Mirada 2022: conheça o que vem por aí!

24/08/2022

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América Latina, Portugal e Espanha desembarcam novamente em Santos!

Entre 9 e 18 de setembro, o Mirada volta às ruas, prédios históricos e palcos da cidade, em uma profusão de vozes que revelam a produção contemporânea das artes cênicas ibero-americanas.

A sexta edição do Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, apresenta obras de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Equador, México, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela trazem para a cena temas como colonialidade, questões ambientais, genocídios de povos originários e luta antirracismo.  Em dez dias de atividades, estão programados 36 espetáculos de múltiplas linguagens em teatro, dança, performance e teatro de rua para todas as idades.  

Com Portugal como país homenageado, o festival é um convite pra gente refletir sobre a relação entre os dois países e as marcas da colonização em nossa gente, nosso teatro e nossa visão de mundo. Há, ainda, atividades formativas e um encontro de programadores internacionais e nacionais de festivais cênicos espalhados pelo mundo. 


PORTUGAL

Espetáculo Brasa. Foto: Bruno Simão.

Com nove peças escaladas na programação, Portugal chega com montagens críticas às identidades históricas forjadas na esteira do colonialismo: a conquista por meio do genocídio de povos originários seguida do processo colonizador com escravidão africana.   

É o caso de Brasa, do artista performativo e visual Tiago Cadete, cujo trabalho foca em grupos migratórios entre Portugal e Brasil. Em Estreito/Estrecho, a coprodução luso-chilena, entre o Teatro Experimental do Porto (TEP) e o Teatro La María (CHI), faz uma sátira ao problematizar a figura do navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521). Ou ainda Cosmos, com atrizes de ascendências cabo-verdiana, portuguesa e angolana, que revisitam mitologias africanas e europeias para propor o nascimento de um novo mundo. 

Outras criações tateiam a saúde das democracias em seu entorno. As montagens portuguesas Os Filhos do Mal e Viagem a Portugal, última paragem ou o que nós andámos para aqui chegar abordam memórias, heranças e consequências do regime salazarista e a Revolução dos Cravos, que pôs fim a quatro décadas dessa ditadura. A primeira peça traz para cena filhos, netos, bisnetos e sobrinhos de presos políticos; a segunda recupera arquivos para falar de direitos, de injustiças e de convicções humanistas. 


AMÉRICA LATINA

Espetáculo Quimera. Foto: Leiberg Santos.

Da região onde golpes militares são historicamente frequentes, o grupo equatoriano La Trinchera expõe em QUIMERA o conflito fictício entre dois soldados fronteiriços ao perceberem que a demarcação da faixa limítrofe daquelas terras simplesmente desapareceu. No solo Tijuana, do grupo mexicano Lagartijas Tiradas al Sol, o ator Lázaro Gabino Rodríguez questiona a noção de democracia social a partir de sua experiência como trabalhador precarizado da maior cidade do estado de Baixa Califórnia, nos Estados Unidos. 

Da Argentina, Erase, do diretor Gustavo Tarrío, trata da ditadura civil-militar (1976-1983) de seu país a partir de uma passagem inusitada e com certa dose de humor: quando representantes da ala mais conservadora da Igreja Católica interditaram fascículos semanais da revista “Erase una Vez… El Hombre” (“Era uma Vez… O Homem”) e bolaram um número especial que combinava, em nível de delírio, conteúdos sobre neandertais, sapiens e o criacionismo da doutrina bíblica. 

O Grupo Cultural Yuyachkani, do Peru, que completou 50 anos em 2021, traz para esta edição do Festival Discurso de Promoción, uma reflexão das heranças ligadas a estruturas sociais coloniais. A peça foi produzida por ocasião do bicentenário da independência peruana. 

Em Hamlet, artistas adolescentes e adultos com Síndrome de Down apropriam-se da tragédia de Shakespeare com irreverência crítica e pegada pop na criação do Teatro La Plaza, companhia do Peru. Hay que tirar las vacas por el barranco conta com artistas da Venezuela, Espanha e Brasil e mostra a esquizofrenia sob ponto de vista de quem convive com pessoas que têm a doença. A peça, que une os grupos La Caja de Fósforos, La Máquina Teatro e Circuito de Arte Contrajuego, encena cinco relatos de pacientes ou familiares cujas vidas foram enredadas por graves afecções mentais crônicas.

  


BRASIL

Espetáculo Fronte[i]ra Fracas[s]o. Foto: Rafael Telles.

Entre as 12 produções brasileiras, um projeto inédito envolve o Teatro de Los Andes, de Yotala, na Bolívia, e o Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal (RN). A estreia mundial de FRONTE[I]RA | FRACAS[S]O teve como ponto de partida trocas efetuadas durante a Ocupação Mirada 2021, dentro da ação Telas Abertas da América Latina.

