Itinerários de Resistência: desvendando o turismo de base comunitária em SP

05/09/2021

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Projeto do Sesc se propõe a registrar e refletir sobre o turismo de base comunitária a partir das experiências de comunidades no estado de São Paulo

A pandemia de Covid-19 evidenciou fragilidades da economia do turismo. O turismo de base comunitária, de escala muito reduzida em relação ao formato industrial, também sofreu as consequências. No entanto, à medida que vão se acumulando os aprendizados sobre a situação de pandemia, vai ficando mais evidente que estas iniciativas comunitárias, descentralizadas, majoritariamente voltadas a grupos pequenos, apontam caminhos de futuro.

O projeto Itinerários de Resistência se propõe a registrar e pensar o turismo de base comunitária a partir das experiências de comunidades no estado de São Paulo. Trata-se de um catálogo dessas iniciativas; ao mesmo tempo, de uma reflexão sobre as estratégias autônomas de vida e sobrevivência diante da crise que atingiu a todos, mas de forma desigual. 

A palavra comunidade, neste projeto, é genericamente usada para definir grupos de pessoas em seus territórios, sejam eles quilombos, assentamentos ou propriedades rurais, ocupações urbanas, aldeias, coletivos culturais. Em comum, essas comunidades se valem do turismo para dar visibilidade às suas visões de mundo e seus modos de vida. Dessa forma, o turismo é uma estratégia de luta pelos direitos fundamentais da cidadania. 

Turismo de base comunitária é resistência.

Esse é o entendimento da bióloga e geógrafa Sueli Ângelo Furlan. Professora do departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), Sueli considera que esse turismo impulsiona a luta pelo direito ao território e pela conservação ambiental. Tem, também, o papel de resistir ao apagamento de povos e modos de vida tradicionais. “Mas, para ser mesmo resistência, a comunidade deve fazer isso numa lógica de autodeterminação, na qual ela é a protagonista. Os turistas é que devem se adaptar à comunidade, e não o contrário.” 

A pesquisadora Elisa Spampinato defende que o turismo de base comunitária tem um segundo pilar: a independência econômica da comunidade em relação à atividade turística. “Não pode ser a única atividade, nem a principal. Se for, tudo o que se faz no interior da comunidade fica subordinado ao turismo. Tem de ser fonte de renda complementar, lembrar que a comunidade nasceu fazendo outra coisa, e essa outra coisa é que desperta o interesse turístico”, completa. 

Lugares de escuta e experiência 

A turismóloga e professora Claudia Fernanda dos Santos, mestre em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC, afirma que fazer turismo em comunidades é se abrir para escutar o outro e para conhecer seus modos de fazer. “Muito do patrimônio imaterial se prolonga por meio do turismo comunitário”, diz a pesquisadora. 

Este projeto é baseado sobretudo em escutas: parte de entrevistas com representantes de diversas comunidades no estado de São Paulo, 62 mulheres e homens que, nos papéis de lideranças comunitárias e ativistas, ajudam a construir o turismo comunitário em suas localidades. Vale ressaltar que toda a interação com as comunidades se deu em contexto pandêmico, sem contato presencial. 


Reinventar o turismo 

Para Elisa Spampinato, o turismo está em um momento de virada. E, se for capaz de escutar essas outras vozes, pode ser reinventado, existir de forma equilibrada, centrada nas pessoas e nas relações. “Dessa forma, o turismo pode realmente ser o lugar do encontro, do crescimento,  da transformação do indivíduo e, como consequência, da sociedade toda.” 

Neste movimento, o turismo de base comunitária tem contribuições importantes, oferecendo possibilidades e caminhos, sobretudo coletivos. O desejo, com as coleções deste projeto, é oferecer uma fonte de inspiração, diversa como as próprias comunidades, seus roteiros e suas estratégias de resistência. 

O projeto Itinerários de Resistência inclui cinco grupos regionais, que totalizam 20 comunidades retratadas, pelo Interior Paulista, Vale do Ribeira e Litoral Sul, Baixada Santista, Vale do Paraíba e Litoral Norte, e Capital Paulista. Conheça cada um na Plataforma Sesc Digital. 

No Interior Paulista, são cinco comunidades representadas: assentamento Bela Vista do Chibarro, Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno, assentamento Monte Alegre, quilombo Cafundó e Casa de Cultura Fazenda Roseira.
Acesse aqui.

No bloco que contempla o Vale do Ribeira e o Litoral Sul Paulista, temos quatro comunidades representadas: os Quilombos Ivaporunduva, Mandira e Sapatu (no Vale do Ribeira), e a Enseada da Baleia, na Ilha do Cardoso.
Acesse aqui. 

Na Baixada Santista, temos três comunidades representadas: Ilha Diana, Bairro de Paquetá, ambas em Santos; e Bairro Cota 200, na cidade de Cubatão.
Acesse aqui. 

No Vale do Paraíba e Litoral Norte Paulista são três comunidades representadas: Quilombo da Fazenda (Ubatuba); Praia de Castelhanos (Ilhabela); e os Institutos H&H Fauser e Chão Caipira (Paraibuna), que articulam, junto aos produtores, agricultores e moradores locais, parte do turismo na região.
Acesse aqui.

Na Capital Paulista temos cinco comunidades representadas: Terra Indígena Tenondé Porã, projeto Acolhendo em Parelheiros e Ilha do Bororé localizadas no extremo sul de São Paulo, Comuna da Terra Irmã Alberta e Comunidade Cultural Quilombaque, ambas no extremo norte da cidade.
Acesse aqui.


O projeto Itinerários de Resistência é uma realização do Sesc São Paulo com produção executiva da Guará Produções Artísticas e Socioambientais. Design gráfico e ilustrações são do Bicho Coletivo e as entrevistas e textos são assinados por Mônica Nóbrega.

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