Filmes de Joel Zito Araújo, Lilian Solá Santiago e Jeferson De integram a programação gratuita da OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros disponível na plataforma Sesc Digital
Com uma programação exclusiva na plataforma Sesc Digital, a OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros exibe gratuitamente para todo o Brasil uma seleção de obras de três realizadores que representam, no audiovisual brasileiro, importantes perspectivas negras em suas histórias e narrativas.
Um deles é o cineasta, professor, escritor e pesquisador Joel Zito Araújo que tem três de seus filmes exibidos na plataforma: “A Negação do Brasil”, “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado” e “Vista Minha Pele”.
O livro A Negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira foi a inspiração para o documentário que leva o mesmo nome, onde o diretor e roteirista investiga as lutas de atores negros por reconhecimento nas produções que representam a maior audiência no horário nobre da televisão brasileira. O filme discute tabus, preconceitos e estereótipos raciais, analisando também a influência das telenovelas no processo identitário de pessoas afro-brasileiras.
No filme “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado”, o cineasta vai do nordeste brasileiro a Berlim buscando entender os imaginários sexuais, raciais e de poder das “jovens cinderelas do sul” e dos “lobos do norte”, acompanhando uma complexa realidade: cerca de 900 mil pessoas são traficadas pelas fronteiras internacionais a cada ano, exclusivamente para fins de exploração sexual. Entretanto, apesar de todos os perigos, jovens mulheres brasileiras ao entrar no mundo do turismo sexual acreditam que vão mudar de vida e sonham com o seu príncipe encantado.
Já no curta-metragem “Vista Minha Pele”, Joel Zito Araújo inverte a história da colonização de territórios: no filme, os negros são a classe dominante e os brancos é que foram escravizados. A trama conta a história de Maria, uma menina branca pobre que estuda num colégio particular graças à bolsa de estudos que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira. A maioria de seus colegas a hostilizam por sua cor e por sua condição social, com exceção de Luana, uma menina negra, com quem ela desenvolve uma amizade que será fundamental para a realização de um grande sonho.
Decolonização do olhar
O tema da decolonização do olhar está presente nos filmes da cineasta, produtora e professora Lilian Solá Santiago, que aborda a questão a partir de produções fortes e contundentes. O documentário “Balé de Pé no Chão – A Dança Afro de Mercedes Baptista” acompanha a trajetória de Mercedes Baptista (1921-2014), considerada a principal precursora da dança afro-brasileira. Bailarina de formação erudita, no início da década de 1950, Mercedes passou a estudar os movimentos rituais do candomblé e das danças folclóricas, criando coreografias que permanecem até hoje identificadas como repertório gestual da dança afro.
Já no média-metragem “Família Alcântara” vemos um encontro íntimo com uma família extensa, que forma um grupo de aproximadamente 70 pessoas cujas origens remetem à bacia do Rio Congo, no continente africano. O filme explora a cultura única criada pela população de africanos de origem Bantu escravizados no Brasil, grupo que, através de gerações, seguiu preservando a sua história, mantida por séculos de tradição oral, práticas e costumes tradicionais oriundos da África.
Também dirigido por Lilian Solá Santiago, o filme “Eu Tenho a Palavra” faz uma viagem linguística em busca das origens africanas na cultura brasileira. O antigo reino do Congo foi a origem da maioria dos africanos escravizados no Brasil que, no cativeiro, criaram diversos dialetos para que pudessem se comunicar livremente. A “língua do negro da Costa” é um desses dialetos, ainda preservado no bairro da Tabatinga, no município de Bom Despacho (MG). No filme, dois personagens – um falante da “língua do negro da Costa” e outro falante de mbundo, língua do grupo Banto falada até hoje na Angola – nos guiam nessa viagem transoceânica de reconhecimento.
Cinema Negro Brasileiro
O cineasta Jeferson De, autor do Dogma Feijoada, manifesto publicado nos anos 2000 com o intuito de investigar o que se entendia até então como cinema negro brasileiro – um questionamento que até hoje perpassa a história do audiovisual no país – terá dois filmes exibidos na plataforma Sesc Digital durante a OJU: o curta-metragem “Narciso Rap” e o longa “Bróder!”.
Em “Narciso Rap”, um jovem é colocado a descobrir os valores profundos de sua identidade a partir de uma brincadeira com uma lâmpada mágica. Enquanto o longa “Bróder!” acompanha o reencontro de três amigos de infância que seguiram caminhos distintos ao crescer: Jaiminho é um jogador de futebol que alcançou a fama, Pibe é um pai de família que precisa trabalhar muito para pagar as contas da casa, e Macu é envolvido com o mundo do crime no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, onde eles cresceram.
Por fim, completa a programação digital da mostra o média-metragem “Zumbi Somos Nós – O Documentário”, realizado pela Frente 3 de Fevereiro, grupo transdisciplinar de pesquisa e ação direta acerca do racismo na sociedade brasileira.
O filme é ambientado no dia 14 de julho de 2005, final da Taça Libertadores da América disputada pelos times do São Paulo e do Atlético Paranaense, que ficou marcada por um episódio icônico: no meio da partida, assistida por milhões de espectadores em suas casas, uma bandeira gigante é aberta pela torcida com a frase “BRASIL NEGRO SALVE”.
A partir desta intervenção, a produção aborda a construção e destruição das questões raciais no Brasil, e a possibilidade de inscrever na vida cotidiana novas formas de olhar, pensar e agir.
OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros
De 19 de janeiro a 9 de fevereiro, o Sesc São Paulo realiza a OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros, oferecendo ao público uma seleção de filmes realizados por cineastas negras e negros. Com sessões presenciais no CineSesc e exibições on-line na plataforma Sesc Digital, a mostra se dedica a promover a diversidade de criadoras e criadores brasileiros e destacar a importância histórica do audiovisual em sua potência poética e política, e sua contribuição para a decolonização do olhar.
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PARA ASSISTIR
Acesse os filmes da OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros na plataforma Sesc Digital em www.sescsp.org.br/oju
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