Yuruawï-do no jirau da casa de farinha. Aldeia do médio Ipixuna, 1982
De 30 de agosto de 2015 a 17 de janeiro de 2016, o Sesc Ipiranga apresenta ‘Variações do Corpo Selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo’: exposição homônima, com imagens de autoria do antropólogo, seminário envolvendo acadêmicos brasileiros e estrangeiros e uma ampla programação paralela, com shows, espetáculos de teatro, performances, atividades para crianças, dança e ciclo de cinema.
Com curadoria do escritor, crítico literário e professor Eduardo Sterzi e da escritora, crítica de arte e professora Veronica Stigger, a exposição exibe, pela primeira vez, cerca de 380 registros fotográficos feitos pelo antropólogo, agrupando imagens de dois momentos de sua trajetória: da fase de colaboração com artistas ligados à contracultura, como o cineasta Ivan Cardoso, o artista plástico Hélio Oiticica e o poeta Waly Salomão; do período marcado pelo trabalho como etnólogo, desenvolvido junto aos índios Araweté, Kulina, Yanomami e Yawalapíti. Ao mesclar esses dois universos, aproximando-os pela centralidade que o corpo adquire nas imagens, a linha curatorial enfatiza a questão da corporalidade, que está também na origem da reflexão antropológica do autor e que marca todo seu percurso intelectual.
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Leia entrevista com os curadores aqui
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É o próprio pensamento de Eduardo Viveiros de Castro, aliás, que organiza a mostra. O fio condutor é composto por trechos extraídos de seus ensaios e entrevistas, a fim de fornecer uma legibilidade à sua obra fotográfica como discurso figurativo paralelo a suas pesquisas etnológicas e a suas reflexões teóricas.
Para o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, “as imagens de Viveiros de Castro nos reavivam suas ideias e teorias, difundidas pelos livros, compêndios e estudos do autor. Os registros presentes em ‘Variações do Corpo Selvagem’ trazem os passos anteriores do antropólogo – uma rica produção imagética que, de certa forma, antecipa suas pesquisas e temas futuros”.
A exposição não se limita aos espaços expositivos do Sesc Ipiranga, estendendo-se a um trecho do Parque da Independência, às ruas Xavier Curado e Patriotas, assim como a sete estabelecimentos comerciais (bares, restaurantes, barbearia e o Mercado Municipal do Ipiranga).
Eduardo Viveiros de Castro
Eduardo Batalha Viveiros de Castro nasceu em 19 de abril de 1951, no Rio de Janeiro. Cursou a graduação em Ciências Sociais pela PUC-RJ e, em 1974, ingressou no Programa de Pós-graduação do Museu Nacional (UFRJ), com um projeto de Mestrado em Antropologia Urbana. No entanto, dois anos depois, uma breve visita a um povo indígena, os Yawalapíti, desviou-o para a etnologia indígena. Terminou seu Mestrado em 1977, sob orientação de Roberto DaMatta e com uma dissertação sobre este povo aruaque do Alto Xingu.
No ano seguinte, tornou-se docente do Museu Nacional, onde é hoje professor titular de Etnologia. Em 1984, obteve seu doutorado na mesma instituição, com uma tese sobre a cosmologia dos Araweté, um povo tupi-guarani do Pará, junto a quem residiu em 1981-82, e com o qual continua, desde então, em contato. A tese, premiada pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), foi publicada no Brasil (1986) e nos Estados Unidos (1992).
Seu trabalho posterior versou sobre temas etnológicos diversos (parentesco, corporalidade, cosmologia, guerra), abordados em uma série de artigos, entre os quais se destacam Alguns aspectos da afinidade no dravidianato amazônico (1993) – que teve grande impacto nos estudos de parentesco dessa região -, e sobretudo Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio (1996), traduzido para diversas línguas e incluído em uma antologia de textos-chave de Antropologia da Religião.
Foi professor associado nas universidades de Chicago (1991) e Manchester (1994). Em meados da década de 1990, criou as bases para a teoria do chamado “perspectivismo ameríndio”, quando, juntamente com a sua então orientanda de doutorado Tânia Stolze Lima, analisava os mitos ameríndios. Em seus estudos, ambos observaram, na maioria dos índios da América, uma perspectiva totalmente diferente do homem ocidental sobre o “humano” – perspectiva esta que interfere radicalmente nas formas de relação com o mundo, com os demais seres vivos e até com as coisas.
