Foto: Dani Sandrini
“Não acredito que fazem arroz sem refogar no alho e na cebola primeiro. Eu nem sabia que dava certo sem fazer isso!” . “O que? Strogonoff sem creme de leite? Não é possível!”, “E esse hotdog aí, que só tem pão e salsicha?”… Minha cabeça girava e resistia a cada detalhe diferente daquilo que eu tive como “certo” durante toda a vida quando o assunto era comida.
A minha experiência morando longe de casa me mostrou que não só nossa visão de mundo se expande, mas também nossos gostos e hábitos alimentares.
O nosso belo churrasco, o pãozinho francês pela manhã, o pastel da feira ou ainda aquele bolo de cenoura com chocolate que antes era tido como normal, agora tem muito mais valor. Afinal, muitas vezes só damos conta do quanto gostamos ou somos ligados à comida quando isso nos falta, ou melhor, quando não é nos ofertado com tanta facilidade.
Com a distância, a comida passa a ser, de forma ainda mais clara, uma ligação com nossa cultura. Aquela garfada de arroz e feijão é muito mais gostosa, mesmo que ainda falte em sabor quando comparado ao que comemos em nosso país. O gosto toma conta não só da nossa boca, mas do nosso coração, que fica cheio de sentimentos nostálgicos só de provar aquela comida com gosto de casa.
Muitos mais aspectos do nosso cotidiano estão intrinsicamente ligados a comida e só percebemos depois. Nossos rituais são um deles. As festas de aniversário não são as mesmas sem o famoso brigadeiro e beijinho, muito menos sem coxinha. Natal sem a discussão do papel da uva passa no arroz, que coisa mais sem graça! Ano novo sem lentilha, que diferente!
A frustração toma conta quando vemos grandes letreiros convidando pra comer “Brazilian food” e ao entrar vemos que nem sempre são tão Brazilian assim. “Frango na feijoada? No Brasil não é assim não” eu ia ja me explicando em meio a minha própria decepção em nao ter comido algo que pelo menos remetesse à deliciosa feijoada da minha tia. A gente passa a ficar ainda mais chateado quando não acerta na reprodução daquele prato que só a avó ou a mãe que estão longe sabem fazer, porque, além de tudo, não dá nem pra ligar e encomendar algo parecido em um restaurante. Não tem.
Nesses novos caminhos, muito se aprende e muito se dissemina. Você descobre que dá pra fazer pão de queijo caseiro com a receita da internet, já que não há no mercado aqueles congelados. Cozinhar feijão sem panela de pressão, também. E voce faz, nem que isso te custe muito mais tempo no fogão.
Em meio ao aprendizado e troca cultural, a alegria toma conta quando compartilhamos aquele mesmo pão de queijo com quem nunca tinha provado a iguaria: “E aí, o que achou?”, com aquele orgulho em meio à tanto sabor e tradição que só quem é brasileiro conhece.
Um convite pra comer o famoso arroz com feijão, ou ainda qualquer comida brasileira, passa a ser não só apetitoso, mas tambem uma forma de demonstrar carinho, de falar: olha, esse é o melhor que posso te oferecer aqui para te confortar nesse lugar longe e distante de onde estão nossas origens.
E no dia seguinte, quando alguém te pergunta: “o que você fez ontem?” O sorriso toma conta do rosto, e você responde, como quem acabou de cruzar o mundo e visitou o pais que cresceu: “COMI COMIDA BRASILEIRA ♥”
Depois você entende que a cultura está alí, exatamente nos detalhes.
Que podem existir sim mil maneiras de preparar um arroz, fazer strogonoff, ou até montar um hotdog, mas a nossa sempre vai ter um brilho a mais, um lugar no coração, uma preferência natural.
Você descobre que a saudade sempre vai existir, mas o coração fica muito mais alegre se tivermos um afago de algo que nos remeta à casa, à familia, ao almoco tarde e zoneado de domingo…
Comida é muito mais que alimento: é laço, é conexão, é cultura e amor.
Texto de Maynara Aguiar, amante da comida brasileira, que morou pouco mais de 2 anos no Colorado, Estados Unidos.
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