Viveiro educador. Foto: Instituto Refloresta
Por João Carlos Seiki Nagamura*
Provavelmente, a primeira ideia que surge quando se ouve falar em “espaço educador” seja uma escola ou, mesmo, uma sala de aula. Entretanto, não é difícil compreender que a nossa educação e formação ocorre nos mais diferentes lugares e situações do cotidiano; afinal, a aprendizagem é um processo que acontece, momento a momento, ao longo de toda nossa vida.
Dessa forma, em termos de Educação Ambiental, é apropriado considerar que todos os ambientes, naturais ou construídos, trazem em si um potencial educador, pois eles são capazes de proporcionar estímulos e experiências, que levem a uma reflexão/ação para questões relacionadas à sustentabilidade.
Pense, por exemplo, numa praça, numa padaria, num posto de gasolina…todos esses locais, cada qual com suas próprias características, trazem em si uma riqueza de possibilidades para descobertas e reflexões, individuais e coletivas, com o poder de provocar e transformar.
Entretanto a mera existência do potencial educador e que, eventualmente, possa se expressar nesses locais, não é suficiente para lhes conferir uma condição de “educador”. Para que um espaço se torne um “espaço educador” é preciso que exista a intenção, um propósito educativo.
Os viveiros florestais ou de plantas, em geral, são locais dedicados à produção de mudas de forma planejada e eficiente. O objetivo é proporcionar todos os cuidados necessários para que as mudas adquiram tamanho e boas condições para suportarem as adversidades que enfrentarão no local definitivo de plantio. No dia a dia do viveiro, o trabalho está relacionado ao preparo de substrato, semeio, irrigação, adubação, controle de doenças, insetos e plantas indesejadas, seleção e preparação de lotes, entre outras atividades.
É muito interessante e pertinente constatar que os viveiros têm uma vocação natural para se constituírem como espaços educadores. Eles abrigam elementos e processos extremamente ricos para quem deseja promover a aprendizagem. Os quatro elementos clássicos da natureza: a terra, a água, o ar, o fogo (representado pela luz e calor do sol), por exemplo, estão ali, vividamente presentes em múltiplas interações conduzindo um extraordinário processo vital, da semente à muda.
Além disso, os viveiros funcionam em ambientes ao ar livre e são, potencialmente, bonitos e agradáveis, proporcionando um ambiente estimulante, repleto de elementos para serem descobertos por meio de práticas e vivências.
Espaço educador ao ar livre. Foto: Instituto Refloresta
Mas como tornar um viveiro tradicional um Viveiro Educador? Como já foi mencionado, o passo fundamental é que ele tenha uma intencionalidade educadora. Ou seja, é necessário identificar quais são as transformações individuais e coletivas que o espaço poderá proporcionar para as pessoas, a partir daquilo que os educadores gostariam de promover e considerando os interesses do público em relação ao local.
Possivelmente, a dinâmica de trabalho produtivo no viveiro deverá sofrer algumas adaptações visando o bom convívio com a presença do público participante das atividades. Da mesma forma, é importante que as condições de acesso e mobilidade contemplem diferentes públicos e favoreçam o desenvolvimento de atividades coletivas. Isso inclui, cuidado um especial com a comunicação visual, pois em muitas situações ele poderá estar aberto para visitas autoguiadas.
No Viveiro Educador, os processos (preparação de substrato, semeio etc.), as estruturas convencionais (sementeiras, canteiros etc.) e a produção (mudas nativas) serão, naturalmente, aproveitadas nos processos educativos. Esses elementos abrem caminho para tratar de temas ligados à biodiversidade, conservação florestal, arborização e bem-estar nas cidades, desmatamento e restauração ecológica, entre outros.
Por outro lado, é interessante pensar também em outras estruturas que possam ser, de forma coerente, agregadas ao contexto do Viveiro Educador e que permitam ampliar as suas abordagens. Uma composteira, por exemplo, possibilitará que questões sobre consumo e resíduos sejam vivenciadas de forma mais clara e estimulante. De quebra, o composto gerado poderá ser utilizado na produção das mudas, permitindo com isso que novas conexões e relações de interdependência sejam reconhecidas. Um ponto chave para se refletir sobre sustentabilidade.
O funcionamento de uma composteira representa, portanto, o aproveitamento intencional de uma potencialidade do Viveiro Educador. Assim como ela, existem muitas outras estruturas, algumas delas bem simples, a serem pensadas e experimentadas: uma coleção de sementes é um material sensacional para dialogar sobre biodiversidade; um meliponário traz luz à relação dos animais e plantas, as ameaças e impactos da extinção de espécies; um canteiro de plantas aromáticas e medicinais abre caminho para se compartilhar experiências sobre alimentação e saúde com a comunidade.
Coleção de diversas sementes. Foto: Instituto Refloresta
Uma outra dimensão a ser considerada no Viveiro Educador é o seu papel de desencadear ou facilitar a articulação da comunidade em que está inserido. Com, ou a partir dele, espera-se que sejam desenvolvidas ações e projetos onde os envolvidos tenham o poder de influenciar e transformar, estimulados ao exercício de uma postura ativa e cidadã.
* João Carlos Seiki Nagamura é engenheiro florestal e faz parte do Instituto Refloresta, que busca promover e disseminar valores, conhecimentos e atitudes que contribuam para a sustentabilidade, por meio da produção, conservação e restauração florestal.
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