Língua Brasileira, do coletivo Ultralíricos (SP), com trilha musical de Tom Zé, sob direção de Felipe Hirsch, está no último dia da Mostra com esse espetáculo que procura traçar a epopeia dos povos que formaram o português falado no país. 

Erupção – O levante ainda não terminou, da coletivA ocupação (SP), estreia no MIRADA a partir da montagem nascida de uma indagação: “O que é o fim do mundo para mundos que já terminaram há muito tempo?”. Nascida do movimento secundarista e das ocupações de escolas públicas na capital paulista, a equipe tateia agora outras formas de presenças, numa espécie de cena sob os signos de festa, guerra, feitiçaria e subversão. 

anonimATO é a primeira incursão da Cia. Mungunzá de Teatro (SP) pelos gêneros teatro de rua e teatro musical, além de ser a primeira vez que trabalha com o diretor convidado Rogério Tarifa. Concebido como um cortejo que espectadores acompanham por 100 metros, é também uma celebração à arte teatral. 

A Companhia de Teatro Heliópolis (SP), em parceria com a dramaturga convidada Dione Carlos (SP), apresenta CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos. A peça conta as trajetórias das irmãs gêmeas Maria dos Prazeres e Maria das Dores, negras, moradoras na periferia e marcadas pelo encarceramento dos parentes.  

Dispostos em um grande tabuleiro na obra O que meu corpo nu te conta?, do Coletivo Impermanente (SP) e o diretor Marcelo Varzea, artistas se revezam a cada sessão para expor histórias autobiográficas ficcionais em que abordam temas como assédio sexual, machismo, homofobia, etarismo, gordofobia, racismo, pedofilia, infertilidade e compulsão.  

Sob encenação de José Fernando Peixoto de Azevedo (SP), Um Inimigo do Povo transpõe a peça do norueguês Henrik Ibsen (1828-1926) para um sugerido pedaço de Brasil contemporâneo, de pelejas provincianas e privilégios nas correlações de forças das elites.  

Vila Parisi, do Coletivo 302, de Cubatão (SP), com direção de Douglas Lima e orientação de Eliana Monteiro, do Teatro da Vertigem (SP), parte da memória e dos relatos de quem vivia no bairro operário da Baixada Santista nos anos 1980 (considerado o mais poluído do mundo na época), para colocar em cena reflexões sobre aspectos ambientais e sociais na atualidade.  


AMAZÔNIA EM CENA

Espetáculo La Luna en el Amazonas. Foto: Rolf Abderhalden.

Bioma de maior biodiversidade do mundo, a Amazônia é mote de dois espetáculos: Teatro Amazonas, idealizado pela coreógrafa espanhola Laida Azkona Goñi e o videoartista chileno Txalo Toloza-Fernández, que faz um inventário das violências no Norte do país a partir de viagens aos estados do Amazonas e do Pará; e La Luna en el Amazonas, dirigido pelos irmãos Heidi Abderhalden e Rolf Abderhalden, do grupo Mapa Teatro, de Bogotá. A narrativa se passa principalmente na porção territorial do país vizinho onde, em 2019, foi noticiada a existência de comunidades indígenas que vivem isoladas por autodeterminação.


PARA TODOS OS PÚBLICOS

Espetáculo A Caminhada dos Elefantes. Foto: Filipe Ferreira.

No solo da companhia portuguesa Formiga Atômica, o ator Miguel Fragata apresenta para o público infantil A Caminhada dos Elefantes, que narra uma história sobre a finitude inscrita no livro da vida de cada ser humano.  

O espaço do picadeiro, território da diversidade por excelência, surge reconfigurado no espetáculo espanhol …i les idees volen (…e as ideias voam), do coletivo Animal Religion. Nele, a arena é habitada principalmente por Quim Girón, que usa recursos não verbais para interagir com a plateia mirim.

Outro representante do Nordeste brasileiro, o espetáculo de rua Mar de Fitas Nau de Ilusão, do Grupo Imbuaça, com 45 anos de atividade em Aracaju (SE), leva seu estandarte à praça pública para saudar as bases de uma gramática cênica alimentada por canções, danças e expressões da oralidade da literatura de cordel.


SERVIÇO

MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas  

Criado em 2010 para evidenciar a diversidade de estéticas e as pesquisas nas artes cênicas dos países da América Latina e Península Ibérica, o MIRADA chega à sua sexta edição reforçando as similaridades e pluralidades que se estabelecem entre a produção desses países na cidade de Santos, que carrega, além de sua beleza natural, a vocação de palco perfeito para evidenciar e proporcionar o intercâmbio entre os povos. 

09 a 18 de setembro de 2022 

Adquira seus ingressos para os espetáculos a partir das 15h do dia 25/08.
Mais informações em www.sescsp.org.br/mirada 

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