Transitando entre mundos

10/12/2020

Compartilhe:
#pracegover #pratodesverem Descrição da Imagem. Foto da artista Sabrina Denise Ribeiro. Ela está sentada de frente, olhando para a câmera. A foto faz um fecha da imagem na altura do peito até a cabeça de Sabrina. Ela está vestido uma blusa de manga longa listrada em tons de cinza, marrom, preto e prateado. Ela está com um sorriso discreto. Sabrina é uma mulher branca, com olhos castanhos escuros, cabelos pretos na altura no ombro. Autoretrato de Sabrina Denise Ribeiro. Fim da Descrição.

“Um artista surdo quando se torna protagonista consegue sensibilizar e, assim, quebrar barreiras, ganhando admiração da sociedade e mais apoio em prol da luta da pessoa com deficiência”  – Sabrina Denise Ribeiro
 

Sabrina Denise Ribeiro é educadora na Pinacoteca de São Paulo e artista. Formada em Artes Visuais na Faculdade Paulista de Artes Visuais (FPA), pós-graduada em Arte e Educação pelo Senac, ela transita entre a arte vista pelos surdos e sociedade ouvinte.

Desde pequena, muito observadora, Sabrina sempre se entreteve com formas e cores que falavam o que ela não ouvia. Esse interesse pela arte amadureceu e resultou no ingresso da artista no ensino superior em Artes Visuais.   

Com a expectativa de trabalhar com o ensino de artes em escola, não imaginou trabalhar em um museu. Iniciar sua vida profissional na Pinacoteca de São Paulo não foi fácil. “O começo foi muito difícil, tudo era em português”, lembra Sabrina. O sucesso do trabalho contou com a parceria dos colegas e, assim, ela pode aperfeiçoar e descobrir novas formas de se trabalhar. Ao mesmo tempo que aprimorava o português, Sabrina desenvolvia novos sinais em Libras, para contextualizar as ações no museu. 

Ela explica que a forma como a arte visual é entendida pelos surdos e ouvintes é diferente. “A cultura surda é visual… então, quando olho um quadro, desenho, penso na Libras, que tem um significado mais profundo, se relacionada com o surdo, com a cultura surda, a experiência do surdo. Então, eu acho que essa questão da visualidade aflora a personalidade do surdo”, comenta Sabrina sobre a cultura surda e artes visuais.

Se a fruição artística para surdos e ouvintes é diferente, Sabrina não deixa de apontar dois pontos fundamentais: a importância do protagonismo de surdos como artistas e de espaços que ofertem editais em Libras como abertura de portas para esse artista. “Isso é importante, pois mostra um trabalho, dá visibilidade,  e que ele não é só uma orelha que não funciona, ele é como um ouvinte que pode produzir.  Ele vai quebrando e mostrando que é capaz, a sociedade vai dando mais valor para a cultura surda”, enfatiza Sabrina.
 

 “Quando eu era mais jovem, era mais difícil trabalhar com arte, os editais eram todos em português. Hoje, com essa abertura de editais em Libras e português, há maior acessibilidade” – Sabrina Denise Ribeiro 


As apresentações, os Slams, permitem a participação de surdos e ouvintes como iguais. “As pessoas começaram a ver que os surdos tinham essa possibilidade, tinham essa representação… quando você mostra a língua de sinais, ela também é visual, ela mostra uma nova perspectiva na linguagem… esse momento [Slam] foi importante para mostrar o protagonismo”, explica Sabrina.

Atualmente, como artista, ela tem como foco a produção de desenhos e fotografias e utiliza a internet como uma plataforma de divulgação. “Hoje eu começo a divulgar mais essa minha arte, em outros espaços, porque eu consigo me ver, o surdo consegue ver esse espaço também, igual a qualquer ser humano que experimenta a arte.” 
 

 #pracegover #pratodesverem foto da obra Cor - Ação de 2018, da Artista Sabrina Denise Ribeiro. A foto da obra mostra um quadro em uma parede cinza. O quadro possui fundo branco, onde há 3 fotos. A primeira da esquerda é uma imagem de um coração, da cor vermelha, em cima e em baixo do coração estão duas mãos segundo. A segunda imagem ao centro, mostra o mesmo coração, mas agora as duas mãos segurando pelos lados de baixo para cima. A terceira imagem, a direita, mostra o coração segundo segurando por trás do ângulo da foto, por uma mão apenas. Foto de: Sabrina Denise Ribeiro.
#pracegover #pratodesverem foto da obra Cor – Ação de 2018, da Artista Sabrina Denise Ribeiro. A foto da obra mostra um quadro em uma parede cinza. O quadro possui fundo branco, onde há 3 fotos. A primeira da esquerda é uma imagem de um coração, da cor vermelha, em cima e em baixo do coração estão duas mãos segundo. A segunda imagem ao centro, mostra o mesmo coração, mas agora as duas mãos segurando pelos lados de baixo para cima. A terceira imagem, a direita, mostra o coração segundo segurando por trás do ângulo da foto, por uma mão apenas. Foto de: Sabrina Denise Ribeiro.

