Em abril, a programação de cinema e vídeo do Sesc Rio Preto apresenta o projeto Cinema e Cidades: Lentes Modernistas, uma seleção de filmes da década de 1920, que traz para a tela a agitação das cidades, com seus veículos e máquinas industriais, cujo ritmo embalou as transformações estéticas das artes no Modernismo.
Serão cinco exibições de filmes que recriam a atmosfera do cinema mudo, com trilha sonora executada ao vivo e/ou comentários de especialistas, além de uma com projeção em 16mm. Participam do projeto: Tony Berchmans músico, compositor, pianista e criador do espetáculo audiovisual Cinepiano, Anselmo Mancini, músico, compositor e doutor em audiovisual e o cineasta Donny Correia. A programação será realizada de 6 a 20 de abril, com entradas gratuitas e retirada de ingressos com 30 minutos de antecedência de cada sessão, nas bilheterias das Unidades do Sesc SP.
Abrindo as exibições, o filme O Homem Mosca, de 1923, traz o burburinho de Los Angeles nesta época. Transitando entre comédia e drama, humor e romance, a obra narra a história de um homem do interior que se muda para a cidade grande com a esperança de ganhar dinheiro o suficiente para poder buscar a namorada e se casar com ela. Quando a garota aparece, ele finge ser o gerente geral do lugar onde trabalha e realiza uma perigosa ação para promover o estabelecimento e ganhar dinheiro para concretizar seus planos. A direção é de Fred C. Newmeyer, codireção do roteirista Sam Taylor e atuação de Harold Lloyd.
Com projeção em formato de 16mm, a atividade ainda conta com a execução de trilha sonora ao vivo durante a exibição, feita pelo músico Tony Berchmans.
Dia 6/4, quarta, às 19h30. Grátis. Retirada de ingressos com 30 minutos de antecedência. Livre.
De acordo com a técnica de programação Ana Paula Dias, responsável pelo projeto, “para além das exibições, o Sesc Rio Preto oferece uma experiência diferente do cinema, a sessão de abertura praticamente reproduz o que existia na época, um projetor de 16 mm, o filme em rolo, com reprodução em um teatro, o que é um acontecimento super importante, pois na época não existia sala exclusivas para as projeções, o cinema foi tomando o espaço dos teatros, pois era o ambiente em que era possível fazer essas exibições. É bem emblemático exibir os filmes no teatro!”
Já o segundo filme do projeto, “São Paulo: Sinfonia da Metrópole” apresenta a cidade de São Paulo no final da década de 20. A lente objetiva dos diretores húngaros Adalberto Kemeny e Rodolfo Lustig, donos de um dos melhores laboratórios de cinema da época, tece uma narrativa de culto à modernidade, mostrando uma São Paulo semelhante às maiores metrópoles mundiais e em constante progresso. A obra inspira-se no clássico “Berlim – Sinfonia da Cidade (1927)”, para trazer o romance da cidade, seu urbanismo, a labuta diária da grande massa anônima, moda, monumentos públicos, industrialização, fatos históricos, expansão do café, educação e o burburinho do cotidiano.
A exibição, em cópia digitalizada, conta com os comentários de Donny Correia, poeta, cineasta, mestre e doutor em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo (USP).
Dia 13/4, quarta, às 20h. Grátis. Retirada de ingressos com 30 minutos de antecedência. Livre.
Um dos grandes destaques da mostra é a exibição do filme “Um homem com uma Câmera”, do diretor russo Dziga Vertov.
O filme acompanha uma cidade na União Soviética da década de 20, do dia até a noite, retratando cenas do cotidiano na Rússia e celebrando a modernidade da cidade. A exibição é acompanhada de música composta e executada ao vivo pelo compositor, mestre e doutor em audiovisual Anselmo Mancini.
Filmado por um período de três anos e extremamente inovador para a época em que foi lançado, em 1929, o filme ficou famoso por apresentar para o público todos os tipos de técnicas de câmera possíveis até então, entre elas dupla exposição, câmera acelerada, câmera lenta, quadros congelados, telas divididas, close-ups extremos, filmagem de trás para frente e animação em stop motion.
Embora pareça se passar em uma única cidade, o filme foi filmado em Moscou, Odessa, Kharkiv e Kiev, quando estas três últimas faziam parte da União Soviética, mas que, hoje, integram o território da Ucrânia. Preocupado com a forma como o filme seria recebido e que ele poderia ser destruído pelos censores do governo, o diretor Dziga Vertov enviou mensagens para o Pravda, principal jornal da União Soviética, para tentar explicar as intenções do filme e sua posição anticonvencional contra o cinema regular, uma tática que deu certo e criou um maior interesse pela obra.
Dia 14/4, quarta, às 20h. Grátis. Retirada de ingressos com 30 minutos de antecedência. 12 anos.
Para encerrar a programação, uma sessão dupla e com trilha sonora inédita, composta pelo músico Anselmo Mancini: Fragmentos da Vida (1929) e Veneza Americana (1925).
O primeiro, traz a história de dois vagabundos que vivem de pequenos golpes nas ruas da crescente São Paulo. Um deles, quando mais jovem, presenciou a morte de seu pai, um operário trabalhador da construção civil, que caiu de um andaime. Antes de partir, o pai pediu ao filho que trilhasse o caminho da honestidade, entretanto, passado o tempo, o garoto, agora um vagabundo, procura ser detido pela polícia para não ter que passar o inverno nas ruas.
O longa teve a direção de José Medina, um dos pioneiros do cinema paulista. Realizado com um baixo orçamento, o elenco era composto de artistas amadores, “os protagonistas, Carlos Ferreira e Alfredo Roussy, trazem a experiência do teatro amador, enquanto que Áurea Auremar, realiza sua primeira interpretação.
Já na segunda sessão, Anselmo Mancini cria uma nova versão de Veneza Americana, um documentário que mostra as obras e a infraestrutura da cidade de Recife no segundo aniversário da administração de Sergio Lorêto, governador do Estado. O porto de Recife, que a partir de 1922 passa a ser dependência direta do Estado, os armazéns, alguns ainda em construção; o cais, capacitado para receber navios e o trabalho nas pedreiras de Comportas, de onde são extraídas as pedras para as obras do porto. O filme foi dirigido Ugo Falangola e por J. Cambière, pioneiros do cinema mudo brasileiro e que juntos, fundaram a produtora Pernambuco Film no início dos anos 1920. À frente dela, realizaram uma série de documentários sobre a capital pernambucana.
Dia 20/4, quarta, às 20h. Grátis. Retirada de ingressos com 30 minutos de antecedência. Livre.
Além de integrar o projeto Cinema e Cidades: Lentes Modernistas, esta programação também faz parte da ação Diversos 22: Projetos, Memórias e Conexões, realizada pelo Sesc SP desde setembro de 2021, com vistas a comemorar, refletir, lidar e problematizar as representações do Centenário da Semana de Arte Moderna e Bicentenário da Independência do Brasil. Ela acontece em todas as unidades do Sesc no Estado de São Paulo até dezembro desse ano, com atividades em diversos formatos e linguagens como seminários, cursos, programas musicais e audiovisuais, exposições artísticas e documentais, espetáculos, publicações e reedições de obras literárias.
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