Leia a edição de agosto/22 da Revista E na íntegra
Numa cidade onde raízes de árvores rompem o chão de cimento, e uma flor nasce nas frestas de um trilho de trem, a poesia desafia o concreto e emerge aos olhos dos passantes. Versos rabiscados em muros, frases em lambe-lambes que abraçam postes de luz, desenhos a escalar empenas de prédios e outras intervenções poéticas nos aguardam, à espreita.
Aqui, a poesia habita vãos, esquinas, avenidas, praças, linhas de metrô, pontos de ônibus… Ela desperta, sorrateira, o trovador que existe em cada um de (tantos) nós. Ainda que desprevenidos de um lápis em punho ou qualquer tecnologia digital para registrá-los, os versos correm livres por São Paulo.
Pousam no chapéu que serve de vaso para plantas; provocam, com o vento, um abraço entre camisetas no varal; guardam a integridade de uma fileira de formigas a atravessar uma faixa de pedestres. Às vezes, é preciso fazer um esforço para alcançá-los. Mas, lá está: outra vida, outro objeto, outra situação a se metamorfosear. Ou como disse o escritor Manoel de Barros em Matéria de Poesia (1974):
E você, já se atentou para a poesia hoje? Neste almanaque, sugerimos percursos, lugares, leituras e atividades que desembocam em versos.
BATALHA POÉTICA
Slam das Minas
Criado em março de 2016, o Slam das Minas SP é um espaço de voz e de acolhimento para mulheres, travestis e pessoas trans compartilharem poemas que tratam de amores, dores e desafios diários. Além de ser um lugar de troca de ideias e de aprendizado, que tem a poesia como ponte para diálogos e conexões, o Slam das Minas SP é uma batalha poética realizada mensalmente, a partir da qual é possível conseguir uma vaga no Slam SP, campeonato estadual de poesia falada. E neste mês, dia 14 de agosto, às 15h, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), será realizada mais uma edição, que será a última, valendo uma vaga para a final, que acontece em setembro. A entrada é gratuita. Inscrições e mais informações: www.facebook.com/SlamdasMinasSP
Conheça também A língua quando poema – Uma coletânea de poemas latino-americanos (2022), publicação da Baderna Literária que traz textos de poetas latino-americanas participantes da 1ª Jornada Latines com a Slam das Minas SP, realizada em agosto de 2021. O livro é organizado por Carolina Peixoto e Pam Araújo e foi lançado em junho, no Sesc Pinheiros. Saiba mais: www.badernaliteraria.art.br/a-lingua-quando-poema.
Ao lado e abaixo, trabalhos do artista Augusto de Campos no Sesc 24 de Maio que compõem o Acervo Sesc de Arte, conjunto de obras que ficam expostas de forma permanente nas unidades do Sesc no estado de São Paulo. Fotos: Everton Ballardin
SARAU
A plenos pulmões
Como forma de incentivar a literatura escrita e falada, o sarau A Plenos Pulmões, idealizado por Marco Pezão, reúne poetas que desejam apresentar sua produção aos ouvidos de entusiastas dessa linguagem literária. O microfone fica aberto a todos, basta se inscrever presencialmente com os apresentadores, no dia do evento. Sob curadoria do poeta e articulador cultural Paulo D’Auria, a atividade, que é gratuita, será realizada no Jardim da Casa das Rosas (Avenida Paulista 37, Bela Vista, São Paulo – SP), dia 6 de agosto, sábado, das 16h às 18h. Informações: www.casadasrosas.org.br .
Foto: André Hoff
TEATRO
Chuva de poesias
Poemas de Manoel de Barros, Alice Ruiz, Fernando Pessoa, Paulo Leminski, entre outros gotejam na intervenção itinerante Chuva de poesias. Criada pelo Grupo Teatro Por um Triz, a ação é realizada por três atores que caminham com guarda-chuvas cantando e declamando poemas. Cada guarda-chuva abre para diferentes versos de autores e autoras. Depois de ter estreado em 2012, a intervenção segue respingando gotas de poesia nos últimos dez anos. Chuva de poesias será realizada de maneira itinerante em pontos do Bibliosesc, no Sesc Osasco. De 18/08 a 23/08, quinta, das 11h às 12h e das 14h às 15h. Saiba mais: www.sescsp.org.br/programacao/chuva-de-poesias.
Foto: Jean-Charles Mandou
LEITURA
Vamos comprar um poeta
Numa crítica bem-humorada à visão utilitarista da vida, o escritor português Afonso Cruz conta a história de uma família que decide “comprar” um poeta e levá-lo para casa, como se fosse um “animal de estimação”. O que acontece, no entanto, é que a ordem e os números que antes regiam o cotidiano desarranjam-se a partir das perguntas e versos declamados pelo poeta, gerando mudanças internas e nas relações entre os moradores da casa. O autor esteve presente na 26ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde falou sobre Vamos comprar um poeta (Dublinense, 2020, 96 páginas) e outras obras.
Imagem: Editora Dublinense/Divulgação
A EDIÇÃO DE AGOSTO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!
Neste mês, quando o mundo comemora o Dia Internacional da Juventude (12/08), o Sesc São Paulo promove mais uma edição da Juventudes: Arte e Território, ação que segue até dezembro discutindo e incentivando a potência das produções culturais das diferentes juventudes. Em reportagem desta edição, damos voz a iniciativas artísticas, em todo o estado de São Paulo, que provam que a arte, em suas diferentes linguagens, dá vazão à expressão e ao potencial criativos dos jovens, impactando os territórios que habitam.
Além dessa reportagem, a Revista E de agosto/22 traz outros conteúdos: um texto sobre os desafios e a importância da amamentação para a saúde dos bebês e o vínculo entre mães e filhos; uma entrevista em que a escritora portuguesa Isabel Lucas, que esteve presente na 26ª Bienal do Livro, defende a literatura como um mapa para se conhecer um país; um depoimento de Davi Kopenawa sobre a defesa da cultura indígena e a preservação da floresta; um passeio fotográfico pelos trabalhos de Eustáquio Neves, artista que reflete sobre o lugar histórico dos afrodescendentes e cuja obra será celebrada em exposição no Sesc Ipiranga, a partir de setembro; um perfil que mergulha no legado plural de Flávio de Carvalho (1899-1973), multiartista que protagoniza uma exposição no Sesc Pompeia, a partir do fim de agosto; um encontro com Renato Maluf, pesquisador que aponta os rostos da fome no Brasil; um roteiro por lugares, atividades e intervenções que espalham poesia pela cidade de São Paulo; um conto inédito da escritora Ieda Magri, intitulado “Vida e amores da senhorita X”; e dois artigos que relacionam língua, discursos e diversidade: Gabriel Nascimento escreve sobre racismo linguístico e Dri Azevedo, sobre linguagem neutra.
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