De 29 de abril a 3 de junho, o Sesc Avenida Paulista promove o “Programa Maya Deren”, uma mostra com exibições de filmes no Terraço e atividades formativas gratuitas presenciais e online.
Nascida na Ucrânia, Maya Deren foi uma realizadora e teórica cinematográfica norte-americana dos anos 1940 e 1950, atuando também como coreógrafa, dançarina, poeta, escritora e fotógrafa. Deren é pioneira e referência no campo do cinema experimental, influenciou artistas como David Lynch e criou as bases para o novo cinema experimental dos EUA nos anos 1960. É dela a realização daquele que é frequentemente apontado como o mais influente filme experimental estadunidense, Meshes of the Afternoon (1943).
O Programa Maya Deren começa com uma aula magna online, ao vivo, ministrada pelo cineasta francês, crítico e curador Yann Beauvais. Destaca-se ainda o curso “Maya Deren: O cinema da mulher em movimento”, ministrado pela mestra e doutora em Meios e Processos Audiovisuais na Universidade de São Paulo, Tainah Negreiros, além de quatro ciclos de conversa, exibições de filmes de curta metragens no Terraço e performance da artista Kanezlumuka.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA
29/4 | SEX | 17H
Aula Magna – Maya Deren: a militância pelo cinema e o papel do artista
Com Yann Beauvais
Aula magna ao vivo no Youtube do Sesc Avenida Paulista com a atividade de abertura desse projeto. A aula aborda as estratégias envolvidas na produção e distribuição dos filmes de Deren, como escrever os trabalhos, exibi-los e colocar-se à disposição do público para discuti-los, ações que ela entendia como sendo a função do artista/cineasta. A atividade será ministrada pelo cineasta francês, crítico e curador Yann Beauvais, diretor de filmes e vídeos, com obras que integram as coleções do MoMA de Nova York, California Institute of Arts, Cinemateca de Jerusalém, entre outros.
CICLO DE CONVERSAS
O Ciclo composto por quatro encontros, que acontecem de 3 a 24 de maio, terças, às 20h, no 4º andar do Sesc Avenida Paulista, e apresentam aspectos da obra de Maya Deren.
03/05 | TER | 20h
A montagem no Cinema Vertical de Maya Deren
Com Ana Costa Ribeiro (03/05)
Conversa sobre as estratégias de montagem de Maya Deren e como elas se relacionam com o trabalho teórico da artista, articulando o que ela chama de Cinema Vertical. A palestra é com a Ana Costa Ribeiro, artista, cineasta, escritora e doutora em Processos Artísticos Contemporâneos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
10/05 |TER | 20h
Maya Deren – Cinema, ritmos e dança
Com Christian Borges
A palestra aborda como a temática da dança se relaciona com a produção cinematográfica de Maya Deren, em especial após a turnê que ela realizou com a companhia de dança da coreógrafa, dançarina e antropóloga Katherine Dunham. Quem conduz a conversa é Christian Borges, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP.
17/05 | TER | 20h
O cinema como arte: os escritos teóricos de Maya Deren
Com Patrícia Mourão
Neste encontro serão abordadas as obras teóricas que Maya Deren produziu para teorizar e defender o cinema enquanto uma arte autônoma, que vai além das possibilidades de entretenimento do filme narrativo e do documentário. Palestra intermediada por Patrícia Mourão, doutora em cinema pela Universidade de São Paulo, com tese sobre autobiografia no cinema experimental.
24/05 | TER | 20h
Vestígios na encruzilhada: encontros e a relevância do corpo no cinema experimental
Com Izabel Cruz Melo
Palestra que aborda os cruzamentos entre as obras de Maya Deren e Maria Esther Stockler, duas artistas que, influenciadas por suas experiências com as religiões afrodiaspóricas, reafirmaram a centralidade e a relevância do corpo na arte e o enxergaram como o elo entre ela e a potência mística. Izabel Cruz Melo apresenta a palestra e é professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
CURSO
12/5 a 2/6 | SEX | 19H
“Maya Deren: O cinema da mulher em movimento”
Com Tainah Negreiros
O curso com quatro aulas, que acontece de forma online, de 13 de maio a 3 de junho, quintas, às 19h30. Conduzido por Tainah Negreiros, mestra e doutora em Meios e Processos Audiovisuais na Universidade de São Paulo, a atividade apresenta Deren como uma artista que articula modernidades: do universo dos sonhos e das representações das mulheres surrealistas, da dança moderna libertadora dos diferentes corpos, da mágica e da representação do devir da mulher artista.
Os temas das quatro aulas são:
1) Maya Deren e as vanguardas;
2) A mulher multiplicada e a mulher que sonha;
3) A mulher em movimento: a questão da dança;
4) A cineasta que é também mágica.
