Foto: Adriano Milan – Contagiar, com Kako Aranciba (Sesc Pompeia e Sesc Itaquera)
HIV/Aids: um olhar hoje
O que vem à sua mente quando o assunto é HIV/Aids? Muitas vezes somos levados a pensamentos descabidos e arcaicos, que não revelam a verdadeira face de uma questão que, como tudo na vida, necessita de contínua atualização, discussão e reflexão. Abrir as cortinas do silêncio e deixar arejar o conhecimento é uma das formas mais eficazes de quebrar estigmas e preconceitos.
O HIV é um vírus que afeta o sistema imunológico e que, sem a terapia antirretroviral, pode acarretar o desenvolvimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), estágio de grave infecção das células de defesa do corpo, que possibilita o surgimento de doenças oportunistas. A transmissão do vírus ocorre pela troca de fluídos tais como sangue, sêmen e leite materno. Mesmo ainda sem cura, o HIV em estado indetectável possibilita qualidade de vida e a intransmissibilidade do vírus.
Nas décadas de 1980 e 1990, o desconhecimento da medicina e o alarmismo da imprensa geraram preconceito, estigma, discriminação e medo em torno do HIV/Aids. Como resposta, a sociedade civil organizada pressionou o Estado brasileiro para garantir direitos e dignidade às pessoas vivendo com HIV/Aids. Décadas se passaram e a fabricação de medicamentos mais potentes possibilitou melhor qualidade de vida por meio da redução de adoecimentos e mortes.
No Brasil, é gratuita a distribuição de medicamentos para as pessoas vivendo com HIV/Aids. O tratamento é garantido pela Lei nº 9.313 de 1996, que “dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de Aids” pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Além do tratamento, outros direitos foram conquistados no âmbito social. Sancionada no país em junho de 2014, a Lei n° 12.984 pune com multa e com reclusão de 1 a 4 anos atitudes discriminatórias contra pessoas vivendo com HIV/Aids no ambiente escolar, no trabalho e nos serviços de saúde. O tratamento médico gratuito e universal pelo SUS, a possibilidade de saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a gratuidade no transporte público em diversos municípios do país são alguns dos outros direitos garantidos às pessoas vivendo com HIV/Aids.
Muro PositHIVo – Micaela Cyrino convida as artistas Isadora Simões e Mayara Amaral para ilustrar os atravessamentos do corpo negro feminino e suas feridas, com técnicas de lambe e grafite. Sesc Santana, em exposição de 30/11/2019 a 01/03/2020
Testagem: o primeiro passo
O imaginário social sobre a questão ainda está impregnado de ideias que não mais condizem com a atualidade. A testagem é o primeiro passo para conhecer o status sorológico para o HIV e/ou outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). O medo de um possível diagnóstico positivo para o HIV é um dos principais entraves para a realização do teste.
O medo é o agente infeccioso do imaginário coletivo sobre o HIV/Aids. Ele cria estado de pânico em boa parte da população que vive a dúvida. Para muitos, é preferível não lidar com o próprio monstro criado. O diagnóstico tardio ocasionado pela insegurança e por diversas desigualdades socioeconômicas é um dos responsáveis pelas mortes por Aids hoje no país.
Há três tipos de testagem: a convencional, em que o sangue é colhido, armazenado em um tubo e levado para laboratório; a por punção digital, em que o sangue é coletado após uma picada no dedo; e a por fluído oral, em que anticorpos são coletados através da gengiva.
Os testes por punção digital e fluído oral indicam a sorologia negativa ou positiva entre 20 e 30 minutos e possuem 99,8% de especificidade. Apesar da possibilidade de coleta oral, o HIV não é transmitido pela saliva: os testes por fluído oral identificam anticorpos, e não o vírus. Saliva, beijo e abraço não transmitem o HIV.
O HIV/Aids é uma questão que perpassa questões de raça e cor, gênero, sexualidade, classe social, religião e cultura. O HIV/Aids foi fantasiado como a doença do “outro”, processo que provoca afastamento e, consequentemente, ignorância. Conhecer a sorologia para o HIV e/ou outras ISTs é uma forma de autocuidado e permite o início precoce do tratamento em caso de diagnóstico positivo.
