Realizado pelo Sesc e idealizado por Andrea Caruso Saturnino e Lucas Bambozzi, que também assinam a curadoria geral, o projeto MULTITUDE estreia com mostra que reúne 24 obras de artistas como o turco Kutlug Ataman, o belga radicado no México Francis Alÿs, o argentino Leandro Katz, os brasileiros Lourival Cuquinha e Dora Longo Bahia, além da jordaniana Ala Younis e da argentina Gabriela Golder que estarão no Brasil para a abertura.
Gradativamente, ainda, a exposição se expande, recebendo ao menos 30 novas peças de artistas, conhecidos ou não no circuito, que poderão propor seus trabalhos à comissão curatorial residente no espaço expositivo. Um ousado formato de diálogo entre curadoria e artistas, cujo resultado é uma exposição que se consolida de modo processual.
Está previsto também um ciclo de encontros, com participações de Maurizio Lazzarato, Leonor Arfuch, Peter Pál Pelbart, Antônio Negri (em um dia de palestra), e outros importantes pensadores da atualidade, cujo pensamento motiva, alimenta e fundamenta as intenções e questões de todo o projeto.
Heterogênea, dispersa, complexa e multidirecional, a multidão vem sendo tema de uma série de obras nos últimos anos. Revoluções em praças públicas, movimentos ocuppy em grandes centros e as manifestações populares que, desde junho de 2013, se proliferam pelo Brasil e estão se tornando foco de abordagem, não apenas de profissionais de planejamento urbano, mas também de produções artísticas que incorporam essas questões em seus processos de crescimento e desenvolvimento.
Multitude propõe uma reflexão que dialoga com o conceito de multidão desenvolvido por Antonio Negri e Michael Hardt desde a publicação de ‘O Império’ (2000), e que se desdobra em uma série de livros e discussões que renovam o entendimento dos movimentos sociais na atualidade. Negri estará presente no evento em uma conferência que tem como tema `A Democracia da Multidão` e em um encontro com outros pensadores.
Se esse já vem sendo um debate intenso nos campos da sociologia e ciência política, o projeto Multitude sugere uma investigação agora com enfoque na construção simbólica e criativa através do pensamento artístico.
Montada na área de convivência do Sesc Pompeia, a exposição de arte é o centro do projeto Multitude. O evento abre com uma mostra que reúne 24 obras de vários suportes e meios como vídeos, fotografias, instalações e pinturas, que se referem à multidão em várias localidades do mundo, mostrando questões em comum, mas também apontando distinções culturais que resistem a um mundo globalizado.
Muitos dos trabalhos são apresentados no Brasil pela primeira vez. O filme ‘Multitud 7 x 7’, rodado em 16mm, realizado em 1974 pelo argentino Leandro Katz, é uma das grandes atrações, por exemplo. De um ponto de vista elevado, a câmera observa, através de sete tratamentos ópticos diferentes, uma multidão reunida em Quito. As pessoas esperam para ver uma imagem de Cristo cujo rosto, dizem, se parece com o de Che Guevara. O artista conviveu com Helio Oiticica em Nova York e ganhou uma grande retrospectiva em Buenos Aires no último ano.
A instalação multicanal ‘Küba’, do turco Kutlug Ataman, também é inédita no país. Por intermédio de telas distribuídas no espaço expositivo, o artista – que participou da 29ª Bienal de São Paulo – exibe imagens e vozes de 40 pessoas que vivem no subúrbio de Istambul, conhecido por casas ocupadas por esquerdistas curdos. A obra oferece uma estranha noção de utopia em torno das complexas estruturas e dinâmicas que constituem a mitologia e a narrativa em torno de um bairro.
A jordaniana Ala Younis vem ao Brasil para a primeira exibição de sua obra ‘Tin Soldiers’, uma representação de nove exércitos envolvidos ou sujeitos a atos de guerra no Oriente Médio de hoje (Egito, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Líbano, Palestina, Síria e Turquia). O trabalho foi produzido no contexto da 12ª Bienal de Istambul (2011) e Home Works 5’, Ashkal Alwan, Beirute, 2010.
Artistas brasileiros têm espaço na seleção, como Giselle Beiguelman, que criou ‘Cinema sem Volta’ especialmente para Multitude. A obra é um slideshow infinito alimentado automaticamente com imagens do Instagram. Produzido por grupos conflitantes, que utilizam as mesmas hashtags, perfomatiza uma batalha de linguagens entre a turba e a multidão. Sem loop, nem volta.
Dora Longo Bahia exibe uma nova série de sua instalação ‘Farsa – Delacroix’, que compara pinturas históricas que versam sobre revoluções e guerras – como a Guernica, de Picasso, e o Marat assassinado, de David – e fotografias contemporâneas coletadas na internet que tratam do mesmo assunto. O título refere-se à famosa frase de Karl Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
A compilação de vídeos Zona de Poesia Árida, realizados entre 2002 e 2012 por coletivos de arte e ativismo atuantes em São Paulo, também é um dos destaques da mostra. Os filmes selecionados mostram um movimento cultural contemporâneo que amplia as fronteiras da arte/estética/política e potencializa sua função social ao se conectar e dialogar com outras esferas do conhecimento, outros públicos, diferentes espaços de atuação, novas práticas artísticas e novas formas de organização. A compilação dos trabalhos foi feita por Tulio Tavares, do Coletivo Nova Pasta.
Confira aqui a biografia de todos os artistas.
Inquieta, intensa e ativa como as multidões do mundo, este complexo de atividades se expande a partir do dia 24 de junho, incorporando novos trabalhos por intermédio da curadoria de plantão em que traz novas obras para a exposição; espetáculos e performance: da Espanha, ‘Pendente de Voto’, de Portugal, “Atlas São Paulo” e Ciclo de Encontros: Antonio Negri e pensadores da atualidade.
Confira mais informações sobre o ciclo de encontros e os participantes clicando aqui.
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