Foto: Fernando Bisan.
Criador da marca Fetiche Design e apresentador do programa Decora, no canal GNT, o designer industrial Paulo Biacchi é autor de um canal no YouTube chamado “Tente Isso em Casa“, onde convida o público a fazer por conta própria objetos que poderiam estar em qualquer loja de decoração.
Visitamos o estúdio de Paulo Biacchi para conversar sobre a influência do ateliê no processo criativo e na produção de peças. O designer também faz uma retrospectiva da carreira e comenta alguns projetos, enquanto criador de produtos e comunicador de design.
Qual a sua formação e como surgiu o interesse em trabalhar com design?
Sou formado em Desenho Industrial com habilitação em Projeto do Produto. Sou graduado pela Universidade Federal do Paraná. Sou apaixonado por essa escola e por todos os anos que estive por lá. No total foram 6 anos, sim, eu estiquei um pouco. Me envolvi bastante com o universo político acadêmico, organização de eventos de design regional e nacional e tudo mais que uma universidade pública e de qualidade é capaz de proporcionar. Trouxe amigos para a vida e experiências que me trouxeram até o momento que me encontro. Caí de paraquedas no Design assim como todo adolescente que precisa decidir no susto a carreira que vai seguir o resto da vida. Foi a mãe de um amigo que me abriu os olhos e falou: “você é tão criativo, você vive inventando coisas, porque quer entrar em Medicina?” Olha esse curso aqui!” E me mostrou que existia um curso onde eu podia criar produtos e resolver problemas. Achei genial e logo no começo do curso me identifiquei e curti muito.
Houve alguma influência familiar? Quem te inspirou a fazer o que você faz hoje?
Meu pai, hoje um senhor de 83 anos, sempre fez muitas coisas em casa, desde consertos até construção de peças em acrílico. Ele é protético e cirurgião dentista e sempre usou suas ferramentas da profissão para isso. Afinal qual a dificuldade construir uma nova maçaneta para porta para quem faz uma dentadura? Hoje percebo que isso teve grande influência, sempre fui fascinado pela bancada de trabalho onde ele fazia (e ainda faz) as próteses.
Como você começa a criar? Quais são os estímulos, ou a metodologia, técnica etc que te fazem concretizar uma ideia?
Com o tempo fui desenvolvendo uma metodologia própria para criar. Não acredito em estalos criativos e lampejos geniais momentâneos. Para mim design é processo. Primeiro preciso definir o problema a ser solucionado e depois seguir em fases. Pesquisa, conceituação, geração de alternativas. É nessa fase que no papel em branco surgem as ideias, sobre uma base sólida de pesquisa e conceituação. Só assim é possível criar algo realmente novo.
Poderia comentar a relação entre você e seu estúdio? De que maneira o espaço que você escolheu, reflete no desenvolvimento do seu trabalho?
Para mim e para a Carol (Carolina Armellini é minha sócia) o ambiente sempre influenciou muito o trabalho. Quando tínhamos o estúdio em Curitiba, em uma casa da década de 30 no centro histórico da cidade, foi um momento mais introspectivo do estúdio. A casa era aconchegante, tínhamos cachorro e passarinhos no jardim. Nesse período críamos as peças mais icônicas e importantes do estúdio. Desde 2014 estamos em São Paulo, vivendo a cidade e seu ritmo, nosso trabalho agora reflete essa cadência. Estamos expostos, estamos nos comunicando, produzindo além de produtos, conteúdo de design para o YouTube e TV.
Quando surge uma crise, ou bloqueio criativo, o que você faz?
Nós não somos máquinas, precisamos aquecer o nosso entorno quando estamos exercendo a criatividade. Criar é uma atividade que exige concentração, e o ambiente e suas influências interferem diretamente nisso. Quando estou criando algo preciso mergulhar no universo do projeto, pra isso preciso estar confortável, conforto físico e mental. Isso pra mim significa, um fone de ouvido, um café preto e uma folha em branco.
Sobre tempo dedicado ao trabalho: Como é a rotina entre seus projetos?
Hoje eu e Carol estamos trabalhando em diversos projetos ao mesmo tempo. As fases de cada projetos que estão em tempos distintos. Tem dias que estou pesquisando e outros criando no papel. Temos uma rotina de trabalho bem definida, trabalhamos das 9 as 18hs e dificilmente passamos desse horário no escritório. Eu tenho dificuldade de desligar, estou sempre numa eterna pesquisa, vendo televisão ou fazendo compras no mercado.
Poderia dar o exemplo de um grande êxito do seu trabalho? E um grande desacerto?
Em 2010 criamos um banco de balanço chamado R540, ele foi muito publicado na mídia internacional. Em 2012 a Renault francesa utilizou o Banco R540 como referência para criar todo o interior do carro conceito Captur lançado no Salão de Genebra. Um desacerto? Estamos desacertando e fracassando sempre, somos um laboratório de testes, mas isso nunca vira matéria de revista né?
A cultura do DIY (Do It Yourself – Faça Você Mesmo) tem proporcionado o fazer criativo a pessoas sem formação específica nas áreas do design. Como você vê o crescimento deste fenômeno?
Acho sensacional, pois é uma cultura já disseminada em outros países e estava demorando para pegar aqui no Brasil. Mas é uma onda em diversos segmentos e que vai atingindo outras áreas aos poucos. É uma valorização do fazer a mão, do slow design, do cuidado com o processo e com o produto final. Na real é um desejo de ter e fazer algo exclusivo, algo com história. O desejo de ser único. E não tem algo mais poderoso e exclusivo do que a frase: “Fui eu que fiz”.
Como é a sua relação com o público que assiste aos vídeos do Tente Isso em Casa? Isso influencia na criação dos próximos vídeos?
O mais legal do youtube é esse relacionamento próximo com o público. Eu respondo a maioria dos comentários e troco ideias. O youtube consegue entregar claramente os desejos do seu público. Seja por likes, por views ou por comentários. Não posso negar que isso influencia o conteúdo, mas também não posso dizer que conduz. Temos uma linguagem de conteúdo muito clara e que nos diferenciou no universo do DIY. Eu hoje uso os meus conhecimentos da profissão para proporcionar ao meu público uma experiência com o processo de design. Tem gente que não entende e me pede coisas que não tem a ver com a proposta do canal, mas acho que isso faz parte do processo.
Muitos designers atravessam a sensação desconfortável de que seu trabalho perdeu o caráter inovador, ficando igual a muito do que já foi feito. Isso é algo que te preocupa? Se é, como lida com isso?
Precisamos estar em constante análise. A comparação com o trabalho de outros designers é inevitável e, na verdade, só é possível ser inovador em comparação a outros trabalhos já realizados. O mercado engessa o caráter inovador, ele dita regras que moldam as criações. Nós temos algumas válvulas de escape criativas que necessariamente não são projetos para o mercado, isso mantém nossas criações mais frescas e vivas.
O que te estimula a seguir trabalhando? Há uma meta, um objetivo?
O que eu acho mais interessante da nossa profissão é que cada projeto é uma nova missão, uma batalha nova. Eu, particularmente, me sinto um jovem aprendiz a cada briefing recebido. Cada projeto é um novo mundo a ser explorado, um novo universo de referências. Isso é muito estímulo.
Biacchi esteve na programação da primeira edição do FestA! – Festival de Aprender, que aconteceu de 10 a 12 de março de 2018 em todas as unidades do Sesc em São Paulo.
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