Resistências criativas e os caminhos da geração de renda
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*Por Paula Cristina Bernardo, Giuliano Martins e Rafael Castori
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Olhando a história das mulheres no mundo do trabalho ao longo dos tempos é possível pontuar em que período e quais condições proporcionaram o início de sua atuação e desenvolvimento, mesmo enquanto acumulavam as tarefas dentro de casa. Elas passaram, de forma gradual, a desenvolver papéis dentro de uma estrutura de organização social de trabalho que privilegia o gênero masculino.
Dados de 1995, do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), apontam que 22,9% das famílias brasileiras eram chefiadas por mulheres. Passados 20 anos, em 2015, esse número subiu para 40,5% das famílias. Essa diferença expressa o crescimento do número de mulheres no mercado de trabalho formal e informal.
Entretanto, tais mudanças carregam um alto preço pago pelas mulheres. Ao comparar as mudanças sociais no mercado de trabalho, no qual homens ainda ocupam os principais cargos de gestão e decisão, é possível observar diversas formas de violência contra a mulher, como feminicídio, assédio moral e sexual. O momento em que vivemos mostra-se ainda mais preocupante, pois segundo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no primeiro período de isolamento social devido à pandemia, em 2020, o Brasil contabilizou 1.350 casos de feminicídio, um a cada seis horas e meia.
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TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Ainda que este panorama aponte novos horizontes para pensarmos sobre as mudanças na organização social do trabalho, também denota uma série de desafios para a mulher trabalhadora, que não raro precisa conciliar múltiplas jornadas. As mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana.
Uma parceria firmada em 2017 entre o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres) e a SPM (Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério da Justiça e Cidadania), disponibilizou o estudo “O Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, que traz análises temáticas sobre questões sociais, tendo como o base os dados de 1995 a 2015, do PNAD.
A partir desses estudos, iniciados em 2004, é possível compreender que, mesmo com a abertura de portas para o trabalho realizado por mulheres, ainda se impõem uma série de opressões que subjugam a mão de obra feminina.
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MULHERES E RESISTÊNCIAS
Diante do histórico de lutas das mulheres na sociedade, ratificado em dados alarmantes sobre as dificuldades no mercado de trabalho e as violências que elas enfrentam, percebe-se um levante feminino com propostas de trabalho pautadas em economia criativa e solidária, alternativas de atuação que priorizam a segurança econômica, física e emocional para essas trabalhadoras.
Em Jundiaí, é possível encontrar uma mostra de mulheres que lidam com empreendimentos alternativos na cidade e seu entorno e que buscam conciliar o exercício profissional com suas lutas e formas de resistências.
A partir da ação em rede “Nós: criação, trabalho e cidadania”, realizada pelo Sesc São Paulo com o objetivo de dar visibilidade a iniciativas que fomentam a inclusão produtiva, a geração de renda e o desenvolvimento comunitário, a unidade do Sesc Jundiaí busca ampliar a visibilidade dessas mulheres com a realização da feira “Mulheres e Resistências”. São empreendedoras criativas – artesãs, arte-educadoras, artistas, produtoras de cultura – que irão mostrar seu trabalho, contar a sua história de resistência e dialogar sobre formas alternativas de geração de renda. Nos dias 26 e 27 de março, das 10h às 16h, no terraço, com entrada gratuita.
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Conheça as mulheres que estarão na feira “Mulheres e Resistências”:
Ariadna da Mata, a Preta Ary, é MC e pedagoga, produz bonecas e bonecos negros de pano, quiet books e brinquedos criativos que cultivam o respeito às diferenças e à representatividade na marca “Negrita Arteira”. Uma proposta lúdica para pautar o diálogo sobre diversidade, combate ao racismo e outras formas de opressão.
Chaiane Mendes é MC e arte-educadora, que aprendeu crochê com Dona Maria Angela, sua mãe, também artesã, negra, periférica. Criou a marca Chai Chik em 2010, que se destaca pelas peças em crochê com materiais recicláveis. Os diferentes tipos de acessórios, a maioria em formato de flores, buscam a representatividade de suas raízes. Estimula mulheres a fugirem do padrão de beleza imposto e a usar a criatividade para combinações de cores que fazem parte da sua essência, permitindo o estilo livre de quebrada desfilar em qualquer passarela.
Clarissa Oliveira é estilista e designer, criou a marca “Maria das Três”, em 2008. Ela é responsável por cada detalhe desde a criação, modelagem, corte e costura, até a comercialização de todas de bolsas e acessórios. A produção de cada modelo é feita em pequena escala, o que resulta em um trabalho limitado, exclusivo e sem desperdício de matéria-prima.
