Detalhe da tela de Albert Edelfelt que retrata Louis Pasteur | Crédito: Institut Pasteur de Paris
A trajetória e os feitos do cientista francês que ainda em vida, no século XIX, tornou-se uma lenda são o tema da mostra interativa Pasteur, o Cientista, que fica em cartaz na unidade do Sesc Interlagos, na zona sul da capital paulista, de 6 de fevereiro a 26 de julho de 2020
Um gênio da ciência, um pesquisador obstinado e um mestre na difusão de saberes científicos, Louis Pasteur nasceu em 1822, no interior da França, em uma família de curtidores de couro. Os estudos e as descobertas que realizaria em sua vida, até a morte em 1895, aos 72 anos, trouxeram avanços importantes para a química e a medicina no século XIX. Ele foi um dos criadores da microbiologia e redefiniu horizontes ao provar a existência de micro-organismos – responsáveis por doenças infecciosas – e descrever como eles se reproduzem, proliferam e colonizam outros organismos.
Pasteur estudou bactérias, vírus, fungos e demais seres infinitamente pequenos. Estabeleceu, assim, novos paradigmas para as ciências e novos procedimentos inclusive para a medicina, salvando incontáveis vidas ao introduzir a assepsia nos cuidados com doentes – antes disso, era comum que os médicos sequer lavassem as mãos nos atendimentos.
Pesquisador respeitado entre seus pares – era rigoroso quanto a atenção aos métodos científicos –, ganhou fama mundial também junto ao grande público ao descobrir a vacina contra a raiva, em 1885. No Brasil, tinha muitos seguidores e admiradores, entre os quais o imperador Pedro II (1825-1891). O sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) foi um dos cientistas que trabalharam na esteira de suas realizações.
Montagem anterior da exposição no Palais de la Découverte, em Paris, em dezembro de 2017 | Crédito: Institut Pasteur de Paris
A mostra Pasteur, o Cientista, organizada e concebida pela Universcience – órgão do Ministério da Cultura da França – tem a curadoria de Éric Lapie e Astrid Aron e a curadoria científica de Maxime Schwartz. No Sesc Interlagos, conta com 730 m² de área expositiva e traz a vida e a obra de Pasteur por meio de vídeos, grafismos, animações, projeções, textos e desenhos. A exposição estreou no Palais de la Découverte, em Paris, em dezembro de 2017 – ficando em cartaz até agosto de 2018. Pela primeira vez fora da França, no Brasil, a exposição, que tem aqui também a curadoria nacional de Juliana Manzoni Cavalcanti e Vanessa Pereira Mello (Fiocruz), é uma realização do Sesc São Paulo e da Universcience, com patrocínio da Sanofi Brasil e do Magazine Luiza e apoio da Embaixada da França no Brasil, a Fiocruz e o Instituto Butantan.
Na mostra, que abre em São Paulo no dia 6 de fevereiro de 2020, o visitante não apenas tem a oportunidade de conhecer a ciência do século XIX – época de considerável desenvolvimento e inovações – mas também pode reviver as descobertas de Pasteur em experiências interativas. A exposição faz uma permanente contextualização da trajetória do cientista francês, principalmente em relação aos acontecimentos da Europa e às descobertas do chamado século das invenções – em que surgiram o trem, a fotografia e o cinema, os motores a explosão, os dirigíveis, o telégrafo, o telefone, a iluminação pública e tantos outros símbolos da modernidade.
“Embora atualmente pareça absurdo pensar num sapo surgir da lama, tal ideia era aceita até meados do século XIX”, diz Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. “Para que uma concepção acertada quanto à geração da vida se estabelecesse, foram necessários esforços que contaram com um dos cientistas mais importantes da modernidade, Louis Pasteur, responsável por revolucionar campos do conhecimento como a biologia e a medicina“. Para o diretor, essa mostra, “no contexto da ciência, traz lições valiosas para aplicarmos em todas as esferas da vida: a abertura constante ao diálogo e às críticas, a recusa a dogmatismos e a verdade enquanto norte de um esforço coletivo“.
Instalação dedicada à fermentação do vinho na montagem francesa da exposição | Crédito: Institut Pasteur de Paris
Pasteur não foi o primeiro nem o único a criar uma vacina, mas sua pesquisa e a aplicação da antirrábica o transformou em símbolo da imunização. Era um cientista com visão aplicada: trabalhou na pesquisa ligada à indústria e a atividades econômicas importantes, aperfeiçoando métodos de cultivo e processamento de indústrias importantes como as do vinho, da seda e de animais de corte. Resolveu problemas logísticos – dá nome ao processo de conservação de alimentos batizado como pasteurização – e salvou atividades econômicas prejudicadas por pragas.
Foi também um brilhante comunicador. Sabia chamar a atenção da comunidade científica e da população para assegurar que suas descobertas chegassem ao maior número possível de pessoas, com demonstrações públicas e grandiloquentes de suas descobertas. “Para provar ao público reunido na Sorbonne que as bactérias estavam por toda parte, mesmo no ar, ele direcionou um projetor de luz para iluminar os grãos de poeira“, ri Astrid Aron, museógrafa da exposição.
Era também um empreendedor, registrando patentes e criando empresas para explorar suas descobertas. “Seu principal objetivo não era reunir uma fortuna, mas assegurar fundos para prosseguir com as pesquisas” explica o curador científico Maxime Schwartz, ex-diretor geral do Instituto Pasteur, entidade com braços espalhados pelo mundo, criada ainda em vida pelo próprio cientista, no final do século XIX.
Instalações dedicadas aos temas das doenças infecciosas e da vacinação na montgem francesa da exposição | Crédito: Institut Pasteur de Paris
Estruturada em um prólogo, cinco atos e um epílogo, como em uma peça de teatro, a exposição do Sesc Interlagos apresenta as descobertas de Pasteur em ordem cronológica: da solução de um enigma químico – cristais de ácido do vinho aparentemente iguais reagiam à luz de forma diferente – até a vitória contra a raiva, doença até então incurável. Filmes, aparelhos, mecanismos, jogos de charadas, vitrines mágicas e instrumentos de época desfilam as descobertas de Louis Pasteur na química, no trabalho com os micro-organismos e na imunização de animais e seres humanos. Uma curiosidade: o considerável talento artístico do pesquisador quando jovem é mostrado na reprodução de telas pintadas entre os 13 e os 20 anos.
E um módulo especialmente produzido para a montagem brasileira de Pasteur, o Cientista destaca também a relação do cientista com o país: pesquisas desenvolvidas por aqui, a admiração de D. Pedro II pelo cientista, o desenvolvimento nacional da produção de vacinas pelos Institutos Butantan e Oswaldo Cruz e seus desdobramentos na ciência contemporânea.
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A exposição estará aberta de quarta a domingo, das 10h às 17h, de 6 de fevereiro a 26 de julho, no Sesc Interlagos, na zona sul de São Paulo. A classificação é livre e a entrada gratuita para todos os públicos. Caso deseje visitar a mostra com o acompanhamento e a mediação de nossa equipe socioeducativa é necessária a inscrição prévia e a confirmação da visita com nossa equipe de agendamento – as pré-inscrições são feitas exclusivamente neste link.
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