Child of the Great Box (2014), by Gwaai and Jaalen Edenshaw | Foto: Mike Peckett
Investigar novas possibilidades dialógicas a partir do encontro entre a produção de artistas dos povos Guna (Comarca Kuna Yala, Panamá), Haida (Arquipélago de Haida Gwaii, Colúmbia Britânica, Canadá), Huni Kuin (Terra Indígena do Alto Rio Jordão, Acre, Brasil), Shipibo-Konibo (Comunidade de Cantagallo, Lima, Peru, e Alto Ucayali, Amazônia Peruana) e Tahltan (Telegraph Creek e Vancouver, Colúmbia Britânica, Canadá) é o objetivo da exposição inédita Encontros Ameríndios, realizada pelo Sesc Vila Mariana, de 31 de julho de 2021 a 13 de fevereiro de 2022, sob coordenação de Sylvia Caiuby Novaes e curadoria de Aristoteles Barcelos Neto.
“A ideia de encontro de alteridades é fundante dos mundos sociocosmológicos ameríndios. Encontros interculturais e intercomunitários são amplamente valorizados pelos índios tanto da Amazônia quanto da Colúmbia Britânica que, com suas famosas Potlatch, se reúnem para celebrar sua ancestralidade e riqueza cultural e material. Os artistas reunidos nesta exposição são os protagonistas de novas possibilidades dialógicas entre as estéticas, técnicas artísticas e criatividades ameríndias”, afirma Barcelos Neto.
Com obras de Alano Edzerza, artista multimídia do povo Tahltan; o trabalho escultórico dos irmãos Gwaai e Jaalen Edenshaw, artistas Haida; as sobreposições de tecidos de Ana Bella Fernandez, Angelmira Owens Perez, Benilda Mores, Briseida Iglesias, Buna Bipi, Conciencia Grace Rodriguez, Dilma Gardel, Edita Lopez, Emilsy Fernandez, Flor Fernandez, Gilda Tejada, Lea Amelta Tejada, Lonilda Gonzalez, Lucrecia Places, Rosalia Tejada e Victoria Gonzalez, artistas Guna; os padrões geométricos bordados de Olinda Silvano, Wilma Maynas, Silvia Ripoca, Ronin Koshi Arias Silvano e Dora Inuma Ramírez, artistas do povo Shipibo-Konibo; e pinturas de artistas Huni Kuin do coletivo MAHKU, Encontros Ameríndios destaca, entre outros aspectos, a representação das transformações, uma das principais questões filosóficas das artes indígenas ameríndias, expressa nas aplicações de motivos geométricos e figurativos.
Como consequência das dinâmicas do sistema colonial, somente nas últimas décadas a produção artística de povos ameríndios passa a encontrar reconhecimento e valorização no campo da arte – de maneira expressiva na América do Norte e Oceania e, somente mais tardia e lentamente, na América Latina. Até então relegadas à categoria de objeto etnográfico ou simplesmente artesanato, esses trabalhos – que chegam a um público cada vez mais amplo, provocando uma importante renovação no panorama das artes global – refletem também a “tenacidade para superar as opressões do processo histórico de esbulho e tentativas de dominação que sofreram, sua capacidade de superar adversidades, sua autodeterminação”, explica Caiuby Novaes.
Ainda que compartilhem experiências históricas semelhantes de dominação e opressão colonial – mas também de resistência comunitária e étnica –, os/as artistas reunidos/as nessa mostra possuem preferências plásticas e estéticas diversas e, inspirados por conhecimentos ancestrais, são criadores de visualidades singulares sobre relações cosmológicas, ecológicas e mitológicas.
Encontros Ameríndios reflete, portanto, uma das premissas do Sesc São Paulo, que é a valorização da diversidade cultural. Nesta exposição, para além da perspectiva antropológica, propõe-se também uma aproximação às manifestações culturais desses povos a partir de critérios artísticos – de suas pinturas com pigmentos naturais a seus trabalhos com arte digital –, considerando essas produções não somente como objetos etnográficos, mas destacando também os diferentes modos de ser e estar no mundo que essas obras revelam.
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