O Sesc Pompeia recebe duas edições do “Conversa Musical”, um bate-papo seguido de apresentação musical. No sábado (30/11), às 17h, o cantor Gabriel Estrela (Gaê), idealizador do Projeto Boa Sorte, participa compartilhando sua trajetória no campo do HIV. Já no sábado (7/12), às 15h30, é a vez da cantora e compositora Maria Sil apresentar seu trabalho que traz questões de gênero, sexualidade e HIV/Aids
(Des)cobrir
Descobrir algo que até então é desconhecido causa sensações diversas. Acessar espaços da consciência antes não desbravados permite aprofundar o conhecimento sobre nós mesmos e sobre as limitações e os medos que habitam nossa existência.
A descoberta de estar vivendo com HIV não é um processo único. O atendimento humanizado e o acolhimento nos serviços de saúde são fundamentais para o fortalecimento da pessoa recém-diagnosticada. É por meio deles que dúvidas são sanadas e informações são compartilhadas a fim de dar encaminhamento ao tratamento.
A situação do HIV/Aids no Brasil e no mundo se transformou muito desde o seu surgimento. A terapia antirretroviral permite hoje que pessoas vivendo com HIV/Aids trabalhem, estudem, amem, dancem e tracem planos para o futuro. Mas viver com HIV é muito mais do que tomar cotidianamente alguns comprimidos. O silêncio de um assunto urgente e a desinformação geradora de estigma e preconceito ainda rondam o imaginário social sobre a questão.
A busca por uma boa adesão ao tratamento e os dilemas de expor (ou não) a sorologia são alguns dos desafios de uma pessoa vivendo com HIV. O sigilo sobre o status sorológico de uma pessoa é garantido por lei, devendo escolas, locais de trabalho, hospitais, serviços públicos ou qualquer outra pessoa preservar a informação. Revelar ou não o vírus é decisão exclusiva da pessoa que vive com ele.
Por uma sociedade indetectável ao preconceito
Além de favorecer a diminuição de adoecimentos e o aumento da qualidade de vida de pessoas vivendo com HIV, uma boa adesão ao tratamento antirretroviral possibilita a não transmissão do vírus. Pessoas em tratamento regular há seis meses e com carga viral (quantidade de vírus no sangue) indetectável não transmitem o vírus em relações sexuais. Fruto de anos de pesquisa médica, tal informação virou pauta da campanha internacional Indetectável = Intransmissível (I=I) e foi validada por organizações, institutos de pesquisa e governos, incluindo o Ministério da Saúde.
Acessar informações sobre o HIV/Aids nos permite o toque e a conexão com esses corpos, construindo relações afetivo-sexuais saudáveis e respeitosas, principalmente entre casais sorodiferentes (quando um parceiro vive com HIV e o outro não). Além disso, a indetectabilidade permite que mães vivendo com HIV possam ter uma gestação tranquila e saudável por meio de acompanhamento médico, sem a possibilidade de transmissão do vírus ao bebê.
Viver com HIV não é mais uma sentença de morte. Ampliar horizontes e ressignificar a existência são algumas das muitas possibilidades de uma vida pós diagnóstico positivo. Espantar os fantasmas da culpa é fundamental para que o processo seja leve e tranquilo.
Se a desinformação ocasiona medo e afasta, debater a temática nos ajuda a reformular interpretações errôneas sobre as pessoas que vivem com HIV/Aids. O status sorológico nunca deveria ser motivo de afastamento físico e social. O conhecimento expande e também aproxima. Por isso é preciso sempre cultivá-lo.
A Celebração Amem surge com a proposta de criar protagonismos, dar voz e visibilidade para a comunidade negra, mulheres, pessoas vivendo com HIV/Aids e LGBTI+. A festa conta com um ambiente inclusivo e será embalada pela música negra de diversas décadas e gêneros e acontcerá em 30/11, sábado, às 17h30, no Sesc Santana
De 1 a 8 de dezembro o Sesc São Paulo realiza o Contato, projeto que dá visibilidade às reflexões sobre HIV/Aids e outras ISTs por meio de palestras, oficinas, espetáculos, bate-papos e muitas outras atividades. Acompanhe a programação completa em sescsp.org.br/contato.
Utilizamos cookies essenciais, de acordo com a nossa Política de Privacidade, para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.