Highlining a 844 metros de altura na Pedra da Gávea, Rio de Janeiro, 2014 (Foto: Thiago Diz)
O que motiva alguém a percorrer 250 quilômetros no deserto? A exposição Esporte à Flor da Pele, no Sesc São Caetano, reúne imagens que representam a prática esportiva pelo viés do desafio e da aventura
Deserto do Atacama, Fernando de Noronha, Lençóis Maranhenses, entre outros paraísos naturais, são cenários para a superação de limites de aventureiros. Esses locais foram retratados nas fotografias de Thiago Diz, que compõem a exposição Esporte à Flor da Pele, realizada pelo Sesc São Caetano. Inaugurada na última terça-feira, 13 de janeiro, a mostra pretende discutir as motivações envolvidas na prática dos Esportes de Aventura.
De uma ultramaratona de 250 quilômetros no Chile a uma expedição de surf na pororoca no Maranhão, as imagens capturadas pelas lentes do fotógrafo de ação registram instantes em que sujeitos experimentam a máxima expressão de suas forças. Para além dos benefícios à saúde e à estética, os protagonistas dessas fotografias encontraram na atividade física uma forma de transcender as experiências cotidianas.
Uma leitura superficial das imagens expostas conduziria à conclusão de que os retratados dedicam-se a desafiar a natureza. Nas fotografias, porém, a relação estabelecida com o meio natural vai adiante: ele permite o contato com a natureza do ser e com a solidão inerente à condição humana. Em meio ao culto à virtualidade da experiência e à artificialidade da vida, somos convidados a observar sujeitos que optaram pelo refluxo às formas naturais de existência, abandonando a liquidez dos espaços de modernidade para acessar camadas interiores.
Desprendidos da ornamentação do mundo pós-moderno – permeado por bugigangas tecnológicas – os indivíduos fotografados puderam, a partir da prática esportiva em condições extremas, ligar-se às suas essências e descobrir-se em ação, “sendo”, investigando, assim, os limites de suas forças. Nos momentos registrados, a lógica contemporânea da facilidade e da minimização do esforço é substituída pela valorização da resistência, do desafio e do empenho, que, no caso dos campeonatos e das ultramaratonas, tem início meses antes da prova. Em oposição à ode à velocidade, valor dominante no contexto de dromocracia cibercultural em que vivemos, os esportistas parecem fruir do presente, ainda que, ironicamente, parte deles estejam na disputa por melhores tempos.
Sobre o fotógrafo e seu acervo
Nascido na capital do Rio de Janeiro, Thiago Diz cresceu em diferentes países. Devido ao trabalho do pai, dos 4 aos 15 anos mudava-se frequentemente. A proximidade com a fotografia deu-se logo na infância, por intermédio dos pais. “Por saberem que nesses países conheceriam espaços, culturas e pessoas diferentes, eles sempre levavam câmera fotográfica e de vídeo para qualquer lugar. Depois, a gente revelava as imagens e, quando chegávamos a um país novo, sentávamos no sofá para rever as fotos. Era um costume muito forte da família ver as imagens para reviver os momentos”, recorda o fotógrafo.
A fotografia como carreira, entretanto, demorou a surgir. “Meu pai era um executivo de sucesso e nunca estimulou a atividade como profissão. Tanto eu quanto meus irmãos seguimos o caminho dele. Me formei em administração no Rio de Janeiro. Trabalhei numa companhia de bebidas, numa exportadora de melão, numa empresa que atuava em Internet… Mudei várias vezes de emprego e nada fazia sentido. Até que um dia decidi pedir demissão”, explica Thiago. Antes de encontrar-se fotógrafo, Thiago foi para o caminho do esporte. “Sempre fui ativo. Naquela época, um amigo me chamou para fazer um curso de mergulho. Me tornei instrutor e trabalhei no México e na Austrália. Nesses países voltei a fazer fotos. Depois de oito anos, larguei o mergulho para fotografar”, conta o profissional.
Especialista em Fotografia de Ação e Esportes de Aventura, o carioca já capturou imagens de esportistas em diversos lugares do mundo, como Havaí, Deserto do Atacama (Chile) e Durban (África do Sul). É o único brasileiro a concorrer ao Summit Photo Contest, concurso de fotografia internacional que premia as melhores imagens externas. Entre tantas aventuras, Thiago Diz revela que as ultramaratonas a pé, no deserto, são suas preferidas. As travessias longas, as temperaturas elevadas ou negativas e a escassez de água, segundo o fotógrafo, intensificam o desafio. Mas, o que motiva os participantes para as provas? No áudio abaixo, Thiago comenta sobre sua experiência no Atacama Crossing, competição com percurso de 250 quilômetros:
Para Thiago, além dos conhecimentos técnicos, a Fotografia de Esporte de Aventura exige do profissional saber lidar com as adversidades encontradas nos ambientes de trabalho:
Retratando nas fotografias emoções à flor da pele, Thiago comenta o processo de captura e edição das imagens: “Quando você tira uma foto, tem um sentimento que você consegue aumentar por meio de cores. Muitas das minhas fotos são coloridas, mas dessaturadas [presença de cores acinzentadas], o que traz uma sensação dramática. Sob essa perspectiva, o tratamento é uma ferramenta essencial para intensificar a emoção da imagem.”
Durante a abertura da exposição Esporte à Flor da Pele, Thiago Diz realizou uma visita guiada, em que explicou o uso de lentes para ambientes aquáticos a partir de fotografia tirada em travessia de caiaque no distrito de Fernando de Noronha, em 2014.
A exposição compõe a programação do Sesc Verão 2015. O projeto institucional tem como tema, nesta edição, a prática esportiva por pessoas de todas as idades, e desde 2012 levanta a bandeira de um esporte para todos. Entre as fotografias expostas, duas chamam atenção para essas questões. A primeira retrata uma argentina de 79 anos que percorria o El Cruce (2011), maratona de 100 quilômetros nas montanhas da Patagônia, entre Argentina e Chile. Thiago Diz relembra a comoção causada pela chegada da participante no acampamento, ao final do primeiro dia de prova: “Estávamos comendo, escurecia. De repente, todos pararam para bater palmas. Eles estavam aplaudindo a senhora que havia chegado. Todos passaram pelo mesmo perrengue, mas ela tinha 50, 60 anos a mais, então todos ficaram muito emocionados.”
A segunda imagem foi tirada em 2014 no Atacama Crossing, maratona que acontece no deserto chileno, e mostra Vlad, um ultramaratonista deficiente visual, e sua guia.
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