MOSTRA DE FILMES
De 14 a 22 de maio, sábados e domingos às 19h, são apresentados quatro temas de curtas-metragens reunindo uma seleção de filmes realizados por Maya Deren e obras cinematográficas que dialogam com seus trabalhos ou foram influenciados por ela.
14/5 | SÁB | 19H
Sessão 1: Abandoned Films
Para Maya Deren, um filme não estava nunca terminado, mas encontrava-se apenas “abandonado”. Mostra com obras abandonadas de Maya Deren e um curta de Barbara Hammer que reflete sobre temas recorrentes na obra da cineasta.
Serão exibidos os seguintes curtas:
Tramas do Entardecer (Meshes of the Afternoon, Maya Deren e Alexander Hammid, EUA, 1943, 14′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Considerado um marco do cinema e um dos filmes que mais influenciaram os rumos do cinema experimental americano, foi realizado por Maya Deren em colaboração com seu então marido, o fotógrafo Alexander Hammid. Nesta sua primeira obra, filmada enquanto Deren ainda vivia na Califórnia (posteriormente, ela se mudaria para Nova York), a cineasta explora alguns procedimentos estéticos, notadamente a montagem, para criar o universo onírico que se tornaria a marca de seus primeiros filmes.
At Land (Maya Deren, EUA, 1944, 14′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Assim como em Tramas do Entardecer, Maya Deren continua a explorar em At Land uma estética em prol do onírico e do abstrato, que em muito reverbera o impacto que teve sobre ela a arte surrealista. Esses mesmos procedimentos estéticos – montagem que extrapola a verossimilhança espaciotemporal, sobreposições, jogo de atores enfatizando a alienação da realidade concreta – se tornariam marca de uma certa vertente do cinema experimental, que o teórico P. Adams Sitney chamou de “trance films” (filmes de transe).
The Witch’s Cradle (Maya Deren, EUA, 1943, 12′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Filme inacabado de Maya Deren, realizado em colaboração com o artista vanguardista francês Marcel Duchamp, que aliás é aqui ator. Filmado em Nova York, numa galeria de arte onde o artista costumava expor seus trabalhos, a obra apresenta sobretudo fragmentos, mas que nos deixam vislumbrar o resquício de um fio narrativo. A influência vanguardista na busca estética de Deren fica evidente nos movimentos de câmera, cenário utilizado e uso do close up.
Maya Deren’s Sink (Barbara Hammer, EUA, 2011, 30′, cor/pb, exibição em arquivo digital)
Ao descobrir no Anthology Film Archive uma pia que pertenceu a Maya Deren, Barbara Hammer decide mergulhar no universo da cineasta, considerada a “mãe do cinema experimental americano”. Ela visita e filma as casas onde Deren morou, em Los Angeles e Nova York, e onde realizou alguns de seus filmes. Através de especulações imagéticas e entrevistas (entre outros, com Judith Malina, Carolee Schneemann e Ross Lipmann), ela explora questões como espaço, tempo e forma na obra de Deren.
15/5 | DOM | 19H
Sessão 2: Cinema e dança
Esta sessão reúne dois filmes de Maya Deren que testemunham seu interesse pelo corpo e por seus movimentos e um curta de Vivian Ostrovsky sobre o assunto.
Serão exibidos os seguintes curtas:
The Very Eye of the Night (Maya Deren, EUA, 1958, 10′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Último filme completo de Maya Deren, realizado em colaboração com a Metropolitan Opera Ballet School, foi inteiramente fotografado em negativo e a trilha sonora é de autoria do músico Teiji Ito, então marido de Deren. Um filme pioneiro no que tange o interesse do cinema pela dança. Aqui, os dançarinos parecem flutuar no espaço.
Study in Choreography for Camera (Maya Deren, EUA, 1945, 3′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Neste seu terceiro filme finalizado, Deren liberta o corpo e seus movimentos. Um dançarino move-se sem esforço entre diferentes ambientes: uma floresta, uma sala de estar, a galeria de um museu. A coreografia e a montagem estão em fina sintonia a fim de garantir ao artista leveza e autonomia.
M.M. in Motion (Vivian Ostrovsky, França, 1992, 45′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Filme realizado ao longo de quatro anos (de 1981 a 1991), a partir de filmagens realizadas por Vivian Ostrovsky dos ensaios de seis coreografias de Mathilde Monnier. O trabalho tenta traduzir a essência, o estilo e o humor da coreógrafa francesa em termos cinematográficos usando imagens fragmentárias, episódicas e impressionistas que capturam os traços definidores de seu modus operandi. O minucioso trabalho de som, uma das marcas do cinema de Ostrovsky, também se destaca neste filme.
