Foto: Zé Barretta
Por Maiana Monteiro e Thaís Fernanda
Apesar de ter um nome composto por conceitos populares, a Mediação de Leitura é uma prática ainda pouco conhecida por seu título e ainda menos compreendida em sua complexidade e potência.
A mediação de leitura, de modo simplificado, é o ato de ler um livro para alguém. É uma dinâmica triangular na qual um/a mediador/a se encontra com outra(s) pessoa(s), de qualquer faixa-etária, por intermédio do livro, onde ele é lido com presença e intenção. Ela pode acontecer em qualquer espaço e ter diversos propósitos, mas alguns são unânimes: promover o acesso ao objeto livro e o incentivo à leitura prazerosa. O que ocorre, na situação de mediação, é uma experiência afetiva, uma relação estabelecida entre o olhar, as palavras, vozes, imagens e gestos no ato de estar com o livro, ofertando a leitura como atividade de prazer.
O livro é o instrumento da mediação no ato de qualquer leitura. E não apenas consiste em ler, do início ao fim, uma obra literária, na sessão de mediação, são diversas formas de mediar, quando possibilitada a livre exploração do acervo de livros, por exemplo, dispostos em um tapete no chão, acessível a quem chegar. Para as crianças pequenas, sobretudo, poder pegar um exemplar, parar no meio, trocar de livro, ler, folhear, comentar, reler, imaginar, criar, estando junto a nós, mediadoras/es de leitura disponíveis para acompanhá-las no despertar de suas sensações e significações, são formas de promover uma atividade de mediação também, e de maneira prazerosa! Pois como disse Paulo Freire na obra intitulada A Importância do Ato de Ler (1988), “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, já que desde quando somos bebês vamos aprendendo a ler expressões faciais, sons, temperamentos, dinâmicas do tempo, clima… e também histórias através do som, tato, dos movimentos de corpo, bem antes do letramento, ganhando repertório conforme acessamos uma diversidade de narrativas escritas e ilustradas, por meio de leituras mediadas.
Foto: Zé Barretta
O livro nos permite ampliar nossas visões de mundo, e, por mais que hoje estejamos numa era muito tecnológica, em que podemos acessar tantas coisas através da internet, se faz importante ter com quem partilhar o sonho dessas ampliações, no encontro ao vivo, presencial, além do mais em tempos ainda pandêmicos, de recente isolamento social. Para a mediação, a literatura que faz sentido é a que acontece na relação de encontro, junto ao público, seja ele quem media, quem acompanha a leitura, seja quem escreveu e ilustrou aquela obra. Para este múltiplo encontro acontecer com intenção e propósito, é preciso escolher uma diversidade de bons livros para mediar, e, especialmente, no caso da mediação para as infâncias, não é qualquer livro que vale para realizar o incentivo à leitura.
Foto: Thaís Fernanda
Um bom livro para criança é um bom livro para adulto, por isso a literatura infantil e juvenil de qualidade é a mais utilizada em sessões de mediação abertas ao público espontâneo geral. Para a escolha do acervo é importante que sejam variadas e múltiplas as narrativas, contemplando as diferenças de gêneros literários – prosa, poesia, contos – e conteúdos propostos – histórias de vida, medo, solidão, amizade, família, diversão, abstração; e que tenha um design interessante também. Um bom acervo de livros é aquele que pode afetar e despertar uma gama de sentimentos e reflexões, como alegria, saudade, tristeza, raiva, surpresas. São livros com os quais nos sentimos identificados seja com algum personagem, com um lugar, um traço, um jeito de escrever, uma ilustração, uma paleta de cores ou pelo prazer de usufruir aquela obra!
Foto: Will Silva
Em um país extremamente desigual como o Brasil, no qual o livro corre o risco de ser taxado, fazer mediação de leitura se torna um ato de maior potência! Tornar-se mediadora/o de leitura é ser ponte e ser guia nessa travessia, pelas narrativas literárias, para o outro. É ofertar sua voz, escuta e tempo, estando aberto ao inesperado, ao que foge do roteiro do texto, da sequência de páginas. É criar mais e mais interpretações de uma mesma história, ao repetir a leitura tantas vezes e para diversas pessoas, numa relação de troca com o público que está para além do ato de ler. Viver a dinâmica da mediação de leitura é rever também nossas histórias pessoais e de comunidade, do que nos torna humanos, dando forma ao que sentimos, numa jornada cheia de encontros, afetos, sorrisos e momentos inesquecíveis.
Maiana Monteiro é cantora, educadora, mediadora de leitura, locutora e contadora de histórias. Formada em Letras (USP), passou por diversos projetos e instituições como Escola da Vila, Projeto Brincalendo, Coletivo Rodas de Leitura e Espaço de Leitura do Parque da Água Branca. Co-fundou e atua hoje na Coletiva Lobas já tendo ministrado cursos e oficinas de mediação de leitura unida à pesquisa de voz em espaços como o FLIIC (Festival de Literatura Infanto-juvenil da Casa do Parque) e o Lugar de Ler.
Thais Fernanda é educadora social, psicóloga clínica e social. Mestra em Psicologia Social pela PUC/SP. Mediadora e formadora de mediadoras/es de leitura desde 2007. Já atuou como Articuladora Literatura de clube de leitura na Fundação Tide Setúbal & Companhia das Letras. Escritora de poemas e textos acadêmicos. É co-fundadora da Coletiva Lobas, idealizadora da Coletiva Carolinas Soltem Suas Vozes e Matrigestora do Espaço Psi-cultural Vozes de Carolinas Vivas.
Dos encontros literários aos encontros afetivos, com a Coletiva Lobas
Entre os meses de junho a agosto, a Coletiva Lobas realiza um conjunto de ações no Sesc Campo Limpo sobre a mediação de leitura como uma prática que promove encontros afetivos e o encantamento pela leitura. Mediações de leitura, intervenções, clube de leitura e um curso de formação para mediadoras/es de leitura fazem parte da programação que pode ser acessada pelo link: https://www.sescsp.org.br/projetos/dos-encontros-literarios-aos-encontros-afetivos/.
Foto: Divulgação
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