Químico de formação, José Eustáquio Neves de Paula, ou Eustáquio Neves, acumulou, ao longo de sua trajetória de aproximadamente 40 anos de trabalho artístico, séries que convocam olhar a fotografia sem o imediatismo habitual.
Parte desse trabalho estará disponível em “Outros Navios: Fotografias de Eustáquio Neves”, exposição com curadoria de Eder Chiodetto que chega ao Sesc Ipiranga a partir do dia 6 de setembro de 2022.
No espaço bidimensional da fotografia, Eustáquio Neves narra histórias que perpassam seu corpo e sua ancestralidade afro-brasileira. Sua obra pode ser lida como metáfora do acúmulo de histórias oficiais ou não, que se desenvolvem acerca da escravidão, da violência endógena e do racismo sobre a população negra.
Processos e narrativas
Nascido na cidade mineira de Juatuba, em 1955, Eustáquio Neves formou-se técnico de química industrial, o que influenciou na obra do artista, que entra no campo ampliado da fotografia expandida, uma vez que dialoga com outros campos das artes visuais e do saber sob outras perspectivas de processos e procedimentos.
“A manipulação das imagens via processos químicos é uma das características pontuais no seu trabalho, assim, em seu espaço de experimentação, ele incorpora procedimentos durante muito tempo tratados como tabu para grande parte dos profissionais da área”, afirma o curador Eder Chiodetto.
As imagens criadas por Eustáquio vão além do instante fixado: condensam, atravessam e nos permitem embarcar num navio da história brasileira, marcado pela escravidão, pelo racismo estrutural, mas também pelos afetos, resistências, seja nas comunidades negras rurais de Minas Gerais, seja no corpo que traz o poema concreto Zumbi, marcado em luta e símbolos.
“As problematizações abordadas por Eustáquio Neves têm grande importância na cena artística por ele fazer parte de um conjunto de artistas que direciona o olhar para a produção de novas narrativas, concebidas com a sensibilidade de quem faz parte da construção histórica da população afro-brasileira”, destaca o curador.
A exposição
Composta de 70 obras, entre fotografias e vídeos, “Outros Navios: Fotografias de Eustáquio Neves” reúne séries do início dos anos 1990, como Objetificação do Corpo (1994), séries inéditas como as Fotopinturas, com obras realizadas em 2022, assim como “Outros Navios”, série em andamento e que dá nome à exposição.
Entre os trabalhos de videoarte – mais raros na produção de Eustáquio –, será exibido Post No Bill (2009), em que o cotidiano marcado pelo trânsito e vaivém incessante de pedestres nas ruas de Lagos, na Nigéria, mistura-se com a arte jovem encontrada na favela de Bariga, no subúrbio da cidade. Essa obra será exibida pela primeira vez, em três telas simultâneas.
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