21/5 | SÁB | 19H
Sessão 3: Rituais
Este ciclo de curtas apresenta três obras de diferentes autores que registram e refletem sobre os rituais que estão presentes em nossas vidas cotidianas e como eles dão sentido e permitem uma conexão com o transcendente.
Serão exibidos os seguintes curtas:
Ritual in Transfigured Time (Maya Deren, EUA, 1946, 14′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
O “ritual é uma arte e, historicamente, toda arte deriva dos rituais”. Essa frase de Maya Deren, que expande os limites de seu interesse e de suas especulações artísticas, traduz o sentido e o propósito deste filme. Aqui, ela divide o protagonismo da cena, onde a personagem da dançarina é uma espécie de alterego numa busca ilusória e onírica. O caminho de sua transcendência passa pela dança, pela fuga e, finalmente, pela purificação simbólica da água.
Meat Joy (Carolee Schneemann, EUA, 1964 (re-editado em 2010), 11′, cor, 16mm, exibição em arquivo digital)
Segundo Schneemann, diretora do filme, “Meat Joy é um rito erótico – excessivo, indulgente, uma celebração da carne como matéria: peixe cru, frango, salsicha, tinta molhada, plástico transparente, cordas, pincéis, pedaços de papel”. Esta obra foi produzida a partir de imagens filmadas em 16mm de três apresentações da performance Meat Joy, em 1964. Os corpos aqui são a referência, guiando os movimentos de câmera e o ritmo da montagem. Além disso, procedimentos como justaposição de imagens também fazem referência à obra de Maya Deren.
Maria Esther: Danças na África (José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler, Brasil/Senegal/Mali/Togo/Benin, 1978, 40′, cor, Super-8, exibição em arquivo digital)
Um dos filmes que marcam a parceria entre José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler. Durante o tempo em que percorrem alguns países africanos, Maria Esther, dançarina e coreógrafa, amplia suas pesquisas corporais a partir do contato que trava com as culturas locais. O interesse de ambos pelo candomblé, pelo transe e pelos rituais de possessão é aqui aprofundado por meio do registro de sua presença no ambiente doméstico cotidiano.
22/5 | DOM | 19H
Sessão 4: O corpo místico + Performance “Ato”
Exibição de trechos filmados da pesquisa que Maya Deren efetuou no Haiti e que se encontram em parte reunidos no documentário “Divine Horsemen: The Living God of Haiti”, e exibição do curta “Candomblé no Dahomey”, acompanhada de performance em dança realizada ao vivo pela artista Kanezlumuka. Kanzelumuka é pesquisadora e docente, mestra e doutoranda em Artes (linha de pesquisa Estética e poéticas cênicas) pelo PPG-Artes/UNESP, co-fundadora e integrante da Nave Gris Cia Cênica.
Serão exibidos os filmes:
Divine Horsemen: The Living God of Haiti (Maya Deren, EUA/Haiti, 1947-1951/1981, 55′, pb, 16mm, exibição em arquivo digital)
Entre 1947-1951, Maya Deren está no Haiti graças a uma bolsa da fundação Guggenheim, para filmar manifestações ligadas ao vodu. Ela filma horas de material e imerge na cultura religiosa haitiana a ponto de, em 1953, publicar um livro sobre suas pesquisas e observações que acaba por se tornar uma referência sobre o assunto. A artista, no entanto, morre antes de completar seu filme. Em 1981, o músico Teiji Ito, viúvo de Deren, finaliza esta versão de Divine Horsemen: The Living God of Haiti, a partir das filmagens que ela havia feito décadas antes.
Candomblé no Dahomey (José Agrippino de Paula, Brasil/Benim, 1972, 23′, cor, Super-8, exibição em arquivo digital)
Em uma de suas viagens pela África, Agrippino para no Benim, antigo Daomé (ou Dahomey), e realiza este filme imersivo a partir de seu olhar sobre os corpos em transe de manifestações religiosas do candomblé.
Performance:
Ato
Na encruzilhada se presentificam espaços e temporalidades distintas, futuro-passado-presente coexistem. É nela, também, que nesta performance três experiências distintas se encontram através do cinema, da dança e ritos afro-atlântico-diaspóricos.
Kanzelumuka é artista (criadora-intérprete-pesquisadora-professora) da dança. Bacharela em Dança pela UNICAMP, mestra e doutoranda em Artes pela UNESP. Integrante e cofundadora da Nave Gris Cia Cênica. Kota Manganza no Inzo Musambu Hongolo Menha, casa de tradição Congo-Angola descendente de Joãozinho da Goméia, o que tem sido definidor na construção da identidade de sua pesquisa e criação artística. É pesquisadora do Grupo Terreiro de Investigações Cênicas (CNPq/UNESP). Fez parte do elenco da SeráQuê? Cia de Dança, da Cia. TeatroDança Ivaldo Bertazzo e da E² Cia. de Teatro e Dança
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