Para saber mais sobre a teoria do “perspectivismo ameríndio”, clique aqui.
Em 1997-1998, Viveiros de Castro ocupou a Cátedra Simón Bolívar de Estudos Latino-americanos da Universidade de Cambridge, quando se tornou também Fellow de King’s College. Entre 1999 e 2001, trabalhou como diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS, Paris), junto à Equipe de Recherche en Ethnologie Amerindienne, que o elegeu membro permanente. Foi também professor ou pesquisador visitante na Universidade de Paris X (Nanterre), na École Pratique des Hautes Etudes, na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, e na Universidade de São Paulo. Em 1998, recebeu o Prix de la Francophonie da Academia Francesa e, em 2004, o Prêmio Érico Vanucci Mendes do CNPq. Desde o ano passado, é doutor honoris causa da Universidade de Nanterre (Paris) e, atualmente, prepara o livro A Onça e a Diferença: Imaginário Conceitual da Amazônia Indígena.
Curadores
Eduardo Sterzi (Porto Alegre/RS, 1973) é escritor, crítico literário e professor de teoria literária na Unicamp. É mestre em Teoria da Literatura pela PUCRS, com dissertação sobre Murilo Mendes e a retórica do sublime, e doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, com tese sobre Dante Alighieri e a origem da lírica moderna. Durante o doutorado, em 2003, realizou estágio de pesquisa junto ao Dipartimento di Studi Romanzi da Università La Sapienza di Roma. Realizou estudos de pós-doutorado nesta última universidade e na USP. É autor dos volumes de estudos literários Por que ler Dante e A prova dos nove: alguma poesia moderna e a tarefa da alegria, ambos de 2008, e como escritor de ficção publicou Aleijão (2009), Prosa (2011) e Cavalo sopa martelo (2011). Publicará, em breve, Figuras do sublime: a retórica da catástrofe em Murilo Mendes.
Veronica Stigger (Porto Alegre/RS, 1973) é escritora, crítica de arte e professora de história da arte na FAAP. Doutorou-se em Teoria e Crítica de Arte pela Universidade de São Paulo (USP), com tese sobre a relação entre arte e rito na modernidade. Possui pós-doutorado pela Università degli Studi di Roma “La Sapienza”, pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, pesquisando, entre outros, Mira Schendel, Maria Martins e Flávio de Carvalho. Entre seus livros publicados estão Os anões (2010), Delírio de Damasco (2012) e Opisanie swiata (2013) – ganhador do Prêmio Machado de Assis 2013, da Fundação da Biblioteca Nacional, do Prêmio São Paulo na categoria Autor Estreante e do Prêmio Açorianos na categoria Narrativa Longa.
Programação Paralela
As influências de Viveiros de Castro em variados campos do conhecimento é um convite a uma exploração mais ampla de aspectos tangentes à sua produção. Assim, além da exposição, acontece uma extensa programação paralela, com apresentações de dança, teatro, música, cinema etc.
Consulte a programação completa aqui.
Seminário
Integrando ainda as atividades, nos dias 27 e 28 de outubro temos o seminário ‘Variações do Corpo Selvagem – em Torno do Pensamento de Eduardo Viveiros de Castro’, que reúne não somente antropólogos, mas, sobretudo, pesquisadores de outras áreas, especialmente do campo artístico, com o objetivo de realizar um balanço do alcance de sua teoria no pensamento contemporâneo. Além do próprio Viveiros de Castro, responsável pela conferência de encerramento, participam Patrice Maniglier, Bertrand Prévost, Tânia Stolze Lima, João Camillo Penna, Alexandre Nodari, Marília Librandi-Rocha, Roberto Zular, Pedro Neves Marques, Flávia Cera, Fred Coelho, Renato Sztutman, Pedro de Niemeyer Cesarino, José Miguel Wisnik, Idelber Avelar e Marco Antonio Valentim.
Para mais informações sobre a composição das mesas, currículos dos palestrantes e inscrições, clique aqui.
Lançamentos
Dois lançamentos de livros inserem-se na programação: “Onde a Onça Bebe Água”, de Veronica Stigger, em coautoria com Eduardo Viveiros de Castro, no dia 12/10 (feriado), às 17h; e “Metafísicas Canibais”, de Eduardo Viveiros de Castro, no dia 28/10, às 19h. Ambos editados pela Cosacnaify.
Para mais informações, acompanhe o evento de abertura da exposição no Facebook.
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