A produção de alimentos é feita em diferentes frentes para atender às demandas do mercado. “Por definição, a agricultura familiar também é uma das partes do agronegócio. (O agronegócio) é um sistema que envolve quem produz commodities (produtos que têm preços regulados pelo mercado internacional) como a soja em grandes propriedades, e também quem produz hortaliças, frutas e outros alimentos em pequenas áreas de terra e com preços e demanda regulados pelo mercado local”, disse José Graziano da Silva, ex-ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome entre 2003 e 2004 e ex-diretor Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) entre 2012 e 2019, no debate Ideias – Os Efeitos da Pandemia na Alimentação dos Brasileiros, promovido online pelo Sesc São Paulo.
Para o especialista, uma das questões problemáticas que precisam ser observadas é que o consumo de commotidies – seja na sua forma natural ou por meio dos ingredientes presentes nos ultraprocessados – vem aumentando quando o movimento deveria ser o inverso, focando nos alimentos não-commodities. “Esses produtos frescos que devem ser a base de nossa alimentação são, em sua maior parte, produzidos pelos pequenos agricultores e pela agricultura familiar”, diz Arpad Spalding, geógrafo e agricultor que atua na implementação e disseminação da agricultura urbana e orgânica.
Há dados que confirmam a opinião de Graziano e Spalding. Embora a pandemia tenha modificado alguns comportamentos, ao menos momentaneamente, existe uma tendência na alimentação do brasileiro que precisa ser observada com cautela. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no final de agosto, em dez anos o consumo diário de arroz e de feijão diminuiu. Antes o arroz fazia parte das refeições diárias de 84% do brasileiros e hoje somente está na mesa de 76,1%. Já o feijão, caiu de 72,8% para 60%. Na outra ponta, o consumo de salgadinhos de pacote, por exemplo, aumentou 38 pontos percentuais.
A produção de alimentos por famílias e em espaços de terra menores e seu posterior consumo por toda a sociedade, traz diversas vantagens econômicas, sociais e ambientais. Elaine de Azevedo, nutricionista e pesquisadora em Sociologias da Saúde, Ambiental e da Alimentação, fala sobre essas e outras questões no episódio “Orgânico é para todo mundo?”, de seu podcast Panela de Impressão.
Ela explica que, do ponto de vista econômico, a agricultura familiar é uma fonte de trabalho e renda para diversas pessoas e a venda direta, ou com menos intermediários é um ponto positivo. Com o trabalho na agricultura sendo vantajoso financeiramente, menos pessoas cogitam migrar para os centros urbanos em busca de emprego e oportunidades de melhorar de vida. Isso evita tanto o êxodo rural quanto a superpopulação das cidades.
Ambientalmente, a pequena propriedade traz benefícios quando trabalha com diferentes cultivos de alimentos e plantas, em ciclos que permitem a regeneração do solo e seus nutrientes. O impacto de áreas verdes e permeáveis para as cidades, quando há agricultura urbana, também é outra possível vantagem, além da redução dos trajetos entre o campo e os centros urbanos ser um meio de diminuir a emissão de gás carbônico.
Já se perguntou por que o custo dos alimentos orgânicos costuma ser mais alto do que o dos convencionais? Na entrevista a seguir, Arpad Spalding fala sobre este tema e sobre os benefícios que o investimento nos pequenos agricultores pode trazer para a sociedade como um todo.
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Continue percorrendo os caminhos para a alimentação saudável nos outros artigos desta série:
Os caminhos para uma alimentação saudável
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Este conteúdo faz parte da quarta edição do projeto Experimenta! – Comida, saúde e cultura. Em 2020, o ponto de encontro para conversar sobre este assunto fundamental para o bem-estar individual e coletivo será o debate Alimentação: um direito de todos, que acontece no dia 14/10, às 10h, e será transmitido ao vivo em youtube.com/sescsp, com a participação de Frei Betto, Daniel Balaban, Elisabetta Recine e mediação de Adriana Salay Leme.
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