O artista Flip Couto, que participa da programação Visibilidade HIV, em Santana.
Como parte das ações do Dia Mundial de Luta Contra Aids (01/12) e do Dezembro Vermelho, o Sesc promove atividades para conscientizar, informar e sensibilizar seus públicos em relação ao HIV/Aids, buscando combater tabus e preconceitos que cercam o tema. Bate-papos, palestras, intervenções e campanhas de testagem fazem parte da programação.
O médico e ativista Carué Contreiras* abre as reflexões:
Do que se falará neste Dia Mundial da Luta contra a Aids? Há narrativas mais visíveis do que outras neste tema complexo de dupla perspectiva – ciência e direitos humanos.
Do lado da ciência, a história do HIV é um sucesso. Nada na medicina avançou tanto. De ameaça à humanidade, tornou-se infecção crônica com expectativa de vida similar à geral.
Com atraso, os progressos chegam ao Brasil. Em 2017, o SUS incorporou um moderno tratamento. Em dezembro, começa a oferta de remédios de uso contínuo para prevenir o HIV, a profilaxia pré-exposição (PrEP).
Outro avanço neste ano foi o reconhecimento, por autoridades dos EUA, de que a pessoa que está em tratamento eficaz não transmite o HIV. Dizemos que a pessoa, nesse caso, está com o vírus controlado ou, no jargão técnico, indetectável. Tanto a PrEP quanto o conceito de que “indetectável=intransmissível” podem revolucionar a sexualidade, tal como o anticoncepcional nos anos 60.
Do ponto de vista dos direitos humanos, porém, a história do HIV é de violência e resistência. As milhões de mortes têm sido seletivas e expõem desigualdades em direitos.
A marginalização pela LGBTfobia é a principal razão para os altos índices do vírus em LGBTs. O grupo dos adolescentes LGBTs, desassistidos pela sociedade, é a parcela da população em que a epidemia cresce mais rápido.
Os dados de desigualdade racial do HIV em São Paulo indicam como a exclusão causada pelo racismo desampara a população negra, discussão já avançada nos EUA. Soma-se a isso o papel do machismo na vulnerabilização das mulheres.
E há a sorofobia, que é a estigmatização da Pessoa Vivendo com HIV ou Aids (PVHA), baseada em ideias sobre perigo e desvio de caráter, gerando culpa e vergonha indevidas. O número de PVHA no Brasil em breve chegará a 1 milhão, mas somente só algumas dezenas de pessoas falam disso publicamente.
Caladas, as PVHA aparecem mais na fala de terceiros, como exemplo negativo, desumanizadas em discursos de prevenção. Em debates de diversidade, PVHA são ignoradas.
A sorofobia isola, afasta do teste e do tratamento e é a grande responsável, junto com as falhas do SUS, pelas 15 mil mortes evitáveis por Aids todo ano no país.
Falar de HIV, portanto, exige escolhas.
Considerando que o HIV é, mais que um problema de saúde, um desafio social, optamos, em tempos de crise de direitos, pela perspectiva que dá voz aos recortes identitários e às PVHA.
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*Carué Contreiras é médico sanitarista ativista LGBT e em HVI. É membro do coletivo Revolta da Lâmpada e da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ SP). É coordenador de educação comunitária na Casa da Pesquisa do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids.
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– No Sesc Santana, o projeto Visibilidade HIV traz reflexões em bate-papos, show, oficina e perfomance, com a participação de Carué Contreiras, Flip Couto, Gabriel Estrela, Silvia Almeida, Micaela Cyrino, Kako Aranciba, entre outros. Confira a grade de atividades.
– No Sesc Vila Mariana, em 01/12, a artista Adriana Bertini conduz oficina para criação de objetos a partir de camisinhas. O Instituto Barong também estará presente oferencendo ao público testes de HIV rápidos e gratuitos. No Sesc Consolação, uma oficina de 5 a 8/12 propõe Novas narrativas para o HIV; em um bate-papo, duas portadoras dividem suas histórias; e Desmesura é um espetáculo de teatro sobre o tema. No Sesc 24 de Maio, um bate-papo discute HIV, Racismo e LGBTfobia: Entre a Luta e a Invisibilidade, no dia 29/11. Em Itaquera, o Esquadrão das Drags informa e sensibiliza o público com irreverência e a campanha Fique Sabendo traz testes rápidos para HIV e Sífilis
– O interior também abriga diversas ações. Rio Preto recebe o bate-papo Do HIV ao Projeto Boa Sorte, com Gabriel Estrela. Presidente Prudente traz a palestra Políticas públicas e prevenção ao HIV/AIDS. Em Registro, a Oficina VIVOCORPO HIV+ propõe exercícios coletivos corporais. Em Sorocaba, show de Silvino evoca temas como a orientação sexual, violência sofrida por pessoas LGBTQs e a vivência com o vírus HIV.
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