Crianças do programa Curumim mapearam os sonhos para o bairro | Foto: Acupuntura Urbana
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O Sesc Consolação, com a exposição Conversas na Praça: o urbanismo de Jorge Wilheim em homenagem ao arquiteto e urbanista, e em parceria com a Acupuntura Urbana, desenvolveu um mapeamento afetivo do entorno da unidade e um levantamento dos sonhos existentes para esta região. A tarefa foi executada pelas 120 crianças atendidas pelo programa Curumim em duas semanas.
Para contar como foi essa experiência e o resultado, convidamos a equipe da Acupuntura Urbana, Andrea Sender White, Renata Minerbo Strengerowski, Francina Buonanotte, Mariana Martins, Renata Laurentino e Thais Brandt, que nos escreveram:
O Mapeamento Afetivo cria uma cartografia do valor intangível de um território a partir das histórias de quem vive ou trabalha ali. É um convite para percorrer o lugar, coletando histórias contadas por moradores, talentos escondidos, belezas cotidianas que passam despercebidas sob o apressado olhar urbano. Os elementos reunidos no mapa são um convite para que se aprofundem as conexões entre vizinhos e pessoas que circulam por esse território, assim como também aprofundar as conexões com o mesmo.
Duração: 2 oficinas de 2h30 para cada grupo (manhã e tarde).
Foco no mapeamento afetivo da região, com caminhadas e conversas pelo entorno do Sesc Consolação.
Duração: 4 oficinas de 2h30 para cada grupo (manhã e tarde).
Foco no levantamento de sonhos para a região, com caminhadas e rodas de conversas para o desenvolvimento do mapa “Bairro dos Nossos Sonhos”.
O processo durou 2 semanas: a primeira semana foi dedicada às oficinas para o desenvolvimento do mapeamento afetivo e, a semana seguinte, para a coleta de sonhos para o entorno do Sesc Consolação.
O Mapeamento Afetivo teve início com o objetivo de conhecer o bairro com um novo olhar, diferente do que somos acostumados todos os dias.
No primeiro dia, nos apresentamos aos curumins fazendo um jogo para conectar nossos Super Poderes e ativá-los durante o passeio e nos preparamos para a saída. Assim, iniciamos uma caminhada lúdica pela Vila Buarque, que colocou nossos sentidos ativos e capturou sons, texturas e belezas, durante a viagem e nos respectivos pontos de chegada. Essas caminhadas foram realizadas com as 4 turmas em direção a destinos diferentes: Praça Roosevelt, Praça Rotary, Largo do Arouche e Santa Cecília. Em cada um desses lugares, finalizamos o jogo proposto e fizemos o fechamento do primeiro dia.
Quando perguntamos para as crianças no final do dia, o que elas descobriram de novo nessa experiência na cidade, uma delas respondeu: “Eu não sabia que na rua existiam tantos grafites, tantas casas antigas… Eu não costumo caminhar na rua, fico muito tempo na minha casa. Eu gostei de descobrir as coisas do meu bairro…. Às vezes me sinto trancafiada”.
O segundo dia começou com uma pequena apresentação do que aconteceu no dia anterior. O objetivo deste dia foi conhecer as histórias e talentos de Vila Buarque. Cada turma fez um caminho diferente. Entre as histórias e as pessoas com quem conversamos estão:
– Rodrigo, da Chácara Lane, que compartilhou conosco a história da casa; João, dono de uma farmácia existente no bairro há mais de 70 anos;
– o professor Lucas, do Mackenzie, que compartilhou um pouco da história da Universidade no bairro e nos levou a conhecer as atividades que hoje são realizadas na Faculdade de Arquitetura;
– Rodrigo, da Banca Curva, que relatou um pouco sobre como funciona essa banca especial que valoriza a arte e os editores independentes;
– Henrique, um bibliotecário da Biblioteca Monteiro Lobato que cuida de livros desde menino e adora o desafio de encontrar qualquer coisa que as pessoas precisam;
– Priscila, que estava na Praça Rotary, é uma buscadora de boas histórias e memórias que dedica grande parte da sua vida a contar tudo que ela sabe sobre a Vila Buarque;
– Ricardo, que já foi ator, fotógrafo, cenógrafo, produtor de eventos e agora quer ser um artista. Ele é apaixonado pela Praça Rotary e, junto com seus vizinhos, cuida dela com muito carinho; e
– o Prof. Paulo Van Pouser da Escola da Cidade, que contou que em todas as suas aulas de desenho são na rua.
Na segunda semana, o objetivo foi encontrar sonhos para a Vila Buarque, tanto dos Curumins como para outros moradores da região. No primeiro dia, a missão com os Curumins foi descobrir quais eram os sonhos coletivos para o bairro e seus espaços públicos.
Recebemos Herbert, Ana, Denise e Luciana no Sesc, que sonham com o Parque Augusta há vários anos. Eles nos contaram sobre suas lutas, alegrias, obstáculos e conquistas. Eles conversaram sobre os sonhos que norteiam esse movimento, inspirados pela vontade de cuidar e preservar uma área verde com muito espaço para reuniões no centro de São Paulo.
Depois saímos para caminhar até um apartamento “museu”, onde Felipe estava nos esperando – ele é uma das pessoas que compõem o movimento Imagine Parque Minhocão. Tivemos uma roda de conversas, ele compartilhou um pouco sobre a trajetória do coletivo, a história do Minhocão e os sonhos sobre o parque. As crianças compartilharam suas experiências lá nos finais de semana e sonharam com novas possibilidades para o espaço, como pular, encontrar-se com outras pessoas, tomar sol todos os dias, tudo onde hoje são apenas os carros que podem passar.
No segundo dia, continuamos sonhando com os espaços públicos. Os Curumins desenharam sonhos pessoais e coletivos para as praças que conhecemos durante nossos encontros. Habitamos a Praça Rotary, onde interagimos com moradores do bairro e usuários da praça por meio de um jogo para coletar sonhos para Vila Buarque. Também recebemos dois convidadas especiais do coletivo Cidade Escola Aprendiz, que vieram nos contar sobre seu sonho de compartilhar todas os aprendizados que a cidade nos oferece como espaço educador. Para finalizar o dia, penduramos todos os sonhos na Árvore dos Sonhos e fizemos uma roda de conversas para compartilhar os aprendizados durante nossos encontros.
Fechamos aquele dia com a proposta de cada um oferecer uma palavra sobre como foi a experiência de viver assim a cidade. Algumas palavras que surgiram foram: bacana, educacional, interessante, gostoso, legal, inesquecível, criativa, fantástica, diferente e divertida.
O mapeamento afetivo do entorno do Sesc Consolação foi uma experiência incrível realizada com as crianças do Programa Curumim. A ação possibilitou o exercício de um novo olhar para a região, vendo, ouvindo e sentindo coisas que normalmente não sentimos no dia a dia, e abrindo espaço para sonhar um bairro melhor para todas as pessoas que o frequentam.
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