Sustentabilidades periféricas em tempos de pandemia

12/05/2020

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Arrecadação e distribuição de alimentos na Fundação Julita Foto: Leidyla Nascimento

Por Daniela Matsuda*

Em meio ao isolamento social, muitas comunidades periféricas tem tido dificuldades em equilibrar o pagamento das contas, a compra de alimentos e se atentar aos cuidados necessários com a higiene pessoal. Com os entraves e ausências governamentais, grupos de pessoas, estruturadas em coletivos ou não, tem se mobilizado dentro dessas comunidades para garantir a sobrevivência de famílias e de pequenos empreendimentos.

Os moradores de diferentes comunidades têm se reestruturado, mas contando com redes de solidariedade preexistentes, que atualmente ganham novas perspectivas: as mobilizações vão desde arrecadação de alimentos, refeições, cestas básicas, produtos de higiene ou dinheiro, até divulgação de pequenos serviços, como confecção de máscaras de pano e produção de ovos de Páscoa.

Essa mobilização, mais comumente conhecida como “nós por nós”, não é rara pelas periferias. O olhar empreendedor é de conhecimento dessa galera desde sempre mas com outro nome: o corre. Termos como empreendedorismo periférico e Grupos de Consumo Responsável são cada vez mais comuns, mas já eram praticados há muito mais tempo nesses espaços. Isso porque há uma necessidade constante de garantir uma renda mensal a partir de um trabalho informal. Muitas vezes, isso só é possível tendo uma rede de consumidores fiéis (parentes e amigos) ou de incentivadores, que auxiliam desde a estruturação do projeto até a divulgação da iniciativa.

Para aquelas pessoas que moram nessas comunidades e querem auxiliar de alguma forma, há iniciativas como as do Bloco do Beco, associação cultural sem fins lucrativos que atua desde 2002 no Jardim Ibirapuera. Atualmente com todas as atividades suspensas, se tornou um ponto de arrecadação de alimentos, cestas básicas e kits de higiene (álcool em gel, álcool 70%, máscaras, sabonetes, etc.) para auxiliar mais de 300 famílias cadastradas. Os produtos recebidos são distribuídos também a parceiros do mesmo bairro, do Jd. São Luis e região.

Ação semelhante está acontecendo no bairro do Capão Redondo, com a marca de moda periférica LOYAL, a U.D.G. Filmes e a produtora Priscila Mastroroso. A pessoa interessada em contribuir comprando cestas básicas entra em contato com os coletivos, para que forneçam todas as informações necessárias. O pagamento é realizado diretamente para o fornecedor, e Isac Oliveira, da Underground Filmes, recebe as cestas básicas e distribui para as famílias do bairro. O recebimento de alimentos também acontece por meio de outras parcerias, como a Ação Educativa, e a entrega segue uma lista organizada por ordem de chegada. Essa ação ficará ativa ao longo de todo o período de isolamento social.

Um grupo que também se tornou mais vulnerável nesses últimos tempos são os profissionais da área da cultura. Com contratos cancelados e sem perspectiva de melhora para os próximos meses, muitos artistas não possuem uma renda fixa para se manter em casa. O Sarau do Binho, grupo que realiza atividades de literatura e ações de incentivo à leitura na zona sul de São Paulo, quer apoiar os artistas do grupo. Em parceria com a Fundação Tide Setubal, 45 poetas e músicos se beneficiarão e publicarão nas redes sociais um total de 75 vídeos fazendo o que sabem fazer de melhor: arte. Em paralelo, Suzi Soares, uma das produtoras do Sarau, está arrecadando alimentos e cestas básicas para famílias do entorno e demais artistas.

Fundação Julita, organização não-governamental fundada em 1951 no Jardim São Luis, está promovendo uma campanha para arrecadação de doações que serão revertidas em alimentos, produtos de higiene e limpeza, entre outros itens essenciais, para famílias em situação de vulnerabilidade social. Trata-se de uma organização social de grande reconhecimento por sua atuação em várias frentes na comunidade do Jardim São Luis e com uma demanda de 1.200 pessoas beneficiadas por dia. Tendo em vista que famílias em vulnerabilidade social podem ser ainda mais atingidas pelos impactos da pandemia, a Fundação Julita vem se mobilizando para intensificar a sua campanha através da plataforma #FamiliaApoiaFamilia.

Desde o início da quarentena, a Associação Capão Cidadão atende a 120 famílias com doação de produtos de limpeza, alimentos e marmitas. Fundada em 2004, a Capão Cidadão promove o resgate da cidadania de crianças e jovens periféricos por meio do esporte, lazer e cultura.

A seguir, veja como saber mais sobre as propostas citadas aqui e outras voltadas às camadas mais vulneráveis da população.

Bloco do Beco

Rua Bento Barroso Pereira, 2 – Jd Ibirapuera – São Paulo – SP

Instagram: @_blocodobeco

Facebook: facebook.com/blocodobeco

LOYAL. Instagram: @useloyal

Priscila Mastroroso. Instagram: @pri_mastro

Underground Filmes. Instagram: @u.d.g.filmes

Sarau do Binho

Facebook: facebook.com/SarauDoBinho

Financiamento coletivo: benfeitoria.com/saraudobinho

Fundação Julita

 Facebook: facebook.com/fundacaojulitaoficial

Financiamento coletivo: benfeitoria.com/fundacaojulita

Associação Capão Cidadão

Facebook: facebook.com/capaocidadao

Financiamento coletivo: vaka.me/981440

Para além das proximidades do Sesc Campo Limpo, segue também o mapeamento feito pela produtora independente de jornalismo de quebrada Periferia em Movimento. Essa lista vem sendo atualizada constantemente:

“Nós por nós”, vaquinhas e redes de apoio nas periferias

Abaixo, tem mais detalhes sobre o movimento #FamíliaApoiaFamília, onde incluem outras lindas iniciativas para apoiar e conhecer, como a Sociedade Santos Mártires e a União Popular de Mulheres:

#FamíliaApoiaFamília

*Daniela da Costa Matsuda é programadora do Sesc Campo Limpo e cuida das áreas de Educação para Sustentabilidade, Valorização Social, Gênero e Sexualidade, Povos e Comunidades Tradicionais, Alimentação e Saúde.

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