Alexandre Ohkawa iniciou seus estudos numa escola regular (não especializada para surdos). Lá aprendeu a oralizar e se perceber no mundo ouvinte. Logo aprendeu a LIBRAS, língua brasileira de sinais. Já na faculdade, formou-se e exerceu a profissão de arquiteto. Sua maior contribuição com as ações e conquistas da comunidade surda se deu pela dedicação e engajamento ocorrido num período em que esteve sem trabalho, daí começou o debate e a frequentar mais congressos e conferências, muitos deles falavam sobre acessibilidade e inclusão, mas com um discurso vindo de pessoas sem deficiência para outras pessoas sem deficiência.
Ohkawa comentou sobre uma dessas ocasiões:
“Queria fazer uma pergunta, peguei o microfone, só que aí eu comecei a falar só em libras, durante três, quatro minutos. Todo mundo me olhava incredulamente, ninguém entendeu nada do que eu estava falando, aí depois eu peguei o microfone e comecei a falar ‘e aí, vocês entenderam o que eu estava falando? Pois é, eu sou surdo, já que vocês estão falando sobre acessibilidade e inclusão social, por que que não tem nenhuma pessoa com deficiência aqui? Eu não estou vendo intérprete de libras aqui, eu não estou vendo legenda’”.
Nesse mesmo período, interessou-se pelas artes e, através de um projeto de teatro para surdos, buscou criar uma metodologia de ensino para eles junto ao professor de teatro ouvinte. Assim, ao longo de três anos de pesquisa, ele realizou experiências e práticas na escola Recriarte e desenvolveu uma peça de teatro de perspectiva surda, a partir dos sinais encontrados na língua brasileira de sinais (Libras). Além da escola, também participou de oficinas de dança contemporânea e de movimentos corporais. Com a prática, começou também a prestar consultoria de acessibilidade e Libras na esfera artística e cultural. Ohkawa dedicou-se a experiências e expressões artísticas de diferentes tipos para identificar quais discursos faziam sentido para a interpretação dos surdos, que têm na visão sua forma principal de perceber o mundo.
“Então eu pergunto: cadê a referência no meio da arte da pessoa com deficiência? Artistas surdos e surdas não tiveram atenção da sociedade, foram apagados”.
A partir de provocações como essa, Ohkawa criou uma parceria com o coreógrafo e diretor – ouvinte – Rodrigo Vieira, a obra “Se Piscar já Era”, uma dança entre dois surdos e dois ouvintes.
“Ele [Rodrigo] estreou em 2015 a obra #Passinho, um espetáculo de dança do Passinho lá na Galeria Olido em SP. Quando eu vi aquele movimento eu achei fantástico, porque contava a história do movimento do corpo das dançarinas e dançarinos de comunidades do Rio de Janeiro. Contava através do corpo, a história desta dança, e contatada pelos próprios jovens dançarinos. Tudo estava lá no corpo, era expressão”.
Então, juntos decidiram criar uma conversa entre a surdez e o passinho, como ponto de partida observar os movimentos da cintura para baixo, encontrado no Passinho, com a Libras, que utiliza movimentos das mãos, peito e expressões faciais.
“Os surdos, que não ouvem sons agudos, sentem no ar a vibração dos sons graves, mas não têm a menor noção de que música está tocando, então eles observam o movimento do corpo das outras pessoas”.
Na obra Se piscar já era, Ohkawa desenvolveu uma pesquisa para entender quais são os movimentos próprios dos surdos, pois muitos movimentos tradicionais de dança são baseados no som. “O que são movimentos e dança não sonoros?”, a obra questiona. As primeiras apresentações do Se Piscar já Era acontece em novembro de 2021 no Teatro Sérgio Cardoso em São Paulo. Ohkawa é também embaixador do Web para Todos, movimento que busca uma maior acessibilidade digital; Community Manager da empresa Hand Talk – app de tradutor de libras, e presidente da Associação de Surdos do Estado de São Paulo – Associação Vem Sonhar.
Sobre o Simpósio, ele diz:
“O que eu posso esperar acontecer é que as pessoas do simpósio saiam transformadas, que tenham um olhar diferente, um olhar mais acessível, romper o olhar capacitista e assistencialista, é simplesmente isso. E espero que ajude a conscientizar, a abrir não só o olhar, mas escutar pessoas diferentes, convidar pessoas diferentes para fazer parte de projetos artísticos, fazer com que sejam diretores criativos, fazer com que sejam coordenadores, equipe técnica etc e isso vai começar um novo debate sobre quem ouve e quem não ouve.”
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