Há um grande caminho a ser percorrido pelo debate público a respeito da temática das drogas, seus usos e políticas. A presença deste tema na mídia é marcada, historicamente, por discursos pautados na criminalidade, punição e moralismo. Levando em conta o foco que as cenas de uso de drogas da região central da cidade de São Paulo tiveram nestes debates, seja por conta de grandes projetos urbanísticos, ou pela ampla discussão entre governos, movimentos sociais e pesquisadores acadêmicos, é fundamental refletir sobre a relação que construímos, como sociedade, com o uso e proibições das drogas.
São muitas as histórias que compõem o cenário de uso de drogas presente em diversos pontos do centro de São Paulo. Este cenário é povoado por pessoas que viveram deslocamentos vindos das periferias, do interior do estado e das regiões Norte e Nordeste, por exemplo. Estão presentes a pobreza, esgarçamento e rompimento de laços familiares, empregos em situação precária, racismo, violências cometidas ou sofridas. Estão também presentes histórias de situação de rua e de cárcere.
No cotidiano, ocupado por conflitos e repressões diárias, o uso de drogas é assunto historicamente tratado como problema higiênico e policial. A região do Centro e da Luz foi marcada pela presença do poder público através de operações policiais e projetos socioassistenciais que se pautam na abstinência, como princípio para recuperação individual e social. Dentro deste contexto atuam profissionais ligados à área da assistência social e saúde, além de voluntários e militantes, empenhados em agir buscando estabelecer relações e criando pontos de apoio para as pessoas que convivem ali. As opiniões a respeito de cuidados e terapias, distribuídas em programas governamentais ou não, defendem perspectivas diversas à prática única da abstinência.
Entre as muitas dimensões e visões que cercam a temática do uso do álcool e das outras drogas, é fundamental mencionar sua relação com o sofrimento psíquico. Segundo a World Health Organization, o Brasil é um dos países com maior número de pessoas que sofrem com depressão e ansiedade no mundo e, para enfrentar esta realidade em meio as muitas desigualdades, é fundamental fortalecer a rede de apoio a estas pessoas e reafirmar o direito humano de receber cuidados e atenção psicossocial. Entre as diferenças econômicas que impedem o acesso a serviços de saúde e assistência social, bem como no desequilíbrio racial que marca as condenações ligadas a drogas no processo penal e as punições no sistema prisional, está a construção histórica das desigualdades sociais brasileiras.
Como instituição sociocultural o Sesc São Paulo busca uma reflexão constante sobre as contradições sociais que permeiam as cidades e promove o debate crítico a respeito delas, buscando reduzir as violências e sofrimentos e reiterando a importância da autonomia e dos diversos direitos humanos e sociais. Nesta perspectiva é fundamental o aprofundamento sobre o universo social e os conflitos psicológicos e físicos que cercam o uso de drogas em sua expressão nos centros urbanos. A partir da ação Questão Social das Drogas cria-se um espaço de escuta, diálogo e construção acerca das muitas dimensões em torno da temática das drogas. Ao público fica o convite de participar ativamente deste diálogo para que possamos, juntos, imaginar maneiras de reduzir sofrimentos e garantir direitos, construindo uma sociedade mais tolerante.
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