Donate Alcione é artesã da arte da papietagem, que pesquisa e desenvolve várias técnicas criativas de trabalho com papéis artesanais. Preocupada com a sustentabilidade, pontuando a questão na marca, “Donate Papel Reciclado”, ela produz suas peças reaproveitando papéis e cria personagens com papel machê, além de produzir o papel para fabricação de cadernos e blocos de anotações. Também já ministrou uma série de oficinas criativas e sustentáveis.
Flávia Prexede representa um conjunto de artesãos que fazem parte do projeto Quê Colab, um espaço criado para o fortalecimento da economia colaborativa, circular e criativa. É uma união de marcas autorais que traz para a feira o trabalho de mulheres artesãs, artistas, de Jundiaí. A Quê Colab conecta diversos setores da economia e busca promover uma mudança na forma de consumo local. Todes têm uma preocupação com o meio ambiente, a sustentabilidade e o consumo consciente, buscam estimular uma maneira nova de consumir, uma forma diferente de trabalho: a economia colaborativa.
Flávia Rissi é uma artesã de Jundiaí que produz peças em macramê e outros tipos de trançados de fios, ornamentadas com pedraria, flores e folhas. Seu trabalho, representando na marca “Trança Fios”, além de envolver a arte de trançar fios, explora técnicas da lapidação de pedras, bem como desidratação de flores e folhas para ornamento de suas peças que carregam uma energia potente.
Georgete Maloupas (Jo) vem desde 2007 propõe recriar a identidade periférica pela marca “Dona Vera Vest”, que traz um conceito de sustentabilidade vindo da cultura de brechó. A inspiração para a marca, vem da mãe do articulador cultural Fernando Negotinho, dona Vera, que atua no ramo da moda há mais de 30 anos, representando a sustentabilidade, a ancestralidade e a ecocriativa.
Isadora Mendes é conhecida como DJ Maravilha, artista e batuqueira que atua desde 2012 no cenário artístico-musical de Jundiaí, tendo trabalhado como coorganizadora do espaços independentes e de projetos voltados à cultura DJ e música instrumental. Ela promove eventos na área da música, exposições de arte, encontros e atividades artísticas diversas. Sua pesquisa musical se dá partir do cruzamento de suas vivências enquanto artista, produtora e amante da música.
Jaqueline Diniz é tatuadora e ilustradora digital desde 2017. Formada em Antropologia, criou a marca “Sussuarana Biojoias”, em 2019, como alternativa de renda durante a pandemia. É um empreendimento que produz peças em resina epóxi, ornamentadas com plantas regionais e tingidas com tintas naturais. O objetivo é produzir uma joia única, fruto de uma economia criativa que registra a paisagem ao redor e as estações do ano, com as cores da nossa cozinha.
Letícia da Silva Arruda a MC Afrolet, é mulher negra e periférica que tem o objetivo de gerar renda por meio do trabalho artesanal de costura e seus projetos Lapidados Diamante, Collab e Iolê Skate Rua. Suas peças dialogam com o público hip hop e skate. A marca “Lapidados”, de roupas e acessórios, criada há cinco anos, surgiu como uma opção acessível, um caminho de superação, com estilo próprio, vinculada à arte urbana. Já a “Collab” surgiu como forma de comunicação, trouxe troca de conhecimento e divulgação, estimulou parcerias com artistas da música urbana, Hip Hop, Skate, artistas da área Underground. Produziu moda show para artistas independentes. Na marca Iolê Skate Rua, ela realiza parcerias, criações para atletas e músicos, conectando a identidade do artista com a identidade da marca.
Silvia Marcelino produz arte engajada contra o racismo e pela valorização da mulher negra. Com a marca “Preta Eu”, cria peças de bijuterias e decoração com bonecas Abayomi, além de desenvolver oficinas, que visam dar visibilidade à beleza, cultura, trabalho e a arte da mulher negra em Jundiaí e região.
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*PAULA CRISTINA BERNARDO é mestre em educação, bacharel e licenciada em história e Animadora Sociocultural no Sesc Jundiaí;
GIULIANO MARTINS é pós-graduado em Comunicação Digital e é Editor Web no Sesc Jundiaí;
RAFAEL CASTORI é pós-graduado em Comunicação Empresarial e é Assessor de Imprensa no Sesc Jundiaí.
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