Foto: Adilson Felix
Filho de um aficionado por pesca, o norte-americano Jim Barborak estreitou contato com a natureza desde muito jovem. Dessas aproximações, que ele chama de “afetivas”, desdobrou-se uma respeitada trajetória profissional. Barborak é codiretor do centro de manejo de áreas protegidas na Universidade Estadual do Colorado (Estados Unidos). Ele esteve na Reserva Natural Sesc em Bertioga, em agosto, para compartilhar experiências com os guarda-parques, educadores e demais profissionais que atuam no local. Um dos diferenciais da reserva que mais o impressionaram foi o projeto de acessibilidade e de trilha com desenho universal, em fase de desenvolvimento.
Barborak conhecia apenas uma iniciativa semelhante, na Costa Rica. Suas especializações englobam planejamento e gestão de áreas protegidas, corredores ecológicos, financiamento para conservação da natureza e ecoturismo.
A seguir os principais trechos de seu depoimento.
CONTATO COM A NATUREZA
Cresci nos Estados Unidos, em uma área de subúrbio no estado de Ohio, mas sempre participei ativamente de grupos escoteiros e 4-H – programa de formação para jovens com foco em questões ambientais e sociais. Então, desde muito cedo, estive em contato com a natureza, acampando e visitando reservas naturais.
Aos 20 anos, juntei-me ao Corpo de Paz dos Estados Unidos (US Peace Corps), instituição na qual atuei por dois anos e onde ajudei a criar o primeiro Parque Nacional de Honduras. Desde então, tive a oportunidade de viver na América Central por mais de 20 anos e trabalhar em todos os países de língua portuguesa e espanhola das Américas.
EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
É fundamental entender que a conservação da natureza e o desenvolvimento econômico não caminham em lados opostos. Sem as condições ambientais adequadas, nem as cidades nem as áreas rurais poderão oferecer qualidade de vida e crescimento econômico sustentável para a conquista saudável de cidadania.
O Brasil vem dando passos gigantes na consolidação de um grande e diversificado sistema de áreas protegidas, com significativos avanços nas esferas municipal, estadual e federal, incluindo a rede de reservas privadas. No entanto, o crescimento de parques e de reservas naturais não foi acompanhado dos recursos operacionais e profissionais especializados no assunto.
Além disso, programas de uso público e de infraestrutura para promover e disseminar um melhor uso das áreas protegidas, aproveitando seu potencial de interação e garantindo suporte às equipes de trabalho, ainda estão engatinhando.
Muito mais pode ser feito com diálogo entre poder público, ONGs, instituições de ensino e centros de capacitação para aumentar o número de técnicos bem preparados e motivados que trabalhem com a conservação da natureza. A população brasileira e seus tomadores de decisão jamais terão condições de proteger adequadamente suas áreas naturais se não deixarem de proteger suas áreas das pessoas, e sim protegê-las para as pessoas. Também ajudaria se o Brasil abraçasse o conceito internacional de “guarda-parque” muito utilizado em outros países, mas não contemplado pela legislação brasileira. Estes são, geralmente, moradores locais, que conhecem bem as áreas a serem conservadas, e têm condições de atuar na proteção e no gerenciamento de maneira adequada.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ECOTURISMO
Acredito que a educação ambiental em escolas é vital. Os Estados Unidos e outros países vivenciaram na prática que crianças entre nove e 12 anos, em fase escolar, são um público fundamental nesse processo. Porém, a educação ambiental na sala de aula deve ser complementada por atividades de campo. É necessário estabelecer essa conexão afetiva com o ambiente natural, e o ecoturismo é uma importante parte nessa cadeia.
Se, por um lado, os parques brasileiros precisam ser mais bem estruturados a fim de facilitar o acesso do público, por outro, os ambientalistas precisam compreender que a visitação nessas áreas é imprescindível para conquistar o apoio da sociedade para a conservação da natureza.
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