ciclo, pois a gastronomia é afeto“, Sara Barbosa – Gastronomia Periférica.
A criatividade da borda
Empreendedorismo social no design, moda e artesanato
Com a presença da historiadora de design, Adélia Borges, da designer e articuladora social, Paula Dib, do escritor e sócio da loja 1daSul, Ferréz, e mediação de Guilherme Leite Cunha do Sesc Bertioga, foi discutida a importância do fazer artesanal e autoral como resistência, valorização do trabalho e do trabalhador e dos saberes tradicionais e a criação de produtos de impacto social.
“A dificuldade que tive para fazer uma marca na periferia veio do desacreditar das pessoas, as pessoas não acreditam no potencial dela [periferia]“, Ferréz – escritor e sócio da loja 1daSul.
Desfile da periferia
Romper com a moda negada e criar uma própria, a contra-moda
Em sua 9ª edição, o Desfile Loyal chegou no Sesc Campo Limpo para agitar os sentidos da plateia e apresentou o universo da região formada pelos bairros do Capão Redondo, Jardim São Luiz e Jardim Ângela, que, por muitos anos, ficou conhecida como triângulo da morte e estigmatizada como “o lado ruim” da sociedade. Com moda sustentável, customização, música, audiovisual, performances, dança e intervenções, o desfile exaltou a potência do povo periférico e a necessidade de se criar uma moda própria.
”A gente quer transformar a margem no próprio centro, no sentido de não precisar atravessar a ponte para lá, porque além do que está lá ser difícil de acessar, a gente também não consegue por conta do poder aquisitivo mesmo. Então, quando eu penso na questão da economia rodando da periferia é questão de potencializar a periferia em qualquer vertente, não é só na moda, mas também na gastronomia. É poder ver minha vizinha vendendo a geleia dela, comprar roupa boa no brechó do bairro. Então eu acho que a gente começa a criar a fazer as coisas rodarem pra gente”, Jaque – Loyal.
O público
E tudo isso é possível por conta das pessoas!
Foto: Lúcio Érico
Os relatos dos participantes da abertura do Nós: criação, trabalho e cidadania reforçam o valor da ação.
”Eu estou achando tudo de bom [a feira de iniciativas sociais]! É incrível tudo que o pessoal faz e produz, gerando renda. Isso é tão importante para a sobrevivência de todo mundo, além de deixar as pessoas felizes. Eu tô pirando com todos os produtos. É tudo feito com muito carinho, além de ter história. É totalmente diferente de você comprar em um mercado ou shopping. Aqui você conhece a história de cada pessoa”, Sabrina Yenihuh – Estudante de design.
”Eu sou apaixonada por esses negócios, feira de artesanato, eu gosto bastante”, Gerosina Cardoso de Souza – aposentada.
Se você ficou com vontade, ainda é possível experimentar um pouco de tudo isso. O Nós: criação, trabalho e cidadania acontece até o dia 17 de novembro, em várias unidades do Sesc São Paulo. Todas as atividades são gratuitas.
Para acompanhar a programação completa, é só clicar no botão abaixo.
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