Ele fez parte do time paraolímpico de judô, pratica corrida de rua, corrida de aventura e meia maratona e já escalou duas montanhas: o Monte Elbrus, na Rússia e o Kilimanjaro, na Tanzânia. Este é Eduardo Costa, professor de educação física e massoterapeuta cego.
Nascido com deficiência visual, desde a infância Costa era percebido como diferente. A deficiência na visão central de Costa (restando-lhe a visão bilateral) era motivo de chacota.
“Só que eu não levava desaforo para casa: um moleque zoava com a minha cara, eu enfiava a mão na cara do moleque”.
Depois de assistir ao judoca Aurélio Miguel na televisão, Costa tinha o desejo de praticar a arte marcial para melhorar suas habilidades na briga com outros garotos na rua. Ao começar a prática de judô, ele descobriu que esse não é o propósito da modalidade e passou a evitar as brigas o máximo que podia.
Mais tarde, ao se deparar com a necessidade de escolher entre a prática profissional do judô e o desempenho de outra atividade laboral, Costa decidiu deixar a arte marcial e tornou-se avaliador olfativo. Fora do horário de trabalho, Costa praticava corrida de rua. Foi quando conheceu o Grupo Terra, que levava pessoas com deficiência visual para passeios de integração com a natureza.
“Poucos deficientes visuais têm acesso a esse tipo de coisa, principalmente em trilhas, em áreas rurais, porque as pessoas acham ‘ah, um deficiente visual não dá para andar nesse lugar’.”
Em um desses passeios, os voluntários perguntaram qual era o sonho dos participantes.
“Eu tenho um sonho de fazer uma corrida de aventura”
Costa, comentando dos programas do Esporte Espetacular que mostravam a modalidade.
“Os caras fazendo corrida de cinco dias, dez dias, aquelas coisas insanas: remando, pedalando, correndo, fazendo rapel.”
“A nossa primeira corrida de aventura foi em São Luíz do Paraitinga.”
Os voluntários ajudaram Costa a realizar o seu sonho.
“Eram dois dias de prova e a gente começou. A gente foi de tênis de rua, calça tactel, mochila de escola.”
A partir daí, o Grupo de Costa foi se equipando e adquirindo experiência. Conseguiram parcerias, com as quais receberam treinamento de corrida, de remo, de nutrição e estrutura para musculação e funcional. Também fizeram uma vaquinha para comprar duas bicicletas tandem (de dois lugares), em que o condutor vai na frente e outra pessoa vai atrás auxiliando nos pedais.
“Aí a nossa posição na corrida de aventura começou a mudar”.
Competindo em quarteto, era o único cego da equipe.
“Das 100, 150 equipes, a gente começou a ficar entre as 20 e 30 melhores equipes”.
A equipe de Costa chegou a ficar entre as oito melhores da corrida.
“Às vezes a parte de corrida, em trilhas mais técnicas, para a gente era mais complicado. Só que na hora que a gente subia na tandem ou entrava no remo, segura! Porque agora a gente está de igual para igual, vai prevalecer a técnica. Foi aí que começamos a levar vantagem sobre as equipes”.
Seguindo a trilha das corridas de aventura, Costa conheceu o projeto Expedições Inclusivas, por meio do qual atravessou o Deserto do Jalapão, em Tocantins, e iniciou um projeto para desenvolver o montanhismo sensorial, com o objetivo de que Costa fosse a primeira pessoa com deficiência visual da América do Sul a escalar a montanha mais alta de cada continente. Assim, Costa escalou o Monte Elbrus, na Rússia, e o Kilimanjaro, na Tanzânia.
“Então eu saí de um gelo para um vulcão ativo”.
Por dificuldades financeiras, o projeto foi encerrado após essas duas expedições.
Agora, Costa está envolvido no projeto Aventura Inclusiva, com o objetivo de preparar profissionais para guiar cegos em atividades na natureza. O projeto deve iniciar suas atividades em 2022.
Costa afirma que, quando as pessoas com deficiência visual têm contato com esse tipo de atividade, enfrentar os desafios de mobilidade no dia a dia torna-se mais fácil.
“Hoje eu pego as calçadas todas destruídas e falo ‘ah, isso aqui é mel na chupeta, eu já passei por coisas 10 e 15 vezes piores que isso”.
Costa também é massoterapeuta. E busca integrar os conhecimentos da educação física em sua profissão, fazendo recomendações e orientando seus clientes na prática de atividades físicas.
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