Do ponto de vista de possibilidade de produção e espaços para arte, surdos e ouvintes devem caminhar juntos de forma equitativa. Mas ela não deixa de apontar que, no que diz respeito às formas de perceber, entender e criar, há peculiaridades entre ouvintes e surdos, e atribui essa distinção às linguagens utilizadas por surdos (Libras) e ouvintes (Língua portuguesa), que propõem formas diferentes da construção da comunicação.  
 

“A língua de sinais dá uma percepção diferente, então a arte visual é importante para a comunidade surda, pois ela mostra o que é próprio do ouvinte e o que é próprio do surdo” – Sabrina Denise Ribeiro
 

Enquanto os ouvintes realizam comunicações a respeito de uma produção visual, os surdos não o fazem, pois a visualidade está internalizada e, dessa maneira, há modos e interpretação diferentes sobre mesma imagem, para surdes e ouvintes, segundo Sabrina.
 

“A arte para o ouvinte e para o surdo é diferente” – Sabrina Denise Ribeiro

#pracegover #pratodesverem foto Feminina (in) Existente, 2020, da Artista Sabrina Denise Ribeiro. A foto da obra mostra um quadro em uma parede cinza. A imagem foi feita utilizando etiqueta adesiva, glitter em pó, folhas e rosa escura. Na imagem vemos uma mulher, com imagem cortada da altura do peito até a cabeça. Ela está nua, os seios são cobertos com folhas, a cor da pele da imagem está em tons rosa. Os olhos são pretos, assim como o cabelo. A imagem da mulher está seria, com a boca entre aberta, mostrando um pouco dos dentes. O fundo da obra é um rosa forte, com um sol nascendo atrás da cabeça da mulher. Além disso, há vários círculos coloridos em preto, azul e dourado preenchendo o fundo. Foto de: Sabrina Denise Ribeiro
#pracegover #pratodesverem foto Feminina (in) Existente, 2020, da Artista Sabrina Denise Ribeiro. A foto da obra mostra um quadro em uma parede cinza. A imagem foi feita utilizando etiqueta adesiva, glitter em pó, folhas e rosa escura. Na imagem vemos uma mulher, com imagem cortada da altura do peito até a cabeça. Ela está nua, os seios são cobertos com folhas, a cor da pele da imagem está em tons rosa. Os olhos são pretos, assim como o cabelo. A imagem da mulher está seria, com a boca entre aberta, mostrando um pouco dos dentes. O fundo da obra é um rosa forte, com um sol nascendo atrás da cabeça da mulher. Além disso, há vários círculos coloridos em preto, azul e dourado preenchendo o fundo. Foto de: Sabrina Denise Ribeiro.

Sabrina Denise Ribeiro e o Triangulo Corporal 

Por meio de três fotografias, com uma narrativa visual, a artista discute sobre o corpo, empoderamento e sensibilidade feminina, trazendo a discussão, segundo a artista, de “Como o surdo vê essa questão do corpo?” “Como são essas 3 coisas para o surdo”, além das imagens. Sabrina conta como também foi pensando o trabalho. 
 

Semana Modos de Acessar 2020 

A Semana Modos de Acessar, ação em rede do Sesc São Paulo, acontece de 3 a 10 de dezembro, que promove diversas atividades para incentivar a participação social das pessoas com e sem deficiência. Diante do momento de pandemia, o evento será inteiramente no ambiente digital. 

A apresentação de Sabrina é uma das sete que compõem o projeto  proposto pelo Coletivo Home Art. 

Acompanhe mais apresentações em www.sescsp.org.br/modosdeacessar.


***Entrevista realizada por plataformas virtuais com auxílio de intérpretes em Libras: 

Claudia Regina Vieira – Bacharela em Letras Libras pela UFSC com pólo na Unicamp. Docente na Universidade Federal do ABC – UFABC e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Com pesquisas e trabalhos com ênfase na Educação de Surdos e Língua de Sinais. 

Andrey Gonçalves Batista. Graduação em tradução e interpretação de Libras. Intérprete da Universidade Federal do ABC. 

Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais, de acordo com a nossa Política de Privacidade, para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.