Feira agroecológica e comida de verdade

05/10/2017

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Feira Agroecológica: de 8 a 29/10, aos domingos, no Sesc Rio Preto

Segundo o Guia Alimentar da População Brasileira, reeditado em 2014 pelo Ministério da Saúde, a alimentação é mais que ingestão de nutrientes, pois também carrega aspectos que influenciam a saúde e o bem-estar. Fatores como a motivação por trás da seleção dos alimentos, seu preparo, suas combinações e a partilha das refeições estão inseridos nas dimensões culturais e sociais das práticas alimentares.

Considerando todo esse contexto, a temática da alimentação saudável pode ser trabalhada a partir de um leque maior de oportunidades em favor do desenvolvimento humano, e não apenas pelo viés da nutrição. O Sesc São Paulo, que desenvolve uma ação permanente com foco em cultura, educação, saúde, bem-estar e alimentação elege o mês de outubro, em que se comemora o Dia Mundial da Alimentação, para reafirmar sua atuação como agente transformador de hábitos alimentares na primeira edição do Experimenta! Comida, Saúde e Cultura. Com realização simultânea em todas as suas 38 unidades, o projeto traz à luz diversas pautas e vertentes do universo da comida de verdade.

Esse termo, apesar da aparente simplicidade, carrega consigo a reveladora constatação de que muitos dos alimentos consumidos nos dias atuais não são tão “de verdade” assim. Prova disso são os rótulos das embalagens dos produtos processados, que evidenciam a ausência de alimentos naturais e a predominância de compostos químicos e tantos outros dos quais a maioria dos consumidores desconhecem sua origem.

Com o intuito de conscientizar seu público e possibilitar o consumo de alimentos naturais, livres de agrotóxicos, o Sesc Rio Preto realiza de 8 a 29 de outubro a Feira Agroecológica. Neste espaço, além dos alimentos disponíveis para aquisição, os visitantes aprendem mais sobre a produção agroecológica, agricultura urbana e outros assuntos sobre alimentação saudável.

Além da feira, a programação também reúne oficinas e bate-papos – realizados também aos domingos – com o objetivo de ensinar e debater temas como a produção de hortas caseiras, marmitas saudáveis, alimentos orgânicos e várias outras possibilidades de práticas alimentares.

Confira uma entrevista realizada com Vitor Franco, agricultor agroecológico, consultor agroflorestal e facilitador da alimentação orgânica na comunidade local.

Como surgiu seu interesse pelo cultivo agroecológico ao invés do convencional?
Surgiu pelo interesse à vida. Pelo viver de acordo com a natureza das coisas, com os ritmos que regem as forças da natureza. Isso se apresenta na minha vida, através de um processo de tomada de consciência, em saber qual o lugar que quero ocupar no planeta e a contribuição que venho somar. O manejo agroecológico para ser eficiente ocorre, primeiramente, no interior de nós mesmos.

Qual a diferença entre alimentos agroecológicos e alimentos orgânicos?
A agroecologia enquanto ciência é quem proporciona os princípios para um manejo sustentável na produção orgânica. Não é possível realizar a agroecologia se não for de maneira sustentável e integrada com o meio que o sujeito está inserido. Além do cultivo do solo, a agroecologia proporciona toda uma relação ampliada do meio em que se vive. Seja na relação social, na relação econômica, no respeito com agricultor, etc., o alimento agroecológico alcança um estado que torna a agricultura um meio para a construção de uma sociedade mais unida, mais justa e solidária.

Já agricultura orgânica é o manejo que, dentro desta ciência, não trata o solo de maneira artificial. Não trabalha com insumos químicos e fertilizantes sintéticos. Faz do meio o ambiente equilibrado para que a própria natureza estabeleça a harmonia e proporcione alimentos íntegros e saudáveis. Na agricultura orgânica é necessário seguir uma série de procedimentos e normas que estão previstos na lei, para que o produtor se enquadre no Sistema de Produção Orgânica do Brasil. Isso é garantido através do “Selo Orgânico” que dá ao alimento a confiabilidade e a origem de todo o processo que foi realizado até chegar a mesa do consumidor. 

Quais as dificuldades enfrentadas no cultivo de alimentos agroecológicos na região de São José de Rio Preto?
Aos poucos vem sendo mais procurado e aceito pelas pessoas em nossa cidade e região. Às vezes, pela falta de informação, o consumidor desconhece todo o processo que leva o alimento a ser produzido. E hoje com toda a mídia e o cuidado com a saúde, o alimento agroecológico está sendo de fato a maneira preventiva de viver uma vida equilibrada e saudável. O interessante é que aos poucos vem se estabelecendo como um novo hábito na nossa sociedade, e isso é algo bastante importante nos dias de hoje. Além de comer, saber o que e de onde se está se alimentando. 

Em 2014, o Ministério da Saúde reeditou o ‘Guia Alimentar para a População Brasileira’ tornando mais simples as orientações para uma alimentação saudável. Quais são os principais desafios enfrentados pelos produtores de alimentos naturais no fornecimento da sua produção a uma nação que consome cada vez menos produtos naturais?
Conciliar o paladar do consumidores com a sazonalidade dos alimentos produzidos na época é um grande desafio. A comodidade de ter tudo que ser quer o ano todo na agricultura convencional atrapalha a aceitação de comer aquilo que está sendo produzido naturalmente em determinada estação. Vejo que a mudança no hábito é sim um ponto importante a ser trabalhado.

Para quem quer começar uma horta caseira, quais as opções de cultivo mais fáceis de serem mantidas em pequenas residências?
Temos as hortas em vaso que são bem práticas, as verticais para as pessoas moram em apartamentos e as hortas em quintais.
Tudo de maneira simples que aproxima a pessoa ao ato de produzir seu próprio alimento. E tem também os espaços coletivos que vem crescendo através das hortas urbanas.

O Brasil saiu do mapa da fome da ONU e, ironicamente, entrou para a lista de países como mais da metade de sua população acima do peso. Quais são as origens desse problema e como contorná-lo?
A mudança de hábito pode ser uma boa estratégia para auxiliar nesse processo de reversão. Saber o que está comendo seja talvez a maneira mais apropriada para nos tornarmos mais conscientes da nossa responsabilidade de comer. Quando não escolhemos o que comer, qualquer coisa serve! Sinto que comer para “matar a fome” pode ser um pouco arriscado, e contribui com uma série de complicações na gestão do alimento no nosso país. Talvez seja a hora de estabelecermos uma nova relação com o “pão nosso de cada dia”.


A programação completa realizada pelo Sesc Rio Preto você confere no vídeo abaixo e clicando aqui.

>>> Confira a programação completa do Experimenta! Comida, Saúde e Cultura em sescsp.org.br/experimenta

>>>> Comida para ouvir: escute a nossa playlist inspirada no Experimenta! 

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