O Vale do Anhangabaú, como conhecemos hoje, é um dos projetos de Jorge Wilheim (Foto: Bruno Niz)
Com curadoria de Guilherme Wisnik, exposição recupera o legado de um dos grandes nomes da arquitetura e do urbanismo no país e convida o público à reflexão sobre cidades mais humanas, justas e sustentáveis.
O que o Vale do Anhangabaú, o Pátio do Colégio, o plano diretor de Curitiba, a cidade de Angélica, no Mato Grosso do Sul e o centro de eventos Anhembi têm em comum? Esses grandes projetos de arquitetura e urbanismo, alguns cartões postais de São Paulo, foram concebidos por – ou tiveram a colaboração de – Jorge Wilheim (1928 – 2014).
Jorge Wilheim era arquiteto, urbanista e gestor público em São Paulo (Foto: Romulo Fialdini)
Apesar de italiano, de Trieste (1928), Jorge Wilheim mudou-se para o Brasil com 12 anos. Formou-se em arquitetura na década de 50 na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Já formado, enfrentou o desafio de projetar uma nova cidade para 15 mil pessoas no Mato Grosso do Sul – Angélica- com a finalidade de desenvolver a região. Neste projeto, começa então sua busca por um planejamento urbano que tivesse como premissa a ecologia.
Em 1956, participou do concurso para o plano-piloto de Brasília, na mesma licitação que elegeu o projeto de Lucio Costa. Esteve à frente de projetos que até hoje são considerados cartões-postais paulistanos, como o Parque Anhembi (1967-73) e os projetos de reurbanização do Vale do Anhangabaú (1981-91) e do Pátio do Colégio, sítio da fundação de São Paulo (1975). Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu os prêmios “Tarsila do Amaral” (1956), “Governador do Estado” (1964), “IAB de Urbanismo” (1965 e 67), “IAB para Ensaio” (1965 e 67) e a Ordem do Mérito de Brasília (1985).
No campo político, foi Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (1975-79); duas vezes Secretário de Planejamento da capital paulista (1983-1985 e 2001-2004); Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1987-1990); além de presidente da Emplasa, Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo (1991-1994). Suas principais marcas no Governo do Estado de São Paulo foram a criação do PROCON, da EMTU e do “Passe do Trabalhador”, hoje conhecido como Vale Transporte. Foi também responsável por mais de vinte planos urbanísticos, destacando-se os de Curitiba, Goiânia, Natal, Campinas e São José dos Campos. Ainda na esfera pública, organizou a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (a primeira do Brasil) e, durante sua gestão, implantou a primeira utilização oficial de álcool combustível no país, programa que seria conhecido mais tarde como PróAlcool. Como Secretário Geral Adjunto da divisão da ONU para a realização da Conferência Global sobre Assentamentos Humanos – Habitat 2, organizou, em 1996, um encontro com quase duzentos países em Istambul.
Wilheim escreveu 10 livros sobre vida urbana, publicados por diferentes editoras de São Paulo, Buenos Aires e Londres. Destacou-se também pela participação ativa no mundo das artes plásticas; trabalhando junto com Pietro Maria Bardi, participou da montagem do MASP e foi presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Faleceu na cidade de São Paulo em fevereiro de 2014, aos 85 anos. Wilheim se destacou como um dos mais importantes e visionários urbanistas brasileiros. Seu extenso conhecimento sobre a dinâmica urbana se transformou em soluções vibrantes e inovadoras em prol da qualidade de vida nas metrópoles em desenvolvimento.
Projeto de revitalização da Rua Augusta, que não foi concretizado (Ilustração de Jorge Wilheim)
O Sesc São Paulo, na unidade Consolação, recebe a exposição Conversas na Praça: o urbanismo de Jorge Wiheim, que se aprofunda na carreira do arquiteto, urbanista e gestor público. A instalação é um último desejo de Jorge: um banco em alguma praça da cidade para ler, desenhar, divagar e conversar com os jovens sobre suas vidas e locais que habitam.
Daí uma expografia, assinada pelo também arquiteto Pedro Mendes da Rocha, que transforma o Espaço de Convivência em uma praça, onde as pessoas podem interagir com o conteúdo exposto e dialoga sobre a importância do acolhimento de espaços públicos.
A exposição leva o público a uma praça, como os projetos acolhedores de Wilheim (Foto: Cristiano Mascaro)
Desenhos técnicos, croquis, fotografias, vídeos e arquivos sonoros – pertencente à família Wilheim e reunido pelo curador Guilherme Wisnik – apresentam as principais obras e projetos do urbanista: o Parque Anhembi, a cidade de Angélica no Mato Grosso do Sul, a reconfiguração do Pátio do Colégio, o calçadão da Rua Augusta, os planos diretores das cidades de Curitiba e Joinville e a reurbanização do Vale do Anhangabaú – espaço que nos últimos meses encontra-se no centro do debate paulistano.
A exposição tem o objetivo de fomentar no público uma discussão sobre a cidade ensinando conceitos importantes com que Jorge Wilheim trabalhou. Sempre atento e interessado às mudanças da sociedade no tempo em que viveu, o arquiteto buscou fontes de energias alternativas e sustentáveis, soluções para as novas formas de trabalho autônomo e flexível e caminhos para a participação da sociedade na política, tornando o viver na cidade o mais humano, acolhedor e democrático possível. Transitando com maior facilidade, em contato constante com ambientes mais verdes e seguros, um espaço pensado por todos pode promover mais qualidade de vida e bem-estar de todos.
Além da exposição na Convivência, toda a unidade do Sesc Consolação recebe uma programação integrada, com atividades relacionadas a arquitetura, o morar e usar a cidade, mobilidade urbana e outros assuntos em aulas abertas, bate-papos e oficinas. Confira aqui a programação completa.
O Parque Anhembi, em São Paulo, foi um dos maiores projetos de Jorge Wilheim (Foto: Acervo Arq)
Um dos maiores e mais icônicos projetos de Wilheim é o todo o complexo do Parque Anhembi. No vídeo a seguir, produzido para divulgar o espaço à época de sua inauguração, em 1967, vemos todo o contexto de sua construção. Na exposição você encontra uma representação em tamanho real de um dos pilares que sustentam o teto dessa obra prima da arquitetura paulistana.
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